sábado, 31 de maio de 2014

AGRESSÃO E MORTE TIVERAM MOTIVAÇÃO PASSIONAL

JORNAL O NACIONAL, 30/05/2014 - 12:07


Estudante confirma que agressões tiveram motivação passional. Agressão que resultou na morte de Claudecir Lenz será investigada pela Delegacia de Homicídios



A estudante agredida pelo colega Fabiano Cardozo Machado, 24 anos, prestou depoimento aos agentes da Delegacia Especializada em Homicídios e Desaparecidos (DEHD) e, como já havia dito no registro da ocorrência, que a agressão teria sido levada adiante por motivos passionais envolvendo o acusado e uma pessoa com um relacionamento próximo com a estudante, que na noite do episódio prestou depoimento na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento. A briga ocorrida na segunda-feira à noite em frente ao prédio do IFCH, da UPF, resultou na morte de Claudecir Altair Lenz, 44 anos, que nada tinha a ver com o caso. Claudecir tentou socorrer a estudante agredida e levou uma facada. Foi internado no hospital e faleceu na tarde de quinta-feira.

Segundo o inspetor Volmar Menegon, chefe de investigações da DEHD, a Polícia Civil tem até o próximo dia 10 para a conclusão do inquérito policial. /um advogado de Frederico Westphalen entrou com um pedido de relaxamento da prisão do acusado, que ainda não foi avaliado pelo Judiciário. O advogado também informou que não deverá mais atuar na defesa do estudante e que um novo profissional deverá ser contratado pela família do jovem. Ele permanece recolhido ao Presídio Regional de Passo Fundo.

Segurança do campus

De acordo com Paulo Nobre, encarregado de segurança da Universidade de Passo Fundo, o procedimento adotado pelos vigilantes que contiveram o aluno foi considerado correto, de forma a não expor as pessoas ao redor a perigos maiores. “Inicialmente, os vigilantes tentaram negociar com ele, que tentava entrar no prédio de qualquer maneira. Nós continuamos fazendo o acompanhamento e em nenhum momento ele ofereceu rendição. Quando ele chegou à porta dos fundos do IFCH ele tentou quebrar a porta atirando um vaso contra a porta de vidro. Neste momento ele já estava cercado pelos vigilantes, que conseguiram dominá-lo em um momento de distração. Nossa principal preocupação era garantir a segurança de todos, dos alunos, dos próprios vigilantes e também do agressor”, explicou.

Também conforme Nobre, o uso da força foi o recurso utilizado pelos vigilantes em função da situação. “Foi muito difícil contê-lo, não sabemos o motivo. A intenção dele era entrar no prédio. Nós estávamos preparados para o caso de ele conseguir entrar no prédio. Caso ele conseguisse entrar no prédio teríamos de mudar a forma de agir, até mesmo para evitar uma tragédia maior”, disse.


Estudante era acompanhado pela Universidade

Segundo a professora Patrícia Valério, coordenadora do Curso de Letras, o autor do crime era bastante participativo nas atividades oferecidas pelo curso. “Ele foi encaminhado ao Serviço de Atendimento ao Educando, e era acompanhado sistematicamente. Eu conversava com ele semanalmente e nunca havia visto nenhum episódio de violência dele. A gente fica triste, de acordo com o que ele nos relatou ele teve uma vida difícil até aqui e em função disso ele foi encaminhado para o atendimento”, disse.



Funcionários e estudantes recebem apoio da Universidade

Tentando retomar normalmente as atividades após o episódio, a direção do IFCH realizou intervenções junto aos funcionários e estudantes da unidade na tentativa de minimizar os danos causados pela agressão. Segundo a diretora do IFCH, Rosani Sgari, os alunos do curso de Letras receberam atenção especial após o fato envolvendo os dois colegas. “Imaginem o que vivenciaram estes alunos, que eram colegas deles. Os alunos disseram que ele era um bom colega, que era dedicado. Muitos ainda estavam incrédulos. Este fato é um recorte da nossa sociedade, mas não temos como prever situações desta natureza, que são trágicas. Também lamentamos a série de informações erradas, distorcidas e desrespeitosas que foram divulgadas. Lamentamos ter de despender energia para esclarecer situações que foram divulgadas erroneamente”, afirmou.


