sexta-feira, 28 de novembro de 2014

FURTO DE MOCHILAS EM UNIVERSIDADES DO RIO

Do G1 Rio 28/11/2014 06h31

Vídeo mostra suspeito de furto de mochilas em universidades do Rio. Homem teria efetuado roubos em menos de 30 minutos em 2 faculdades. Câmeras registraram jovem saindo com mochila diferente da que entrou.





Alunos de universidades da Zona Sul do Rio estão assustados com roubos dentro das salas de aula. Na última segunda-feira (24) um único homem efetuou dois roubos em menos de 30 minutos em duas universidades diferentes, segundo vítimas. Ao procurar imagens de câmeras de segurança, um dos furtados, Danilo Machado, de 19 anos, aluno de administração pública da UniRio, em Botafogo, reconheceu sua mochila e conseguiu a imagem de um suspeito (veja acima).

O vídeo mostra que o homem entra na UniRio com uma mochila azul (pertencente a outra vítima) e sai com uma mochila vermelha (de Danilo). Ao divulgar a imagem do ladrão nas redes sociais e grupos da UniRio, constatou-se que ele não era conhecido dos estudantes.

Danilo contou que pouco antes de a aula começar, por volta das 15h40, se retirou da sala para resolver problemas pessoais. Ele diz que pediu que amigos olhassem seu material. Ao retornar, no entanto, foi surpreendido ao não encontrar a mochila. O ladrão deixou outra mochila no mesmo lugar, segundo Danilo.

Ao vasculhar o interior da mochila deixada, o jovem encontrou um caderno onde estava escrito um e-mail, que imaginou ser do dono do material roubado. Entrou em contato com Vinícius Santos, de 36 anos, dono do endereço eletrônico, e constatou que ele também havia sido vítima do mesmo homem minutos antes.

Furto na biblioteca

Vinícius é aluno de fisioterapia do Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação (IBMR), no Catete, Zona Sul, e foi furtado dentro da biblioteca da sua universidade quando procurava um determinado livro para estudar. Segundo a vítima, o roubo aconteceu por volta das 15h20 e somente uma das sete pessoas que estavam na biblioteca percebeu a movimentação do ladrão, mas mesmo assim não se manifestou por achar que ele tinha boa aparência.

Na mochila de Danilo havia objetos pessoais e um notebook, que seria utilizado em uma apresentação. Na de Vinícius havia roupas, livros, um caderno e sua carteira com cartões de crédito e cerca de R$ 500, segundo ele. Apenas os objetos sem valores ficaram na mochila substituída.

As duas vítimas disseram que registraram o furto na 10ª DP (Botafogo). A Polícia Civil informou que o caso foi registrado como crime de furto no interior de estabelecimento de ensino e que os agentes solicitaram as imagens das câmeras de segurança do estabelecimento para análise. Danilo diz que conseguiu com a reitoria as imagens e que conseguiu identificar um homem, que parecia um estudante da unidade.

As vítimas reclamaram da fácil acessibilidade das pessoas no interior de ambos os campus. Eles informaram que falta segurança. “Assim como aconteceu isso, pode acontecer um assassinato facilmente”, disse o aluno do IBMR, Vinícius Santos.

Sindicância aberta

Em nota a UniRio informou que será aberta uma sindicância para apurar os fatos a partir da análise das imagens e da convocação dos responsáveis pela vigilância patrimonial. A universidade disse ainda, que as câmeras instaladas no campus são uma medida de segurança que visa prevenir e esclarecer esse tipo de problema. No caso em questão, a UniRio disse, que as imagens capturadas que permitiram esclarecer o ocorrido.

O Centro Universitário IBMR confirmou o registro do incidente na biblioteca das dependências do Campus Catete no dia 24 de novembro. A instituição lamentou o ocorrido e informou que conta com uma equipe que zela pela segurança de suas unidades, além de recomendar que os estudantes não deixem seus pertences desassistidos dentro de suas instalações. O IBMR destacou ainda que possui guarda-volumes na Biblioteca.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

ABUSOS SEXUAIS NA FACULDADE DE MEDICINA DA USP

TV GLOBO, FANTÁSTICO - Edição do dia 23/11/2014


Relatório aponta casos de abusos sexuais na Medicina da USP. Ao Ministério Público, já chegaram denúncias de oito casos de abusos sexuais na Faculdade de Medicina da USP.






O Fantástico revela as conclusões do relatório que apontou barbaridades que ocorrem na principal universidade do país.

A melhor faculdade de Medicina do país, referência em ensino e pesquisa, é alvo de denúncias. Abusos sexuais, violência recorrente contra calouros no trote, racismo. Tudo isso, segundo os acusadores, dentro de instalações da Universidade de São Paulo, a USP.

“Eles começaram a me beijar, a passar a mão nas minhas partes íntimas, nos meus seios, enfiaram a mão dentro na minha calça”, disse uma estudante.

“Não tenho memória mais do que aconteceu. Eu fui acordar no hospital em um atendimento do pronto-socorro”, contou outra estudante.

Esses depoimentos foram dados por estudantes em uma audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo, em 11 de novembro.

Ao Ministério Público, já chegaram denúncias de oito casos de abusos sexuais na Medicina da USP.

“É um processo muito desgastante. Elas ficam muito expostas”, disse Ana Luiza Cunha, do coletivo feminista Geni.

A promotoria de Justiça de Direitos Humanos do Ministério Público de São Paulo abriu uma investigação para apurar denúncias de atos de exclusão, violência física e moral dentro da faculdade de Medicina da USP. A promotora do caso, Paula de Figueiredo, relata que as vítimas procuraram a diretoria, fizeram denúncias, mas não encontraram apoio.

Na última terça-feira (18), a delegacia da mulher indiciou um homem acusado de estuprar uma aluna da faculdade durante uma festa no campus em 2011. Ele era funcionário terceirizado da USP e trabalhava durante o evento, organizado pelo Centro Acadêmico da faculdade.

Diante de tantas denúncias, a Congregação da Medicina, órgão máximo da faculdade, formou uma comissão de professores, funcionários e alunos para apurar os abusos e propor caminhos que acabem com os casos de estupro e intolerância dentro da faculdade.

A coordenação da comissão ficou sob responsabilidade do professor titular Paulo Saldiva, um pesquisador de renome internacional. No dia 11, ele pediu afastamento do cargo de professor titular do curso de Medicina por discordar de como a direção da faculdade conduzia o processo.

“A gente podia ter sido melhor, bem melhor. Faltou um pouco a gente abrir um espaço, abrir a porta da sala, para que um aluno venha e manifeste seus problemas”, disse Paulo Saldiva, ex-presidente da comissão.

“É uma decisão dele, pessoal. Ele sempre teve todo o apoio da direção da casa. Nós estamos preocupados com isso. Tanto que criamos a comissão, presidida por ele”, destaca José Otávio Costa Auler Jr, diretor da Faculdade de Medicina.

Com a saída de Saldiva, o professor de clínica geral Milton de Arruda Martins assumiu a coordenação do grupo.

“Saber que uma aluna foi estuprada em uma festa e ela não se sentiu acolhida pela nossa instituição é uma coisa que chama a nossa responsabilidade, com certeza”, disse o professor Milton de Arruda Martins, presidente da comissão.

Após cinco meses, a comissão finalizou nesta semana um relatório sobre os casos de abusos. O documento avalia que “O retrato do que se passa no complexo da faculdade (...) não é nada abonador para instituição".

“Dá para afirmar que existem sérios problemas nos cursos de Medicina”, destaca o professor Milton.

Logo no primeiro item, o grupo aponta: "A violência sexual ocorre de forma repetida na faculdade".

Segundo denúncias feitas à comissão, "houve relatos de financiamento de atividades com prostitutas" nas festas e que "o abuso moral é prática constante" na faculdade

O documento também relata que "as dependências do complexo experimentam rotineiramente situação de consumo excessivo de drogas lícitas, ilícitas e de prescrição" ou seja, remédios que precisam de receita médica.

A audiência pública da Assembleia Legislativa que você viu no começo desta reportagem aconteceu no mesmo dia em que o Doutor Paulo Saldiva pediu afastamento do cargo de professor titular. Durante a audiência, as alunas contaram detalhes das festas.

“Eu gritava para que eles parassem. Um deles ficou muito bravo comigo, ele gritava pra eu parar de fazer aquilo porque ele sabia que eu tava querendo”, disse uma aluna.

“Alunos da própria faculdade cantavam que ‘estupro sim, o que é que tem? Se reclamar vou estuprar você também’”, conta outra aluna.

O deputado estadual que convocou a audiência diz que houve tentativas de cancelar o evento.

Fantástico: Quem pediu ao senhor que a audiência não fosse realizada?
Adriano Diogo, deputado estadual: O diretor da faculdade.
Fantástico: O que ele disse?
Adriano Diogo: Que não realizasse a audiência. Que não realizasse. Que eu não podia envolver o nome da instituição nessas práticas. Ele mesmo ligou.

“Isso é uma mentira. É uma mentira do parlamentar”, afirma José Otávio Costa Auler Jr, diretor da Faculdade de Medicina.

O diretor da faculdade diz que pediu apenas que a audiência fosse realizada em outra data.

“Eu disse a ele apenas isso: ‘Deputado, neste momento, eu preciso de uma posição oficial da faculdade. Se o senhor quiser esperar, o senhor que decide. Eu não posso ir sem uma posição oficial da faculdade’”, disse o diretor da faculdade de Medicina.

Na próxima quarta (26), a congregação, o órgão máximo de cada unidade da USP, deve se reunir para analisar o relatório.

Enquanto isso, as festas na faculdade de Medicina estão proibidas, uma medida que tem o apoio da Atlética e do Centro Acadêmico.

“A gente tem que rever como que a gente tem trabalhado dentro da faculdade”, afirmou Murilo Germano, presidente do Centro Acadêmico.

“A nossa grande preocupação é que isso não volte a acontecer. Um estupro é caso de polícia, não é caso de faculdade”, disse Diego Pestana, presidente da Atlética.

No relatório, o grupo propõe que as festas, quando voltarem a ocorrer, não tenham destilados nem sejam 'open bar', aquelas em que se paga um preço fixo para beber o quanto quiser.

O relatório também sugere a criação de uma instância permanente para que casos de abusos sexuais possam ser denunciados, investigados e punidos.

Fantástico: A Faculdade de Medicina falhou com essas meninas?
Diretor: Eu não diria que a faculdade falhou porque o que chegou ao nosso conhecimento, nós apuramos. Eu acho que é um momento de reflexão. A partir desta semana, nós vamos ter um novo momento, um novo projeto para a faculdade de Medicina.