Caso Claudecir: veja a sequência dos fatos do dia 26. Relatos de pessoas que viram o crime ajudam a reconstituir a cronologia

Créditos: Divulgação

Momento em que Claudecir recebe os primeiros atendimentos já dentro da Feac. A foto foi feita por um estudante

Os funcionários que vivenciaram os momentos de tensão, agindo com agilidade, cautela e profissionalismo, relataram a reportagem do ON o que realmente ocorreu na noite de segunda-feira, na Universidade de Passo Fundo, quando Claudecir Altair Lenz tentou intervir na briga entre dois alunos e acabou ferido, no peito, com uma facada.



Chegada dos alunos

Os alunos do curso de Letras estavam reunidos no auditório da Biblioteca da Universidade participando da atividade “Livro do Mês”, que ocorre mensalmente, segundo a coordenadora do curso, Patrícia Valério. Os envolvidos na briga, entretanto, não participavam da atividade.



Início da briga

A estudante do curso de Letras, 26 anos, alvo do agressor, estava em frente ao prédio do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), onde tudo iniciou. Fabiano Cardozo Machado, 24 anos, também estudante do curso, chegou ao local transtornado, e passou a agredir a colega. A auxiliar de secretaria, Bruna Michele do Amarante, escutou os gritos e correu para ver o que estava acontecendo.



Funcionária interfere

Ao perceber a briga, Bruna gritou para que um colega acionasse os vigilantes. Enquanto Gunnar Gustavo Trindade ligou para os vigilantes, Bruna tentou acalmar os ânimos. “Eu sai e fui separar eles, por que havia só uma pessoa tentando ajudar a menina. Por um instante, eles pararam de brigar e, aparentemente, Fabiano parecia calmo. Mas quando a vítima se abaixou para apanhar o óculos de grau que havia caído do rosto, Fabiano partiu novamente para cima e começou a bater a cabeça dela no o chão”, contou Bruna.



Alunos assistem, mas não interferem

Como ele voltou a agredir a colega, a funcionária gritou por socorro. “Muitos estudantes que estavam por perto assistiram, mas ninguém se envolveu. O senhor (Claudecir) estava passando pelo local, porque tratava de formaturas no curso de história e viu eu pedindo socorro. Ele veio para fora e imobilizou Fabiano pelo pescoço”, conta Bruna. A funcionária menciona que o estudante estava transtornado e conseguiu se soltar. Percebendo que ele continuaria com as agressões, correu para a secretaria e pegou a chave da porta, com a intenção de colocar a aluna para dentro do prédio e evitar a entrada do agressor.



Claudecir é ferido

Em questão de segundos, Bruna pegou as chaves e se dirigiu até a porta para trancá-la. A estudante já havia entrado no prédio, quando Claudecir passou pela funcionária com as mãos no peito. Ele olhou para a auxiliar de secretaria e disse que estava ferido e que havia levado uma facada. “Ele seguiu em direção a Feac e eu só tive tempo de trancar a porta. Quando olhei para frente, vi Fabiano com a faca na mão, toda ensanguentada, tentando entrar a todo custo. Ele passava a faca no vão das portas, enquanto os alunos seguravam para eu chavear”, diz.



Acusado procura entradas secundárias

Percebendo que não abririam a porta para ele entrar, Fabiano circundou o prédio, procurando por outras entradas. Os funcionários foram rápidos e conseguiram mobilizar as pessoas para entrar no prédio e trancar as portas antes que ele entrasse. “Se ele conseguisse entrar, ou se tivesse ocorrido dentro do prédio, nós não íamos conseguir fazer nada. Ele poderia ter ferido muitos outros, a tragédia poderia ter sido muito maior se não tivéssemos trancado as portas”, diz Gunnar.