“A gente não pode deixar que isso volte a acontecer. Na nossa casa? Como assim? Não posso deixar isso acontecer na escola que eu frequento”, destacou o presidente da Atlética.

sábado, 22 de novembro de 2014

VIOLÊNCIA CRÔNICA DA FACULDADE DE MEDICINA DE SP

REVISTA EXAME, 22/11/2014 09:24

Relatório indica violência crônica na FMUSP



Cecília Bastos /Jornal da USP/ USP Imagens


USP: a FMUSP informou, na última semana, que criará um Centro de Defesa dos Direitos Humanos

Do Estadão Conteúdo

São Paulo - O relatório final produzido por comissão interna da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) apontou que a violência sexual "ocorre de forma repetida" no espaço da instituição. Além disso, há relatos de racismo, uso de drogas e consumo abusivo de álcool. O documento, com propostas de mudanças na universidade, foi enviado anteontem aos membros da congregação da FMUSP e deverá ser votado na quarta-feira, 26, como revelou ontem o jornal Folha de S. Paulo.

Em um dos cursos mais concorridos da USP, professores e alunos afirmaram que o abuso moral é prática constante. Uma das principais preocupações é a recepção dos calouros, evento em que casos de violência costumam acontecer.

Na última semana, duas alunas relataram ter sido estupradas em festas da FMUSP, durante audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Um dos casos aconteceu há três anos. O agressor foi indiciado pela polícia nesta semana, como revelou o Estado.

Nas festas, o relatório afirma que "há intenso consumo de álcool durante toda a semana". A situação também é grave quando mencionado o uso de drogas. "Experimentam rotineiramente situação de consumo excessivo de drogas lícitas, ilícitas e de prescrição."

Propostas. O documento propõe medidas para melhorar a situação da universidade e influenciar "o processo de mudança de atitudes e valores voltados ao respeito, ética e dignidade" nas escolas médicas do País. Entre elas, está a criação de regras para consumo de álcool nas dependências do complexo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP).

Outra proposta é a criação de instâncias para acolhimento de denúncias, apoio às vítimas e apuração dos fatos. A FMUSP informou, na última semana, que criará órgão com essas funções, chamado Centro de Defesa dos Direitos Humanos. Há ainda sugestão de ampliar os sistemas de vigilância eletrônica.

A médio e longo prazos, os membros da comissão propuseram medidas apresentadas por alunos na audiência da Alesp, como a incorporação de conteúdos de direitos humanos nas atividades da universidade. Há ainda sugestão de revisão nas atividades de recepção dos calouros e criação de regras para autorização de festas.

Em nota, a FMUSP "reafirmou seu compromisso com o combate a qualquer tipo de abuso, seja físico ou moral" no câmpus. A instituição afirmou que abriu sindicância para apurar todos os casos que foram denunciados, além de criar comissões para apurar a situação e propor soluções. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

MEDICINA VIOLENTA

O Estado de S.Paulo 17 Novembro 2014 | 02h 03

OPINIÃO



Considerada a melhor do gênero no País e com prestígio internacional, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) está envolvida em graves denúncias de violência sexual e agressão a mulheres. O Ministério Público Estadual (MPE) menciona a ocorrência de oito estupros nos últimos anos. A situação dentro da faculdade é tão difícil para as alunas, por causa da continuidade dos abusos e de sua impunidade, que algumas sentiram a necessidade de criar um grupo - o Coletivo Feminista Geni - para se protegerem da violência praticada desde o trote e que se perpetua ao longo do curso, sobretudo nas festas. É lamentável que tudo isso esteja ocorrendo em um ambiente no qual se formam pessoas que passarão a vida cuidando de pessoas. Não se pode tolerar esse tipo de comportamento criminoso.

A gravidade das denúncias levou a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) a realizar uma audiência pública, na qual duas alunas da FMUSP relataram estupros sofridos em 2011 e 2013 em festas promovidas por alunos da "Pinheiros", nome pelo qual é conhecida a FMUSP em razão da sua localização. Uma das estudantes, de 24 anos e atualmente no 4.º ano da faculdade, afirmou ter sofrido dois estupros ao longo de 2011 em festas organizadas pelo Centro Acadêmico Oswaldo Cruz. Segundo a aluna, que integra o Coletivo Feminista Geni, um dos episódios aconteceu na semana de integração de calouros. No fim da festa, ela foi abordada por um rapaz que a levou para uma sala de materiais, escura. "Ele começou a me agarrar, a tentar me beijar", relatou. O segundo aconteceu numa festa também organizada dentro de uma área de propriedade da USP.

Outra aluna do grupo Geni relatou a forma como os trotes são feitos. "Eles separam as meninas dos meninos, colocam elas sentadas no chão e formam uma roda em volta, em pé." Em seguida, os rapazes - na maioria, veteranos - entoam um hino que contém apologia ao estupro. "Muitas delas falam que ficam com muito medo", disse a estudante.

Ao relatarem os casos, as alunas se referiram à existência de um pacto de silêncio. Garantiram que nenhum dos casos havia sido apurado e que, ao fazer as denúncias, sofreram perseguição de outros alunos. De acordo com os estudantes de Medicina ouvidos na audiência pública, a violência sexual é "internalizada" na cultura da FMUSP logo no primeiro ano.

Na audiência realizada na Assembleia, pela primeira vez as alunas se dispuseram a falar sobre os episódios em público. Antes, os relatos sobre os casos eram feitos apenas em particular, para amigos ou familiares. Diante dessas denúncias, foi instaurado inquérito pelo MPE, que solicitou à FMUSP informações sobre os trotes violentos e a violação de direitos humanos nas festas.

É inaceitável que situações como essas existam numa instituição do renome e da tradição da FMUSP. Tais atos são crimes e tolerá-los - como se fossem algo de menor importância, porque praticados num clima universitário onde as regras não seriam tão "rígidas" - equivale à cumplicidade. E esta exige punição exemplar. A mentalidade de que a preservação da imagem de uma instituição aconselharia "prudência" ou silêncio é - não há outra palavra - criminosa, pois o ambiente de impunidade é propício à perpetuação desses atos. Prestígio se constrói com competência e transparência, não com silêncios cúmplices.

Infelizmente, não é de hoje, nem está restrito à Faculdade de Medicina da USP, esse tipo de comportamento e de mentalidade que desrespeita e agride as mulheres. É hora de repensar a educação no âmbito tanto das famílias como das escolas e das universidades. Não é hora de contemporizar.

Violência sexual é crime, quer seja entre desconhecidos, quer seja entre colegas de uma faculdade. Minimizar a sua gravidade, aconselhar silêncio, fingir que foi simplesmente uma atitude "que passou um pouco dos limites" - e por isso não exige punição - são atitudes condenáveis. Inaceitáveis em qualquer tempo e em qualquer lugar, mas muito especialmente numa faculdade de medicina.


FONTE: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,medicina-violenta-imp-,1593887http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,medicina-violenta-imp-,1593887

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

CASOS DE ESTUPRO SE MULTIPLICAM EM UNIVERSIDADES

G1 FANTÁSTICO Edição do dia 28/09/2014

Alunas lutam contra violência sexual com mulheres em universidades. Casos de estupro têm se multiplicado em universidades do país. Alunas criam grupos para dar apoio a vítimas e tentar acabar com esse tipo de violência.






A atitude de um grupo de estudantes de uma universidade pública em Minas Gerais gerou polêmica. Eles cantaram uma música que incentiva o estupro em um lugar onde havia outras estudantes. Essa história aconteceu na mesma semana em que uma universitária americana chamou a atenção pela forma como resolveu protestar contra um suposto agressor sexual.

Belo Horizonte, sábado passado. As amigas Luísa e Marcela estavam em um bar. “Foram chegando outros jovens também e muitos deles identificados com a camisa da Bateria Engrenada da UFMG”, conta Luísa Turbino, estudante da UFMG.

A bateria é um grupo musical formado por estudantes de engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais. Esse tipo de grupo - ou charanga, como também é chamado - se apresenta em festas da faculdade. Só que as músicas, naquela noite, chamaram a atenção.

“Eram músicas de conteúdo sexual que denegriam as mulheres. Principalmente de outras universidades”, lembra Marcela Linhares, analista internacional.

“Em determinado momento começou um grupo menor, começou a cantar a frase: ‘Não é estupro, é sexo surpresa’”, afirma Luísa.

“Eu fiquei muito chocada, muito triste, que as pessoas pudessem considerar aquilo uma brincadeira”, lamenta Marcela.

“Nessa hora, a revolta bateu, a gente já pediu a conta e foi embora do bar”, lembra o namorado de Luísa Daniel Arantes Castro.

Ouvir aquela música foi tão desconcertante que quando a Luísa chegou em casa, ela não conseguia pegar no sono e decidiu: na madrugada mesmo, fez um protesto nas redes sociais. “Mais triste ainda foi ver mulheres envolvidas na cantoria e mais ainda, perceber que ninguém se sentiu incomodado”, diz Luísa ao ler o protesto.

Mas o incômodo se espalhou entre os alunos depois da postagem de Luísa, que cursa o mestrado de Direito da UFMG. Em nota, a Bateria Engrenada afirma ‘lamentar profundamente’ o episódio. Diz que ‘não ignora o ocorrido e que está apurando’ o caso.

A universidade afirma que espera mais informações para abrir um processo administrativo. “Nós esperamos que os alunos, que supostamente estão envolvidos nesse episódio, nos apresentem um relato do que de fato aconteceu”, afirma Sandra Goulart Almeida, vice-reitora da UFMG.

O assunto estupro em universidades também ganhou força nas últimas semanas nos Estados Unidos, como mostra a repórter Renata Ceribelli.

Os casos de estupro e agressão sexual dentro dos campus das universidades viraram assunto de Estado. O Departamento de Educação dos Estados Unidos, a pedido do presidente Barack Obama, está investigando 78 universidades suspeitas de ignorar denúncias feitas por estudantes.

Uma delas virou símbolo dessa luta, e estuda na Universidade Columbia, uma das mais importantes do país. Emma diz que foi estuprada por um colega no quarto da universidade. Ela denunciou o caso à direção, que considerou o estudante inocente. Para protestar, Emma agora só anda pelo campus da universidade carregando o colchão onde teria acontecido a agressão.

“Eu vou levar o colchão comigo enquanto eu frequentar o mesmo campus que o meu estuprador”, conta a estudante.

Um relatório divulgado pelo governo americano mostra que uma em cada cinco mulheres sofreu abuso sexual na faculdade.

Depois da repercussão da história de Emma na imprensa, a Columbia agora obriga os alunos ouvir palestras sobre violência contra as mulheres. O brasileiro Guilherme, estudante de Direito, participou de uma delas. “Não é só porque está em silêncio, um não, um não meio assim, a menina está um pouco bêbada, significa que você pode fazer o que você quiser. Então eles entraram bem a fundo, educação mesmo”, explica Guilherme de Aguiar Franco, estudante.

Emma e outros estudantes montaram um grupo para ajudar outras vítimas de violência no campus. Uma iniciativa que também está acontecendo no Brasil, onde esses grupos são conhecidos como ‘coletivos’.

Um deles é o Coletivo Feminista Gení, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a USP. “Como nunca foi construída na faculdade essa cultura de acolhimento das vítimas, muitas vítimas também não se sentiam à vontade para falar sobre uma violência que elas tinham sofrido”, conta Ana Luísa Cunha, estudante de medicina da USP.

O grupo foi criado no final do ano passado, a partir da denúncia feita por uma estudante. O abuso, segundo ela, aconteceu em uma festa dentro da USP no em novembro de 2013. “Bebi bastante. Eu não estava inconsciente. Eu estava consciente. E aí dois meninos chegaram em mim e tentaram me convencer para ir no estacionamento com eles. E eu falava, não quero. E ele falava: ‘Você quer sim, eu sei que você quer. Eu sei que você gosta’”, lembra a jovem.

Ela diz que estava tonta por causa da bebida e que não conseguiu resistir. “Eles me beijaram, enfiaram a mão dentro da minha calça. Passavam a mão, tudo. Por dentro da roupa. E eu lembro nitidamente na hora que eu estava gritando que não queria e um deles ficou bravo, falou assim: ‘Para de gritar! Para de gritar!’”, conta.

A estudante escapou quando uma colega apareceu. “Ela viu que estava estranho, veio ver o que aconteceu e me chamou. Nisso que ela me chamou eu consegui sair”, afirma.

Quatro dias depois, ela foi aconselhada por amigas e por um professor a fazer um boletim de ocorrência na polícia. E, com ajuda do coletivo, a aluna levou o relato até a direção da faculdade.

“A partir da pressão que a gente fez, foi criada uma comissão para apurar questões de violência dentro da faculdade, entre elas violência contra a mulher”, conta Marina Souza Pickman, estudante de Medicina da USP.

Uma sindicância interna foi aberta em junho deste ano, seis meses depois da denúncia. A investigação está sob sigilo. Em nota, a Faculdade de Medicina da USP afirma que está ‘empenhada em aprimorar seus mecanismos de prevenção de casos de violência’. Diz também que ‘irá adotar punições disciplinares de acordo com o código de ética da USP’.

Fantástico: Eles têm culpa?
Vítima: Têm culpa.
Fantástico: E você se sente culpada?
Vítima: Eu já me senti culpada. Hoje eu não me sinto mais.

“Ninguém tem direito sobre o corpo do outro. Não é? Quer dizer, as meninas podem beber até cair, porque elas bebem ou porque os outros, algum outro fez com que ela bebesse, mas isso não quer dizer que o corpo dela esteja a disposição de ninguém”, afirma Miriam Abramovay, socióloga.

Não existem estatísticas sobre agressões sexuais em universidades brasileiras. Mas os casos se repetem por todo o país: Acre, Bahia, Espírito Santo, Paraíba, Piauí, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio Grande do Sul, São Paulo. Agressões cometidas pelos próprios estudantes e por pessoas de fora da universidade, que entram nos campus por falta de segurança.

“A universidade é responsável também. E ela tem que pensar estratégias de combate para todo tipo de violência”, afirma a socióloga.

É a insegurança e a falta de respeito às mulheres que os coletivos combatem em diversos estados. No Coletivo Iara, da Universidade Federal do Paraná, alunas conseguiram fazer com que a bateria do curso de Direito parasse de cantar músicas machistas na recepção aos calouros.

“A partir do momento que a bateria canta isso e isso gera um coro, isso também afeta diretamente as mulheres. Só uma reiteração realmente da violência que ocorre na universidade”, diz Barbara Cunha, estudante de Direito da UFPR.

Enquanto os autores do refrão ‘não é estupro, é sexo surpresa’ não são identificados e punidos, a Banda Feminista da Universidade Federal de Minas Gerais dá a resposta: canta contra o preconceito. “Eles me disseram algo que me deu tristeza, que estupro na verdade é sexo surpresa. Dá uma olhada nisso, é de se indignar. Isso é cultura do estupro e contra isso eu vou lutar. Fora machismo”, cantam as meninas da banda.

sábado, 27 de setembro de 2014

CAMPUS SEM LEI

REVISTA ISTO É N° Edição: 2340 | 26.Set.14


Série de crimes tendo como palco a Universidade de São Paulo expõe o clima de violência e insegurança a que estão expostas as 100 mil pessoas que frequentam diariamente a maior instituição de ensino do País




Mais uma suspeita de crime tendo como cenário a Universidade de São Paulo (USP), na zona oeste da capital paulista, na semana passada, jogou luz sobre o espantoso aumento da violência e a insegurança reinante no campus da maior instituição de ensino superior do País. Neste ano, o número de roubos no campus Butantã, o principal da USP, mais que dobrou. De janeiro a agosto deste ano foram registradas 70 ocorrências pela Guarda Universitária, responsável pela segurança do local, contra 30 em 2013. Em três delegacias vizinhas, onde muitos dos crimes podem ter sido notificados, foram 42 estupros só até o mês passado. Em 2013, esse número foi de 40. Índices de roubos, furtos e assaltos também tiveram crescimento semelhante. Na tragédia mais recente, o corpo do estudante Victor Hugo Marques Santos, de 20 anos, foi achado na raia olímpica na terça-feira 23. O jovem estava desaparecido desde a madrugada de sábado 20, quando participou de uma festa para 5 mil pessoas organizada pelo Grêmio da Escola Politécnica no velódromo do clube do campus, o Cepeusp. “Frequento festas lá e vi situações iguais várias vezes. Assaltos, estupros, sequestros. A USP é uma terra de ninguém”, diz Vinícius Costa, 33, primo de Victor Hugo, que estudava design no Senac. O episódio escancarou as falhas de segurança do campus, a começar pelo corpo policial, 40 homens com a missão de zelar por uma população de 100 mil pessoas.



Já há algum tempo as ruas arborizadas da Cidade Universitária são locais perigosos. Recentemente uma série de mortes vem chocando os membros da universidade líder em pesquisas no País. O mais rumoroso aconteceu em 2011, quando o estudante de ciências atuariais Felipe Ramos de Paiva, 24 anos, foi morto com um tiro na cabeça numa tentativa de assalto no estacionamento da FEA, a Faculdade de Economia e Administração da USP (veja outros casos na pág. 60). A principal queixa de alunos, professores e funcionários é a falta de iluminação, que deixa uma grande parte das ruas do campus vazia e escura à noite. “As novas luzes no estacionamento da FEA ficaram ótimas, mas parou por aí. Quando preciso pegar ônibus ou caminhar até outra unidade para pegar o carro, eu sinto medo”, diz Larissa Andreotte Carvalho, que está no terceiro ano do curso de administração de empresas. As novas lâmpadas a que ela se refere fazem parte de um projeto iniciado no ano passado, quando a USP passou a substituir antigas luminárias por novas, de LED. “Essas luzes podem ser reguladas com o anoitecer e acentuadas nos locais onde forem registradas ocorrências, mas a instalação não terminou porque é necessária uma central de monitoramento, que hoje não existe”, afirma Ana Pastore, superintendente de segurança na Cidade Universitária e responsável pela Guarda. Também não há câmeras em vários pontos do campus e as que existem somente registram em tempo real, não gravam.



Outro fator de risco para as 100 mil pessoas que passam pelo campus Butantã diariamente é a discussão sobre quem é o maior responsável pela segurança no local. Setores da universidade defendem que a Polícia Militar seja proibida de entrar ali para não reprimir manifestações de trabalhadores e estudantes. Em 2011, na esteira do escândalo causado pelo assassinato no estacionamento, a USP fechou um convênio com a PM para aumentar a segurança no local, mas, após conflitos causados por protestos contra a detenção de três estudantes que fumavam maconha na faculdade, a presença dos policiais diminuiu bastante. Hoje, a corporação faz rondas esporádicas e possui uma Base Comunitária Móvel. Ana Pastore admite que o fraco efetivo da Guarda Universitária (que conta com apenas 40 homens, divididos em turnos de não mais de 15 pessoas) não consegue patrulhar o campus sozinho, mas gostaria que a PM só entrasse ali em casos críticos, como o de sequestros e roubos a bancos. Coronel reformado da PM e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, José Vicente da Silva Filho discorda. “Esse pensamento é uma tolice que expõe a todos que frequentam a USP. A Guarda Universitária é insuficiente porque é patrimonial, não tem poder de polícia.”



Na esteira da tragédia com Victor Hugo, a universidade também começou a tomar medidas para controlar as festas no campus. O Cepeusp desmarcou dois eventos já agendados e suspendeu temporariamente a realização de festas no velódromo. O diretor da Escola Politécnica também proibiu confraternizações na faculdade, declarando que alunos têm que estudar, e não “encher a cara”. Um grupo de trabalho que discutia se festas deveriam ou não ser permitidas na Cidade Universitária vai pedir que todos os diretores de unidades se posicionem. De acordo com Ana Pastore, a Cidade Universitária não tem estrutura para receber festas de grande porte e só eventos menores deveriam ser autorizados. Secretário-geral da Associação dos Docentes (Adusp), Francisco Miraglia afirma que a proibição é uma medida ineficaz porque em universidades de outros países as festas são realizadas rotineiramente. “Proibir é tratar o sintoma em vez de cuidar da causa”, afirma.



Enquanto a instituição debate a ineficácia de seu sistema de segurança, a morte de Victor Hugo Marques Santos continua envolta em mistério. Não se sabe o que aconteceu depois das 5h da manhã do sábado 20, quando ele disse a amigos que iria comprar uma cerveja e não foi mais visto. A polícia suspeita que ele tenha sido assassinado e arrastado até a raia olímpica, pois havia escoriações no lado esquerdo do rosto. Também foi observado que o estudante não apresentava sinais de afogamento. O fato de dezenas de frequentadores da raia não terem visto o cadáver até terça-feira 23 reforça a desconfiança de que ele foi jogado ali três dias depois. Os investigadores, no entanto, não descartam a hipótese de suicídio e morte acidental porque as lesões encontradas não são compatíveis com feridas fatais. Além disso, um membro da Guarda Universitária relatou que amigos do jovem disseram que ele havia bebido e consumido LSD naquela noite. Os policiais também vão apurar se o homem retirado do velódromo por seguranças contratados pelo Grêmio da Poli era Victor Hugo. O laudo sobre o que causou a morte deve sair em um mês.



Fotos: Marcos Bezerra/Folhapress; Zanone Fraissat/Folhapress; Robson Ventura; Renato S. Cerqueira/Futura Press; Tião Moreira; Leonardo Soares/UOL

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

ESTUDANTES DA UFRGS LANÇAM MAPA SOBRE SEGURANÇA

ZH 11/09/2014 | 18h00

Ferramenta foi inspirada em iniciativa da Universidade de Brasília

por Eduardo Rosa



Mapa começou a funcionar nesta semanaFoto: DCE UFRGS / Reprodução


O Diretório Central de Estudantes da UFRGS desenvolveu um mapa colaborativo que compila relatos de crimes ocorridos no entorno do Campus Centro, em Porto Alegre. A ferramenta, inspirada em iniciativa da Universidade de Brasília (UnB), começou a ser utilizada nesta semana.