Vigilantes imobilizam Fabiano

Na porta dos fundos, que dá acesso para o prédio da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis (FEAC), os vigilantes detiveram Fabiano. Embora eles já tivessem tentado negociar, o estudante estava irredutível em sua decisão. Transtornado, jogou pedras, quebrou vasos contra a porta de vidro e chutou, tentando arrombar. Foram necessários quatro vigilantes para imobilizar o acusado. O encarregado de segurança, Paulo Nobre, conta que em um momento de distração, eles conseguiram tirar a faca da mão de Fabiano e, enfim, segurá-lo até a chegada da Brigada Militar.



Prisão

Fabiano foi preso em flagrante e conduzido à Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento. Claudecir foi socorrido por uma ambulância da Prado, que atende dentro do Campus e encaminhado ao Hospital São Vicente de Paulo. A estudante agredida também recebeu atendimento médico, mas foi liberada no dia seguinte. Claudecir, morreu na tarde de ontem, em função da gravidade do ferimento.

terça-feira, 27 de maio de 2014

ESFAQUEADO DENTRO DE CAMPUS UNIVERSITÁRIO


CORREIO DO POVO 27/05/2014 00:25


Nildo Júnior / Correio do Povo


Homem é esfaqueado dentro do campus da UPF, em Passo Fundo. Polícia suspeita de crime passional


Um homem foi esfaqueado na noite desta segunda-feira, por volta das 20h, no campus da Universidade de Passo Fundo (UPF), junto ao prédio do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), em Passo Fundo, no Norte do Estado. Tudo teria começado numa discussão entre colegas, um homem, 24 anos, e uma mulher, 26 anos. Claudemir Altair Lenz, 44 anos, fazia divulgação de uma empresa no local e resolveu intervir, recebendo uma facada no tórax.

A vítima foi leva ao Hospital São Vicente de Paulo para atendimento. Seu estado inspirava cuidados por volta das 22h. O rapaz que deu a facada foi preso pela Brigada Militar. A mulher foi ao hospital fazer curativos. A Polícia Civil suspeita de crime passional.

Por volta de meia-noite, Lenz passava por cirurgia na tentativa de estancar a hemorragia. Conforme o prontuário do hospital, há suspeita de perfuração de órgão o que dificulta parar o sangramento.



terça-feira, 20 de maio de 2014

MOVIMENTOS QUE AGITAM A UFRGS


ZERO HORA 20 de maio de 2014 | N° 17802

CARLOS ROLLSING

EDUCAÇÃO PROTESTOS NO CAMPUS

EM EXPANSÃO nos últimos anos, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul passa por momento de turbulência. Estudantes e servidores técnicos promovem manifestações. Reitor reconhece problemas, mas aponta avanços



Prestes a se tornar octogenária, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) enfrenta um período de turbulência no seu cotidiano, alterado por três movimentos reivindicatórios simultâneos. Insatisfações geraram duas ocupações de alunos e uma greve de servidores técnicos prejudica ou paralisa setores como biblioteca, laboratórios, secretarias e almoxarifados.

Embora apresentem pautas convergentes, os atos não têm conexões diretas. Os grupos que lideram as manifestações são distintos, abarcando diferentes alas da política estudantil e sindical.

Das mobilizações em curso, a greve dos técnicos, vinculados à Associação dos Servidores da UFRGS (Assufrgs), promoveu ontem um “trancaço” na Reitoria. Por horas, ninguém entrou ou saiu dos prédios localizados na Rua Paulo Gama.

A iniciativa foi determinada pelo comando nacional de greve – que se reuniria ontem à noite com integrantes dos ministérios do Planejamento e da Educação – como forma de pressionar pelo cumprimento das reivindicações, sobretudo o reajuste salarial.

Na Reitoria, também estão acampados estudantes de agremiações mais radicais da esquerda estudantil. Aproveitando o aniversário de 80 anos da universidade, eles argumentam que o cotidiano da UFRGS não tem a qualidade apresentada na campanha publicitária. Pedem melhoria em infraestrutura, qualidade do ensino, reajuste nas bolsas e mais segurança.

A terceira frente é formada por alunos que exigem a regulamentação da contratação de professores do Direito. O estopim para a crise foi a reprovação de um candidato em uma banca, em dezembro. Na visão dos estudantes, ele teria sido deliberadamente prejudicado.