Por meio do site do DCE, é possível preencher um formulário com tipo de crime (como roubo, furto e tráfico de drogas), data, horário e descrição do fato. As informações são enviadas ao diretório, que faz as marcações no mapa propriamente dito. Até o final da tarde desta quinta-feira, havia 88 relatos listados.

— Procuramos uma plataforma que se adequasse às necessidades. É a mesma usada pela UnB e não tem custo — afirma Vítor Neves da Fontoura, diretor jurídico do DCE.

Conforme Fontoura, as informações passam pelo crivo da diretoria para que o sistema não seja burlado. Além de serem repassados à universidade e à Brigada Militar, os dados devem servir para alertar os alunos que circulam pela região.

— A ideia é fazer campanhas nas zonas mais perigosas. Certas coisas comportamentais podem mudar — relata o diretor jurídico, dando como exemplo a colocação de cartazes indicando locais e horários mais críticos.

A Brigada Militar vê o mapa como auxilio ao trabalho da corporação. O comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM), major Francisco Vieira, conta que a ideia surgiu em uma conversa com um grupo de alunas da Faculdade de Direito que o procurou.

— Foi uma ideia conjunta das estudantes. Da reunião, saíram várias ideias para eu planejar o meu policiamento. Eu faço o planejamento em cima das demandas — avalia, positivamente, o comandante.

Na Unb, o mapa foi lançado há cerca de um ano e meio e, agora, está desativado para reformulação. Um dos coordenadores-gerais do DCE Honestino Guimarães, Caio Oliveira define como satisfatório o resultado do trabalho.

— A partir do mapa, a gente começou a apresentar à prefeitura do campus dados exatos de onde vieram os maiores problemas. Foi gerado um relatório com o número de ocorrências e os locais — relata Oliveira, acrescentando que o número de crimes diminuiu após mudança na ação das autoridades.

Antes do mapa, a página no Facebook

O grupo de alunas ao qual o major se refere criou, há mais de um mês, uma página no Facebook reunindo casos de assaltos e outros crimes sofridos por universitários. A iniciativa das jovens se somou a um abaixo-assinado com cerca de mil assinaturas para demonstrar clamor público.

Na página Ocorrências — Campus Centro UFRGS, vítimas passaram a enviar relatos, que são repassados à BM por WhatsApp. O resultado da parceria foi a intensificação do policiamento na região e o aumento no número de prisões, conforme a 3ª Companhia do 9º BPM. A ideia é que essas informações integrem o mapa também.

A Coordenadoria de Segurança da UFRGS vê com bons olhos a iniciativa, mas ressalta que ela não substitui o registro nos órgãos oficiais. No portal do aluno e do servidor, também há um espaço para que os casos sejam informados.

Mesmo que haja um mapeamento paralelo às estatísticas da Secretaria da Segurança Pública (SSP), as vítimas de assalto e outros crimes devem registrar ocorrência policial. A medida é importante para formular estratégias de prevenção, investigação e repressão ao crime por parte dos órgãos de segurança.


*Zero Hora

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

UNIVERSITÁRIO CRIARÃO MAPA DA VIOLÊNCIA NO ENTORNO DA UFRGS

DIÁRIO GAÚCHO 04/09/2014 | 18h34

Levantamento será feito com base em relatos de alunos vítimas de crimes



Iniciativa deve começar pelo Campus CentroFoto: Félix Zucco / Agencia RBS


Eduardo Rosa



A preocupação com crimes no entorno da UFRGS motivou a elaboração de um levantamento de ocorrências cujas vítimas são alunos. O Diretório Central de Estudantes (DCE) trabalha na criação de um mapa compilando relatos de violência nos campi Centro e do Vale e suas imediações. A ideia é que sirva não apenas como alerta, mas embase ações preventivas.

— Os dados serão levados à Coordenadoria de Segurança da UFRGS e à Brigada Militar. Estamos fazendo o estudo da plataforma — afirma Vítor Neves da Fontoura, diretor jurídico do DCE, citando como exemplo uma iniciativa semelhante da Universidade de Brasília (UnB).

O mapa deve começar pelo Campus Centro, onde um grupo de alunas da Faculdade de Direito criou uma página no Facebook, há cerca de um mês, reunindo casos de assaltos e outros crimes sofridos por universitários, que devem servir como base. A iniciativa das jovens surgiu após contato com o 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM), responsável pela região, e se somou a um abaixo-assinado com cerca de mil assinaturas para demonstrar clamor público. Na página Ocorrências — Campus Centro UFRGS, as vítimas enviam relatos, que são repassados à Brigada Militar por WhatsApp.

— As pessoas nos mandam por mensagem privada. Recebemos cerca de quatro por dia. Também publicamos alertas — conta Lara Amaro, uma das acadêmicas de Direito que administram a página.


O resultado da parceria foi a intensificação do policiamento na região e o aumento no número de prisões, conforme o comandante da 3ª Companhia do 9º BPM, major Julio Cesar de Ávila Peres.

— Conversamos com os estudantes e vimos os pontos prioritários de policiamento. Eles nos passam informações que facilitam o trabalho — afirma o oficial.

O coordenador de Segurança da UFRGS, Daniel Pereira, salienta:

— A iniciativa é válida, demonstra a indignação das pessoas. Mas seria importante que elas registrassem ocorrência através dos órgãos oficiais, que é o que gera demanda. No portal do aluno e do servidor, disponibilizamos um espaço para fazer registro dos episódios. A universidade tem interesse em saber o que está acontecendo.

O levantamento feito por alunos não chega a ser uma ação inédita na UFRGS. No ano passado, estudantes eram convidados a responder na internet questões como de qual crime foram vítimas, o horário e se foi registrada ocorrência.

— Como comentavam bastante nas redes sociais assaltos e tentativas perto da Engenharia, resolvemos criar uma planilha de respostas, com um levantamento estatístico, para que fossem tomadas as medidas cabíveis — conta William Dutra, diretor financeiro do Centro de Estudantes Universitários de Engenharia (Ceue).

O mapa em estudo pelo DCE ainda não tem previsão de ser lançado.

Promotor de Justiça ressalta importância do registro policial

Mesmo que haja um mapeamento paralelo às estatísticas oficiais, as vítimas de assalto e outros crimes devem registrar ocorrência policial. O promotor de Justiça João Pedro de Freitas Xavier, coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal do Ministério Público, explica que os dados são fundamentais para formulação de estratégias de prevenção, investigação e repressão ao crime.

— Existe uma cifra negra de casos não registrados. É importante que a população atingida pela criminalidade procure as autoridades e que o B.O. tenha a maior fidelidade possível, juntando o máximo de informações, como local exato da ocorrência, horário, possíveis testemunhas, características do suspeito etc. Com isso, é possível a identificação e correção de fragilidades, aperfeiçoando-se a persecução penal, viabilizando, ainda, o encaminhamento de outras medidas simples, como melhoria na iluminação pública e poda de árvores — ressalta o promotor. — A impunidade começa no momento que nós, vítimas ou testemunhas, nos omitimos — acrescenta.


Universidade de Brasília (UnB) conta com mapa sobre segurança


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

ESTUDANTES SE QUEIXAM DA FALTA DE SEGURANÇA EM CAMPUS DA UFRGS



ZERO HORA 03/09/2014 | 06h06

Roubos em universidade. Estudantes se queixam de falta de segurança no Campus do Vale, na zona leste de Porto Alegre. Presidente do DCE da UFRGS afirma que recebe reclamações quase diárias de roubos a alunos, enquanto o coordenador de segurança da UFRGS relata ter registro de apenas três casos de assaltos no campus neste ano



por José Luís Costa



Estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) reclamam de insegurança no Campus do Vale, na zona leste de Porto Alegre. Casos de assaltos naquela região são recorrentes, e o mais recente relato, que gerou manifestações de alerta em redes sociais, refere-se a um roubo coletivo de alunos que estavam em uma fila de ônibus em plena tarde de sol.

O bandido, armado com um revólver, teria atacado cinco jovens e levado celulares de todos, segundo versão de uma vítima.

– Ele só queria o celular – afirma um estudante que pediu para ter o nome preservado.

Conforme o jovem, o assalto ocorreu por volta das 13h, em um momento que o ladrão teria se aproveitado da ausência de um vigilante no terminal de ônibus – a área do Campus do Vale é território federal e guarnecida por segurança privada, contratada pela UFRGS. O assaltante teria um comparsa com uma lágrima tatuada no rosto – característica de uma quadrilha de Viamão, cuja marca significaria um homicídio que o sujeito teria cometido.

Lucas Herbert Jones, presidente do Diretório Central de Estudantes da UFRGS, afirma receber queixa quase diariamente de roubos a estudantes.

– A sensação de insegurança é grande. Os estudantes estão à mercê dos assaltantes. O foco é a segurança patrimonial e não as pessoas – reclama Jones, que afirma estar cobrando providências da universidade.

Canais na internet

Para mapear com mais exatidão crimes sofridos por estudantes, professores e servidores da UFRGS, foram criados dois canais de comunicação pela internet, no qual as vítimas relatam o ocorrido para posterior cobrança das forças de segurança.

Os canais são Ocorrências – Campus Centro UFRGS (www.facebook.com/ufrgs.seguro) e outro, Segurança UFRGS Comunidade (www.facebook.com/ocorrenciasufrgs).

Pedido de mais policiais foi encaminhado à BM

A 15ª Delegacia da Polícia Civil, responsável por investigar crimes naquela região, não dispõe de estatística específica de roubos no campus.

O coordenador de Segurança da UFRGS, Daniel Pereira, afirma ter registro de somente três casos de assaltos no Campus do Vale em 2014, sendo o último na segunda-feira, com duas vítimas. Pereira acrescenta que a troca de segurança privada, ocorrida recentemente, não tem influência nos índices de crimes.

Pereira lembra que os vigilantes trabalham armados, protegendo tanto o patrimônio quanto a comunidade universitária. O coordenador de segurança afirma que, quando é preciso, recorre à Brigada Militar, o que ainda não teria ocorrido neste ano.

– A UFRGS sempre pensa em segurança máxima, mas não estamos imunes 100%. O índice de problemas aqui é mínimo – garante Pereira.

O coordenador diz que a situação é mais grave no entorno do Campus Centro (próximo à Avenida Osvaldo Aranha) e no Campus Saúde (arredores da Rua Ramiro Barcelos) onde, em 2014, houve registro de 18 assaltos a estudantes. Um ofício foi encaminhado à Brigada Militar pedindo mais policiamento na região.

– Recebi o documento (segunda-feira) e de imediato determinei ações ostensivas e de inteligência para reprimir os roubos – assegura o major Francisco Vieira, comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

PARTICIPANTE DE PERFORMANCE POLÊMICA NA UFF RECEBE AMEAÇAS


Participantes da performance em volta da fogueira onde a bandeira foi queimada Foto: Reprodução/Internet



JORNAL EXTRA 06/06/14 08:09 


Ana Carolina Pinto


Participante de performance polêmica na UFF recebe ameaças, afirmam amigos


A performance “Xereca Satânik”, apresentada no dia 28 de maio, no campus da Universidade Federal Fluminense (UFF) em Rio das Ostras, continua gerando polêmica. Amigos e pessoas próximas a Raíssa, uma das integrantes do Coletivo Coyote, afirmam que ela está sendo ameaçada. A reportagem tentou entrar em contato com a artista e outros participantes da manifestação artística, mas não obteve retorno. Moradora de Minas Gerais, ela já teria retornado à cidade onde mora e tem evitado falar com a imprensa por conta do assédio.

- As pessoas dizem que vão matar, dar tiros. Ameaçam os filhos dela. Ela corre riscos brabos mesmo, recebe ameaças pela internet. As pessoas são malucas. A Raíssa põe o corpo dela como forma politica, ela é uma guerrilheira dos nossos dias. Admiro ela por isso. Espero que não haja uma caça às bruxas - afirmou Daniel Caetano, chefe do Departamento de Artes e Estudos Culturais do Instituto de Humanidades e Saúde da UFF.

Raíssa foi protagonista da cena que gerou interpretações controversas na internet. Em protesto contra a violência à mulher e os estupros registrados na região da universidade, a performer costurou a vagina, após introduzir uma bandeira do Brasil no órgão genital. Em seguida, queimou a flâmula em uma fogueira.

Espectadores presenciam o momento em que a artista 'costura' a vagina Foto: Reprodução/Internet



Após a divulgação do evento na internet - e a publicação das fotos da performance - o grupo foi acusado de estar realizando um “ritual satânico” nas dependências da instituição e ter cometido o crime de atentado ao pudor.

Apoio de professores e alunos

Professores do curso de Produção Cultural de Niterói divulgaram uma nota de apoio aos docentes do campus de Rio das Ostras e aos organizadores do "II Seminário de Investigação e Criação do Grupo de Pesquisas UFF/CNPq: Cultura e Cidade Contemporânea: arte, política cultural e resistências", durante o qual foi realizada a performance.

Em um trecho da carta, os docentes classificaram como "vícios de censura" as reações ao evento. “Causa-nos espanto o grau de estranheza e criminalização com a qual tanto a perfomance da artista Raíssa, quanto a própria universidade foram tratadas nos últimos dias. Por se tratar de um espaço de experimentação de linguagens e reflexão - com seus evidentes riscos de choque à moral e ao senso comum -, é justamente na universidade onde devem ser expostos os descontentamentos, estimulados os debates, e negados quaisquer vícios de censura”.

A performance representou uma espécia de ritual contra a violência Foto: Reprodução/Internet



Na última quarta-feira, os professores do curso de Produção Cultural do campus de Rio das Ostras já haviam se posicionado contra as possíveis sanções à realização de trabalhos como o apresentado dentro do ambiente acadêmico. No comunicado, assinado por todos os docentes, a liberdade de criação e expressão é defendida.

“Nosso curso estuda as diversas manifestações de Cultura e Arte. Por isso, necessita ter plena liberdade para tratar de assuntos e performances relacionados aos temas pesquisados, sem constrangimentos. Portanto, o que está em jogo, de fato, é a autonomia docente e a garantia de plena liberdade de estudos e pensamento crítico na Universidade Pública. Por esta razão, trazemos este esclarecimento a público e nos dispomos a dirimir quaisquer dúvidas sobre os eventos acadêmicos ocorridos no nosso campus”.

Para Daniel Caetano, uma possível punição por parte da UFF ou da Polícia Federal, que investiga o caso, seria também prejudicial para a autonomia acadêmica. De acordo com ele, na sindicância aberta pela instituição, só há um aluno de Humanas, indicado pelo DCE, e nenhum professor de Arte.

- Todos os professores terem assinado uma nota em conjunto já é um indício de que existe a construção de um consenso. O estudo se baseia em registros históricos, canônicos. O estudo de “body art” existe há mais de 40 anos. O docente tem que ser respeitado, não tem crime, não tem nada. A maioria das pessoas que estão criticando não estavam lá, viram fotos e falam maluquices. Posso achar desagradável, mas está feito e o corpo é da artista. É normal e saudável criticar, mas querer achar que não ter gostado dá o direito de censurar, é outra coisa. Existe um certo risco de que a censura prevaleça, de que as pessoas sejam punidas por um ato acadêmico e politico. Não faz sentido punir professores ou alunos por causa disso.

Cartazes de apoio à performance apresentada na UFF Foto: Reprodução/Facebook



Alunos e professores do curso de Artes da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) também manifestaram apoio aos colegas. Um debate foi realizado na instituição para definir possíveis ações de apoio. Uma foto do encontro foi compartilhada no evento “Em defesa das Xerecas Satânicas”, criado no Facebook por alunos da UFF para debater a repercussão do assunto.

Aumento de estupros na região

Uma análise nos números de violência na região demonstram as motivações do protesto. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (ISP), o número de estupros em Rio das Ostras mais que triplicou na comparação entre março deste ano e o mesmo período de 2013: foram 14 casos registrados contra 4.

Na comparação com o número total do primeiro trimestre, também houve aumento: foram 20 casos em 2014, seis a mais que no mesmo período de 2013.

Depoimentos adiados

Após a polêmica acerca da festa, na qual bebidas alcoólicas e outras drogas teriam sido consumidas, a Polícia Federal informou que realizará um inquérito para investigar o evento. A corporação afirmou que vai apurar “as circunstâncias da utilização do patrimônio público federal para festa realizada na última quarta-feira”.

Não foi especificado quais tipos de crime os participantes poderiam ter cometido. Uma possível conclusão das investigações ainda deve demorar para acontecer. Segundo o chefe do Departamento de Artes e Estudos Culturais da UFF, os depoimentos foram adiados para daqui a dois meses.

Seminário sobre o corpo

A performance “Xereca Satânik” foi realizada durante a festa de encerramento do "II Seminário de Investigação e Criação do Grupo de Pesquisas UFF/CNPq: Cultura e Cidade Contemporânea: arte, política cultural e resistências", cujo tema era Corpo e Resistência. Além da performance, o evento contou com debates entre alunos e professores.

O Coletivo Coyote foi convidado pelos organizadores e se apresentou sem receber cachê. Segundo Daniel Caetano, os pesquisadores participantes do seminário, tanto de graduação como de pós-graduação, são bolsistas do CNPq, que registra os trabalhos. Este seria o único motivo para a sigla da entidade governamental estar no título do evento, que não recebeu verbas públicas, nem da universidade, para sua realização.

Na última quarta-feira, outro encontro aconteceu no campus de Rio das Ostras, para prosseguir com os debates e discutir formas de apoio ao evento ocorrido em 28 de maio. Segundo uma pessoa próxima a Raíssa, que preferiu não se identificar, ela não esteve presente, pois preferiu se resguardar. Outros alunos também preferiram não falar com a imprensa e prometeram produzir material de divulgação sobre as conclusões acerca do debate.

domingo, 1 de junho de 2014

MUTILAÇÃO EM FESTA UNIVERSITÁRIA


UFF vai investigar festa realizada na unidade de Rio das Ostras. Segundo denúncias, encontro promovido pelo curso de Produção Cultural teve cena de mutilação

POR O GLOBO, 30/05/2014 18:27




RIO - A administração central da Universidade Federal Fluminense (UFF) vai investigar denúncias envolvendo um evento realizado pelo curso de Produção Cultural da instituição em Rio das Ostras, na última quarta-feira. De acordo as denúncias, baseadas em fotos e informações de alguns alunos nas redes sociais, o evento, chamado Xereca Satanik, começou com uma espécie de performance e terminou com várias pessoas nuas e uma mulher tendo a vagina costurada por outra.

A UFF informa que a instituição ainda está se inteirando dos fatos para “tomar as providências necessárias e esclarecer tudo o que aconteceu no campus de Rio das Ostras”. A universidade ainda afirmou, via assessoria de imprensa, que uma comissão será montada para apurar os fatos, no entanto, sem especificar se ainda nesta sexta-feira ou na próxima semana. “A administração central da UFF só vai se posicionar depois que a comissão apurar os fatos”, informou a assessoria.

No Facebook, foi criado um evento convidando para a “Festa de Confraternização do Seminário Corpo e Resistência e 2º Seminário de Investigação e Criação do Grupo de Pesquisas Cultura e Cidade”. A página da festa ainda mostra que foram 2,2 mil pessoas convidadas e 324 confirmadas. Em certo trecho da descrição do evento, os organizadores anunciam “o que vai rolar”: “Pegação, fetiches, destruição, paganismo, bruxaria, lama ao caos” entre várias outras citações, inclusive, irônicas, como “não vai ter copa”. Na mesma págína, numa conversa entre os organizadores e pessoas que teriam participado da festa, a informação é de que as fotos que registram o evento “foram denunciadas” e retiradas.

Uma fonte da universidade, ouvida pelo Globo, que preferiu não se identificar, disse que tudo não passou de uma atividade performática da disciplina de Produção Cultural. Segundo essa fonte, as pessoas nuas que se apresentavam fazem parte de um grupo teatral da cidade mineira de Juiz de Fora, e que alunos da UFF não se despiram ou sofreram agressão. A informação é de que houve reclamações sobre o conteúdo e o teor moral da performance, mas que nenhum aluno teria sido obrigado a participar da “encenação” ou violentado, como chegou a ser ventilado nas redes sociais.

De acordo com a fonte ouvida pelo jornal, alguns alunos podem ter se sentido ofendidos de ver as cenas fortes da “performance”.

- Não foi uma festa, como chegaram a dizer, foi um seminário que durou todo o dia 28 de maio - afirma. - Se é arte aquilo, se é cultura, se é legal ou não, não sei dizer, mas ninguém entre os alunos da UFF sofreu agressão.

sábado, 31 de maio de 2014

AGRESSÃO E MORTE TIVERAM MOTIVAÇÃO PASSIONAL

JORNAL O NACIONAL, 30/05/2014 - 12:07


Estudante confirma que agressões tiveram motivação passional. Agressão que resultou na morte de Claudecir Lenz será investigada pela Delegacia de Homicídios



A estudante agredida pelo colega Fabiano Cardozo Machado, 24 anos, prestou depoimento aos agentes da Delegacia Especializada em Homicídios e Desaparecidos (DEHD) e, como já havia dito no registro da ocorrência, que a agressão teria sido levada adiante por motivos passionais envolvendo o acusado e uma pessoa com um relacionamento próximo com a estudante, que na noite do episódio prestou depoimento na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento. A briga ocorrida na segunda-feira à noite em frente ao prédio do IFCH, da UPF, resultou na morte de Claudecir Altair Lenz, 44 anos, que nada tinha a ver com o caso. Claudecir tentou socorrer a estudante agredida e levou uma facada. Foi internado no hospital e faleceu na tarde de quinta-feira.

Segundo o inspetor Volmar Menegon, chefe de investigações da DEHD, a Polícia Civil tem até o próximo dia 10 para a conclusão do inquérito policial. /um advogado de Frederico Westphalen entrou com um pedido de relaxamento da prisão do acusado, que ainda não foi avaliado pelo Judiciário. O advogado também informou que não deverá mais atuar na defesa do estudante e que um novo profissional deverá ser contratado pela família do jovem. Ele permanece recolhido ao Presídio Regional de Passo Fundo.

Segurança do campus

De acordo com Paulo Nobre, encarregado de segurança da Universidade de Passo Fundo, o procedimento adotado pelos vigilantes que contiveram o aluno foi considerado correto, de forma a não expor as pessoas ao redor a perigos maiores. “Inicialmente, os vigilantes tentaram negociar com ele, que tentava entrar no prédio de qualquer maneira. Nós continuamos fazendo o acompanhamento e em nenhum momento ele ofereceu rendição. Quando ele chegou à porta dos fundos do IFCH ele tentou quebrar a porta atirando um vaso contra a porta de vidro. Neste momento ele já estava cercado pelos vigilantes, que conseguiram dominá-lo em um momento de distração. Nossa principal preocupação era garantir a segurança de todos, dos alunos, dos próprios vigilantes e também do agressor”, explicou.

Também conforme Nobre, o uso da força foi o recurso utilizado pelos vigilantes em função da situação. “Foi muito difícil contê-lo, não sabemos o motivo. A intenção dele era entrar no prédio. Nós estávamos preparados para o caso de ele conseguir entrar no prédio. Caso ele conseguisse entrar no prédio teríamos de mudar a forma de agir, até mesmo para evitar uma tragédia maior”, disse.


Estudante era acompanhado pela Universidade

Segundo a professora Patrícia Valério, coordenadora do Curso de Letras, o autor do crime era bastante participativo nas atividades oferecidas pelo curso. “Ele foi encaminhado ao Serviço de Atendimento ao Educando, e era acompanhado sistematicamente. Eu conversava com ele semanalmente e nunca havia visto nenhum episódio de violência dele. A gente fica triste, de acordo com o que ele nos relatou ele teve uma vida difícil até aqui e em função disso ele foi encaminhado para o atendimento”, disse.



Funcionários e estudantes recebem apoio da Universidade

Tentando retomar normalmente as atividades após o episódio, a direção do IFCH realizou intervenções junto aos funcionários e estudantes da unidade na tentativa de minimizar os danos causados pela agressão. Segundo a diretora do IFCH, Rosani Sgari, os alunos do curso de Letras receberam atenção especial após o fato envolvendo os dois colegas. “Imaginem o que vivenciaram estes alunos, que eram colegas deles. Os alunos disseram que ele era um bom colega, que era dedicado. Muitos ainda estavam incrédulos. Este fato é um recorte da nossa sociedade, mas não temos como prever situações desta natureza, que são trágicas. Também lamentamos a série de informações erradas, distorcidas e desrespeitosas que foram divulgadas. Lamentamos ter de despender energia para esclarecer situações que foram divulgadas erroneamente”, afirmou.


Caso Claudecir: veja a sequência dos fatos do dia 26. Relatos de pessoas que viram o crime ajudam a reconstituir a cronologia

Créditos: Divulgação

Momento em que Claudecir recebe os primeiros atendimentos já dentro da Feac. A foto foi feita por um estudante

Os funcionários que vivenciaram os momentos de tensão, agindo com agilidade, cautela e profissionalismo, relataram a reportagem do ON o que realmente ocorreu na noite de segunda-feira, na Universidade de Passo Fundo, quando Claudecir Altair Lenz tentou intervir na briga entre dois alunos e acabou ferido, no peito, com uma facada.



Chegada dos alunos

Os alunos do curso de Letras estavam reunidos no auditório da Biblioteca da Universidade participando da atividade “Livro do Mês”, que ocorre mensalmente, segundo a coordenadora do curso, Patrícia Valério. Os envolvidos na briga, entretanto, não participavam da atividade.



Início da briga

A estudante do curso de Letras, 26 anos, alvo do agressor, estava em frente ao prédio do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), onde tudo iniciou. Fabiano Cardozo Machado, 24 anos, também estudante do curso, chegou ao local transtornado, e passou a agredir a colega. A auxiliar de secretaria, Bruna Michele do Amarante, escutou os gritos e correu para ver o que estava acontecendo.



Funcionária interfere

Ao perceber a briga, Bruna gritou para que um colega acionasse os vigilantes. Enquanto Gunnar Gustavo Trindade ligou para os vigilantes, Bruna tentou acalmar os ânimos. “Eu sai e fui separar eles, por que havia só uma pessoa tentando ajudar a menina. Por um instante, eles pararam de brigar e, aparentemente, Fabiano parecia calmo. Mas quando a vítima se abaixou para apanhar o óculos de grau que havia caído do rosto, Fabiano partiu novamente para cima e começou a bater a cabeça dela no o chão”, contou Bruna.



Alunos assistem, mas não interferem

Como ele voltou a agredir a colega, a funcionária gritou por socorro. “Muitos estudantes que estavam por perto assistiram, mas ninguém se envolveu. O senhor (Claudecir) estava passando pelo local, porque tratava de formaturas no curso de história e viu eu pedindo socorro. Ele veio para fora e imobilizou Fabiano pelo pescoço”, conta Bruna. A funcionária menciona que o estudante estava transtornado e conseguiu se soltar. Percebendo que ele continuaria com as agressões, correu para a secretaria e pegou a chave da porta, com a intenção de colocar a aluna para dentro do prédio e evitar a entrada do agressor.



Claudecir é ferido

Em questão de segundos, Bruna pegou as chaves e se dirigiu até a porta para trancá-la. A estudante já havia entrado no prédio, quando Claudecir passou pela funcionária com as mãos no peito. Ele olhou para a auxiliar de secretaria e disse que estava ferido e que havia levado uma facada. “Ele seguiu em direção a Feac e eu só tive tempo de trancar a porta. Quando olhei para frente, vi Fabiano com a faca na mão, toda ensanguentada, tentando entrar a todo custo. Ele passava a faca no vão das portas, enquanto os alunos seguravam para eu chavear”, diz.



Acusado procura entradas secundárias

Percebendo que não abririam a porta para ele entrar, Fabiano circundou o prédio, procurando por outras entradas. Os funcionários foram rápidos e conseguiram mobilizar as pessoas para entrar no prédio e trancar as portas antes que ele entrasse. “Se ele conseguisse entrar, ou se tivesse ocorrido dentro do prédio, nós não íamos conseguir fazer nada. Ele poderia ter ferido muitos outros, a tragédia poderia ter sido muito maior se não tivéssemos trancado as portas”, diz Gunnar.



Vigilantes imobilizam Fabiano

Na porta dos fundos, que dá acesso para o prédio da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis (FEAC), os vigilantes detiveram Fabiano. Embora eles já tivessem tentado negociar, o estudante estava irredutível em sua decisão. Transtornado, jogou pedras, quebrou vasos contra a porta de vidro e chutou, tentando arrombar. Foram necessários quatro vigilantes para imobilizar o acusado. O encarregado de segurança, Paulo Nobre, conta que em um momento de distração, eles conseguiram tirar a faca da mão de Fabiano e, enfim, segurá-lo até a chegada da Brigada Militar.



Prisão

Fabiano foi preso em flagrante e conduzido à Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento. Claudecir foi socorrido por uma ambulância da Prado, que atende dentro do Campus e encaminhado ao Hospital São Vicente de Paulo. A estudante agredida também recebeu atendimento médico, mas foi liberada no dia seguinte. Claudecir, morreu na tarde de ontem, em função da gravidade do ferimento.

terça-feira, 27 de maio de 2014

ESFAQUEADO DENTRO DE CAMPUS UNIVERSITÁRIO


CORREIO DO POVO 27/05/2014 00:25


Nildo Júnior / Correio do Povo


Homem é esfaqueado dentro do campus da UPF, em Passo Fundo. Polícia suspeita de crime passional


Um homem foi esfaqueado na noite desta segunda-feira, por volta das 20h, no campus da Universidade de Passo Fundo (UPF), junto ao prédio do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), em Passo Fundo, no Norte do Estado. Tudo teria começado numa discussão entre colegas, um homem, 24 anos, e uma mulher, 26 anos. Claudemir Altair Lenz, 44 anos, fazia divulgação de uma empresa no local e resolveu intervir, recebendo uma facada no tórax.

A vítima foi leva ao Hospital São Vicente de Paulo para atendimento. Seu estado inspirava cuidados por volta das 22h. O rapaz que deu a facada foi preso pela Brigada Militar. A mulher foi ao hospital fazer curativos. A Polícia Civil suspeita de crime passional.

Por volta de meia-noite, Lenz passava por cirurgia na tentativa de estancar a hemorragia. Conforme o prontuário do hospital, há suspeita de perfuração de órgão o que dificulta parar o sangramento.



terça-feira, 20 de maio de 2014

MOVIMENTOS QUE AGITAM A UFRGS


ZERO HORA 20 de maio de 2014 | N° 17802

CARLOS ROLLSING

EDUCAÇÃO PROTESTOS NO CAMPUS

EM EXPANSÃO nos últimos anos, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul passa por momento de turbulência. Estudantes e servidores técnicos promovem manifestações. Reitor reconhece problemas, mas aponta avanços



Prestes a se tornar octogenária, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) enfrenta um período de turbulência no seu cotidiano, alterado por três movimentos reivindicatórios simultâneos. Insatisfações geraram duas ocupações de alunos e uma greve de servidores técnicos prejudica ou paralisa setores como biblioteca, laboratórios, secretarias e almoxarifados.

Embora apresentem pautas convergentes, os atos não têm conexões diretas. Os grupos que lideram as manifestações são distintos, abarcando diferentes alas da política estudantil e sindical.

Das mobilizações em curso, a greve dos técnicos, vinculados à Associação dos Servidores da UFRGS (Assufrgs), promoveu ontem um “trancaço” na Reitoria. Por horas, ninguém entrou ou saiu dos prédios localizados na Rua Paulo Gama.

A iniciativa foi determinada pelo comando nacional de greve – que se reuniria ontem à noite com integrantes dos ministérios do Planejamento e da Educação – como forma de pressionar pelo cumprimento das reivindicações, sobretudo o reajuste salarial.

Na Reitoria, também estão acampados estudantes de agremiações mais radicais da esquerda estudantil. Aproveitando o aniversário de 80 anos da universidade, eles argumentam que o cotidiano da UFRGS não tem a qualidade apresentada na campanha publicitária. Pedem melhoria em infraestrutura, qualidade do ensino, reajuste nas bolsas e mais segurança.

A terceira frente é formada por alunos que exigem a regulamentação da contratação de professores do Direito. O estopim para a crise foi a reprovação de um candidato em uma banca, em dezembro. Na visão dos estudantes, ele teria sido deliberadamente prejudicado.

DCE ESTÁ FORA DA MOBILIZAÇÃO

Na origem da crise, está o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que vigora desde 2008 e permitiu a ampliação do mundo universitário. Os críticos dizem que as mudanças foram realizadas com estrutura e procedimentos administrativos obsoletos.

– A universidade cresceu muito, e as estruturas são antigas – diz Berna Menezes, coordenadora-geral da Assufrgs.

O comando do Diretório Central dos Estudantes (DCE), que venceu a esquerda estudantil na última eleição, com um perfil mais moderado, não está envolvido em nenhum dos três movimentos.

– Entendemos que algumas pautas são muito legítimas. A UFRGS acabou de fazer um vídeo institucional lindíssimo, mas quem vê por dentro percebe que não é o que enfrentamos no dia a dia. Às vezes, falta papel higiênico – diz Lucas Jones, presidente do DCE.


Seleção de professor em xeque

Com a expansão da universidade nos últimos anos, mais professores passaram a ser contratados. Ao mesmo tempo, cresceram os questionamentos quanto à forma de seleção dos mestres.

A crise estourou com a realização de uma banca em dezembro. O professor Salo de Carvalho acabou reprovado em razão de notas muito baixas atribuídas a ele pelo examinador Odone Sanguiné, docente da UFRGS. Outros dois avaliadores, ambos de fora da universidade, concederam a Salo notas mais altas e revelaram pressões internas para reprová-lo por suposta ausência de “perfil adequado”.

Agora o movimento reivindica a regulamentação dos concursos públicos para a contratação de professores e a anulação da banca realizada em dezembro de 2013.

A ocupação é liderada pelo Centro Acadêmico André da Rocha, presidido por Gabriela Armani, de 19 anos, aluna do 4º semestre do Direito. Ela não tem vínculo partidário e é iniciante no movimento estudantil. Na mobilização, há militantes de siglas como o PSOL. Ainda em dezembro, o PSTU denunciou suposta “armação” contra Salo, que acabou aprovado em seleção na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).


Alunos apontam carências

O Ocupa Reitoria teve início em 14 de maio, e os acampados criticam a precarização da universidade, citando dificuldades estruturais no restaurante universitário, na casa do estudante, nas salas de aula e em outros espaços. Expõem problemas que vão desde a iluminação dos campi até a falta de segurança. O discurso contrapõe a campanha em que a UFRGS comemora “80 anos de excelência”.

A iniciativa causou um racha na esquerda estudantil. Em recente assembleia, a maioria dos votantes, entre eles militantes de PSTU e PSOL, decidiu não fazer a ocupação. O argumento era de que seria preciso iniciar um movimento de conscientização e de busca de apoio na base de estudantes. À revelia da assembleia, integrantes de coletivos anarquistas decidiram insistir na ocupação.

A UNIVERSIDADE EM NÚMEROS

A UFRGS tem cerca de 36 mil alunos matriculados nos cursos presenciais de graduação e pós-graduação. São 2,6 mil servidores técnicos e 2,5 mil professores.

Desde 2008, quando foi implantado o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão de Universidades Federais (Reuni), com incentivo para aumento de vagas e abertura de novos cursos, a graduação da UFRGS registrou crescimento de 22%. Na pós-graduação, a ampliação foi de 30%.

O crescimento pode ser percebido nos números do curso de Direito, onde há reivindicações por regulamentação dos critérios para a contratação de professores por concurso. Nos últimos anos, o número de vagas oferecidas no Direito passou de 140 para 350.

Fundada em 1934, a UFRGS completará 80 anos no dia 13 de novembro de 2014. Neste ano, a universidade tem um orçamento de R$ 1,5 bilhão. A maior parte é usada no pagamento de folha de pessoal.


Entrevista com CARLOS ALEXANDRE NETTO, Reitor da UFRGS

“Temos um passivo grande”

Embora reconheça as demandas dos manifestantes, Carlos Alexandre Netto ressalta que a universidade é a melhor avaliada do Brasil pelo Ministério da Educação. O reitor destaca a inauguração de um novo restaurante universitário no segundo semestre e, no futuro, a construção de mais uma casa do estudante.

Por que movimentos reivindicatórios se multiplicam no ano em que a universidade completa 80 anos?

A universidade não é uma bolha. Ela reflete a sociedade. Os movimentos reivindicatórios que vemos nas ruas também estão aqui dentro.

Muitas reclamações estão relacionadas à infraestrutura. Há problemas nos restaurantes, casa do estudante e outros locais. Como o senhor avalia?

A universidade cresceu bastante em número de alunos, mas melhorou a infraestrutura. Temos prédios novos, melhores instalações, mas temos também um passivo muito grande. No passado, a universidade não tinha recursos para investir em infraestrutura. Hoje, estamos tendo de recuperar prédios defasados e, ao mesmo tempo, construir novos espaços. Nossa opção política é por fazer, sim, a expansão da universidade porque amplia a inclusão e, simultaneamente, melhorar a infraestrutura. Jamais esperaríamos melhorar a infraestrutura para depois fazer a expansão.

Mas existe déficit?

Com certeza, mas hoje já é muito menor do que há 10 anos.

Há possibilidade de anulação do concurso que culminou com a reprovação do professor Salo de Carvalho?

Os concursos são regulados por lei. Baseadas na lei, as universidades têm normativas. Temos uma normativa atual. Desde 2008, fizemos cerca de 500 concursos docentes, contratamos 750 pessoas. Menos de 0,1% desses concursos tiveram recursos administrativos pedindo anulação. Esse concurso do Direito foi homologado pela câmara de graduação. A análise é de que foi bem realizado, sem vício. Houve apresentação de dois recursos de nulidade, que devem ser apreciados na quarta-feira.

E poderá haver anulação?

Sim, claro que pode.

Como avalia as ocupações realizadas até agora?

Temos boa compreensão das demandas, mas não concordamos com a forma de apresentação. Ocupações e fechamento de portões não contribuem com as causas, isso gera distúrbio para a vida funcional da universidade. Somos abertos ao diálogo franco, mas também há muitas reivindicações que não são da competência da universidade, como aumento de bolsas e salários.

sábado, 29 de março de 2014

CIÊNCIA NO LIXO

REVISTA ISTO É N° Edição: 2314 | 28.Mar.14


Interdição de campus da USP por solo contaminado atrasa pesquisas, prejudica o trabalho dos cientistas e torna inúteis os R$ 18 milhões investidos na unidade pelas agências de fomento

Ana Carolina Nunes (acarol@istoe.com.br)


No número 1.000 da avenida Arlindo Bettio, em Ermelino Matarazzo, a 23 km do centro de São Paulo, o grupo de pesquisa liderado pelo professor Marcelo Nolasco busca uma técnica eficiente para tratar o esgoto de forma descentralizada. Quando finalizado, o projeto também poderá ajudar a reaproveitar 80% da água eliminada nas residências. A equipe já recebeu convite para apresentar o trabalho nos EUA e também passou por Finlândia e China. Mas os experimentos para obter resultados, feitos na pequena estação experimental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) no campus da zona leste da Universidade de São Paulo (USP), estão paralisados.


PREJUÍZO
Miguel Garay teve de sacrificar 30 camundongos utilizados
para pesquisas em biologia molecular celular

É mais uma entre as dezenas de pesquisas da unidade que foram total ou parcialmente interrompidas desde 9 de janeiro, quando uma decisão judicial interditou o prédio da EACH por conta da contaminação do solo, tornando a área imprópria para circulação de alunos, professores e funcionários. No loca funcionou um aterro onde eram depositados sedimentos das dragagens do leito do rio Tietê. A USP anunciou a volta às aulas para a segunda-feira 31, em espaços cedidos ou alugados por outras instituições, mas ainda não há definição sobre o destino das pesquisas, embora os prejuízos sejam evidentes.

Miguel Garay, professor de gerontologia, teve de sacrificar 30 camundongos utilizados para pesquisas em biologia molecular celular quando deixou seu laboratório. “Alguns consegui transportar, mas não posso usar os equipamentos que estão lá. É perda de tempo e de prazos e ainda atrapalha a formação de cientistas”, desabafa Garay. Se forem somados os reagentes, produtos vencidos e outros materiais biológicos perdidos, o prejuízo alcança US$ 10 mil. Os docentes calculam que ultrapassam R$ 18 milhões os investimentos das agências de fomento à pesquisa na unidade. Garay conseguiu um “cantinho” emprestado em um laboratório de um colega, no campus do Butantã. “Compartilho um espaço que já é pequeno e faço 20% do que deveria”, conta. “Hoje tenho seis alunos dando um jeito, mas e no futuro? Até quando?”, questiona. O pesquisador cobra uma posição da USP que, segundo ele, não dá respostas sobre como vão agir em relação às pesquisas.



O improviso tem sido a única saída. Com defesa de tese marcada para agosto, a mestranda em saúde pública Mariana Cardoso Chrispim fez adaptações na sua metodologia, como redução da frequência e do número de análises, além de alterar o material examinado, para conseguir cumprir o prazo. A professora de física experimental Adriana Tufaile, que tem quatro grandes projetos em andamento, contabiliza o prejuízo: “A paralisação pode deixar essas experiências obsoletas ou serem ultrapassadas por outros núcleos de pesquisa”, diz. Ela tem se reunido com um aluno bolsista em sua própria casa para não perder o cronograma. A diretora da EACH, Maria Cristina Toledo, afirmou por e-mail à ISTOÉ que a reitoria tem dado apoio aos cientistas “para solicitar adiamento de prazos ou mesmo modificações de pesquisas em vista das dificuldades impostas pela situação”.

Fotos: Rafael Hupsel/Ag. Istoé

sexta-feira, 28 de março de 2014

FUNCIONÁRIO DA UFSC INTEGROU AÇÃO DA PF

ZERO HORA 28 de março de 2014 | N° 17746

REVOLTA NO CAMPUS

Chefe da segurança relata uso de drogas e furto de dinheiro de carro da polícia



Um boletim de ocorrência registrado pelo diretor do Departamento de Segurança (Deseg) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Leandro Luiz de Oliveira, confirma que a operação realizada por agentes da Polícia Federal no campus foi realizada com ciência e acompanhamento do departamento, encarregado de zelar pela segurança física e pelo patrimônio da instituição.

O documento, número 027/2014, é uma espécie de ata, registrado pelo diretor para constar no próprio Departamento de Segurança. Até ontem à noite, a reitora não teria conhecimento do documento, segundo sua assessoria. Ex-policial e bacharel em Direito, Oliveira prefere não comentar o assunto e limita-se a dizer que o que tem a declarar “está no documento”.

O boletim de 45 linhas registrado no fim da tarde de terça-feira fornece relatos minuciosos do que ocorreu no campus. De manhã, segundo o documento, três agentes já monitoravam a região com o conhecimento da UFSC “pois no local havia vários consumidores de drogas e suspeita de tráfico”.

Os agentes federais, segundo Oliveira, solicitaram ao Deseg acompanhamento da operação. “Ao chegarem ao local já se podia, visivelmente, observar o consumo de substância conhecida como maconha por algumas pessoas”, relata o diretor do Departamento. A PF, segundo Oliveira, iniciou a abordagem de alguns usuários. “Os agentes conduziam com tranquilidade a operação”, descreveu, “tendo já conseguido pelo menos quatro pessoas detidas”.

Oliveira relata ainda no BO que a situação era conduzida de maneira tranquila quando “ouviram palavras de ordem contra a polícia”.

Segundo ele, os alunos foram “incitados” e “a região foi tomada por estudantes que cercavam as viaturas da PF e da segurança do campus”. O diretor relatou ainda que da viatura do Deseg tombada “foram retirados uma máquina fotográfica da UFSC, um colete de segurança e a carteira” de um servidor.

Da viatura da PF, segundo o documento, foram “subtraídos” um GPS, a carteira de um dos agentes, um talão de cheques e dinheiro.

Após o confronto, na terça-feira, os estudantes ocuparam o prédio da reitoria da instituição, onde permaneciam até o final da noite de ontem.

Em uma assembleia, eles definiram ontem que só deixariam o local se a reitora Roselane Neckel atendesse a uma série de exigências.

DIÁRIO CATARINENSE



Após confronto na terça-feira, estudantes ocuparam o prédio da reito

quinta-feira, 27 de março de 2014

POLÍCIA E REITORIA EM PÉ DE GUERRA

ZERO HORA 27 de março de 2014 | N° 17745


CONFRONTO NO CAMPUS. Diante de ataque da UFSC a ação antidrogas, superintendente da PF diz que reitora quer criar “república de maconheiros”



Depois de um dia de guerra no campus, a quarta-feira foi de batalhas verbais na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em resposta à nota em que a reitoria repudiou a ação policial contra estudantes, o superintendente da Polícia Federal (PF) catarinense, Paulo César Cassiano, afirmou que a reitora Roselane Neckel “tem problemas de memória ou de caráter” e quer transformar a universidade em “uma república de maconheiros”.

Oviolento conflito que originou o bate-boca ocorreu na terça-feira, no campus da Trindade, em Florianópolis. Depois de prender um aluno de Geografia que levava cerca de cinco cigarros de maconha e estava com quatro colegas, agentes da PF tiveram seu carro cercado por 300 estudantes e professores que exigiam a liberação do rapaz. O choque da Polícia Militar foi chamado. No confronto, viaturas foram viradas e depredadas por acadêmicos, enquanto policiais atacaram com gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral. Os cinco estudantes que estariam envolvidos com a droga foram detidos. Em resposta à ação policial, alunos ocuparam a reitoria.

Reitora diz que não aceita repressão na universidade

A polêmica repercutiu em Brasília, onde o deputado federal Renato Simões (PT-SP), da comissão de Direitos Humanos da Câmara, solicitou que o Ministério da Justiça seja interpelado e investigue a ação da PF.

– À primeira vista, a Polícia Federal extrapolou suas atribuições e usou violência acima do necessário – disse.

A briga entre reitoria e PF foi desencadeada pela nota em que Roselane afirmou que a comunidade “foi vítima de uma ação violenta e desnecessária, ferindo profundamente a autonomia universitária e os direitos humanos”. O delegado Cassiano reagiu.

– Não posso deixar de externar meu repudio à posição da reitora, que não contribui para o enfrentamento do crime que acontece sob o olhar dela. Autonomia universitária não deve ser confundida com libertinagem. É sabido que a universidade é um antro de crimes. E a reitora quer transformar a universidade numa república de maconheiros – afirmou.

À tarde, antes de audiência pública sobre o episódio, Roselane garantiu, diante de centenas de alunos, ter provas de que a polícia não pode entrar no campus sem o aval dela.

– Tenho provas disso, gravações. Não podemos aceitar quais quer ações de repressão violenta dentro do campus – declarou.


Acesso da PF estava liberado


Enquanto a reitora afirmava que a polícia não poderia entrar no campus sem seu aval, emergiram documentos do ano passado que confirmam uma autorização da UFSC para que a PF investigasse o tráfico no local. A informação está em ofícios trocados em julho e agosto pela PF e por Roselane e em um termo do chefe de gabinete da reitoria, Carlos Vieira.

Vieira declara que “há, infelizmente, a prática de tráfico e uso de entorpecentes no campus, que solicitou o apoio ao Departamento de Polícia Federal para que (...) tente coibir tal prática criminosa, que permite o acesso ao campus por parte da Polícia Federal, inclusive de instalações físicas”.

A jurisdição da segurança dentro do campus é um tema que tem gerado muita polêmica na UFSC. Legalmente, a área é federal e está sob guarda da Polícia Federal e do departamento interno de segurança da instituição, e não das polícias estaduais.





Alunos fazem exigências para sair


Os estudantes acampados desde a noite de terça-feira na reitoria da UFSC afirmam que não deixarão o local enquanto suas reivindicações não forem atendidas. Ontem, na audiência pública que contou com a participação da reitora, eles apresentaram uma lista de exigências.

Entre os pleitos estão a legalização de festas dentro do campus, a punição dos policiais envolvidos no confronto, o veto à entrada da polícia nas dependências da universidade e a elaboração de um plano de iluminação para a área da UFSC.

– Só vamos deixar a reitoria se for anulado o documento que permite a entrada da polícia a partir de qualquer telefonema ou pedido de ajuda feito do local. Somos contra isso, porque abre brechas que possibilitam o que aconteceu ontem – afirmou uma representante dos alunos na ocupação, que não quis informar seu nome.

Pela manhã, a reitora Roselane pediu ao ministro da Educação que ofereça apoio a professores e alunos agredidos. A nota de repúdio divulgada pela UFSC deve ser transformada em um documento que será entregue aos ministérios da Educação e da Justiça.




ENTREVISTA - “Ninguém me forçou”


Ontem, o Diário Catarinense conversou no campus com um dos alunos presos com maconha. Ele pediu para não ser identificado.

Como foi a abordagem?

Estudante – Estávamos numa mesa externa. Eles foram direto na mesa.

Vocês estavam usando alguma substância proibida?

Estudante – Não estávamos fumando. Tinha 10 gramas no bolso

Você foi forçado a entrar no carro dos policiais?

Estudante – Ninguém me forçou. Estava saindo para assinar o termo circunstanciado, tranquilo.

Por que houve o confronto?

Estudante – As pessoas que estavam próximas viram a cena. Por enquanto, não vou falar mais nada.

ESTUDANTE DETIDO

quarta-feira, 26 de março de 2014

CONFUSÃO APÓS PRISÃO DE ALUNO NA UFSC


ZERO HORA 26 de março de 2014 | N° 17744

CAMPUS DA UFSC. Confusão após prisão de aluno

Estudante teria sido flagrado fumando maconha, o que gerou protesto da comunidade acadêmica



Um tumulto entre estudantes e policiais federais e militares tomou conta do campus Trindade da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na tarde de ontem, e terminou com a invasão da reitoria por parte dos alunos. O motivo da confusão foi a prisão de um estudante de Geografia que teria sido flagrado fumando maconha no bosque da universidade, localizado entre o planetário e o Centro de Filosofia e Humanas (CFH).

Orapaz ficou detido dentro do carro da Polícia Federal (PF), o que gerou grande mobilização de estudantes e também de professores. Mais de 300 membros da comunidade acadêmica se manifestaram contra a prisão ao cercarem o carro da polícia e impedirem a saída do veículo do campus.

Gritos de “Fora PM no campus” ecoaram pelo bosque onde aconteceu a confusão. Uma professora teria subido em cima do capô do carro da PF e dito: “Ninguém vai sair daqui”.

A reação da Polícia Militar ocorreu por volta das 17h40min, com a chegada da tropa de choque. Uma das autoridades da UFSC tentou negociar, propondo que o estudante de Geografia – que estaria portando cinco cigarros de maconha – fosse à delegacia no carro da UFSC e assinasse um termo circunstanciado. Os estudantes aceitaram, mas disseram que só deixariam o local com o colega solto.

A tropa de choque esteve presente com 10 policiais militares, além de outros seis PMs do patrulhamento de área. Depois de jogar gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral em estudantes e professores da UFSC, o grupamento deixou o campus por volta das 18h.

PF à paisana teria abordado estudantes dentro do campus

O amigo do estudante de Geografia preso pela Polícia Federal contou à reportagem que os dois estavam com outros dois colegas quando foram abordados por três policiais federais à paisana. Os quatro alunos estavam sentados atrás do CFH.

De acordo com o aluno de ciências sociais, o grupo não estava fumando maconha. O rapaz disse que o amigo, que foi detido, estava com uma quantidade pequena da erva, o que renderia cerca de cinco cigarros.

Ele contou que os policiais revistaram as mochilas e, quando encontraram a maconha, levaram o estudante de Geografia para o bosque da UFSC. Uma viatura descaracterizada da PF estava estacionada no bosque, conforme relato do amigo do estudante preso. A confusão teria começado em seguida, quando o aluno foi conduzido até a viatura.


Em protesto, houve ocupação da reitoria


Centenas de estudantes ocuparam a reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) na noite de ontem. Após montarem uma barricada na frente do edifício, eles aguardaram por um encontro com a reitora, Roselane Neckel, com a qual tentam um acordo para que não haja mais policiais no campus.

– Só sairemos daqui quando conseguirmos um documento que nos garanta isso – disse a estudante de psicologia Gabriela Celestino, uma das primeiras a ocupar o prédio.

Por meio da assessoria de imprensa, a UFSC disse que desconhecia a ação policial no campus e que a partir de hoje irá investigar o caso.

Cinco estudantes foram levados para a sede da PF para prestar depoimento a respeito do tumulto. O grupo foi preso em flagrante – por motivo não confirmado. Eles chegaram à PF por volta de 18h40min.


Contrários à detenção de um aluno, estudantes viraram viaturas da polícia e acuaram a tropa de choque; depois, houve novos protestos