DCE ESTÁ FORA DA MOBILIZAÇÃO

Na origem da crise, está o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que vigora desde 2008 e permitiu a ampliação do mundo universitário. Os críticos dizem que as mudanças foram realizadas com estrutura e procedimentos administrativos obsoletos.

– A universidade cresceu muito, e as estruturas são antigas – diz Berna Menezes, coordenadora-geral da Assufrgs.

O comando do Diretório Central dos Estudantes (DCE), que venceu a esquerda estudantil na última eleição, com um perfil mais moderado, não está envolvido em nenhum dos três movimentos.

– Entendemos que algumas pautas são muito legítimas. A UFRGS acabou de fazer um vídeo institucional lindíssimo, mas quem vê por dentro percebe que não é o que enfrentamos no dia a dia. Às vezes, falta papel higiênico – diz Lucas Jones, presidente do DCE.


Seleção de professor em xeque

Com a expansão da universidade nos últimos anos, mais professores passaram a ser contratados. Ao mesmo tempo, cresceram os questionamentos quanto à forma de seleção dos mestres.

A crise estourou com a realização de uma banca em dezembro. O professor Salo de Carvalho acabou reprovado em razão de notas muito baixas atribuídas a ele pelo examinador Odone Sanguiné, docente da UFRGS. Outros dois avaliadores, ambos de fora da universidade, concederam a Salo notas mais altas e revelaram pressões internas para reprová-lo por suposta ausência de “perfil adequado”.

Agora o movimento reivindica a regulamentação dos concursos públicos para a contratação de professores e a anulação da banca realizada em dezembro de 2013.

A ocupação é liderada pelo Centro Acadêmico André da Rocha, presidido por Gabriela Armani, de 19 anos, aluna do 4º semestre do Direito. Ela não tem vínculo partidário e é iniciante no movimento estudantil. Na mobilização, há militantes de siglas como o PSOL. Ainda em dezembro, o PSTU denunciou suposta “armação” contra Salo, que acabou aprovado em seleção na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).


Alunos apontam carências

O Ocupa Reitoria teve início em 14 de maio, e os acampados criticam a precarização da universidade, citando dificuldades estruturais no restaurante universitário, na casa do estudante, nas salas de aula e em outros espaços. Expõem problemas que vão desde a iluminação dos campi até a falta de segurança. O discurso contrapõe a campanha em que a UFRGS comemora “80 anos de excelência”.

A iniciativa causou um racha na esquerda estudantil. Em recente assembleia, a maioria dos votantes, entre eles militantes de PSTU e PSOL, decidiu não fazer a ocupação. O argumento era de que seria preciso iniciar um movimento de conscientização e de busca de apoio na base de estudantes. À revelia da assembleia, integrantes de coletivos anarquistas decidiram insistir na ocupação.

A UNIVERSIDADE EM NÚMEROS

A UFRGS tem cerca de 36 mil alunos matriculados nos cursos presenciais de graduação e pós-graduação. São 2,6 mil servidores técnicos e 2,5 mil professores.

Desde 2008, quando foi implantado o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão de Universidades Federais (Reuni), com incentivo para aumento de vagas e abertura de novos cursos, a graduação da UFRGS registrou crescimento de 22%. Na pós-graduação, a ampliação foi de 30%.

O crescimento pode ser percebido nos números do curso de Direito, onde há reivindicações por regulamentação dos critérios para a contratação de professores por concurso. Nos últimos anos, o número de vagas oferecidas no Direito passou de 140 para 350.

Fundada em 1934, a UFRGS completará 80 anos no dia 13 de novembro de 2014. Neste ano, a universidade tem um orçamento de R$ 1,5 bilhão. A maior parte é usada no pagamento de folha de pessoal.


Entrevista com CARLOS ALEXANDRE NETTO, Reitor da UFRGS

“Temos um passivo grande”

Embora reconheça as demandas dos manifestantes, Carlos Alexandre Netto ressalta que a universidade é a melhor avaliada do Brasil pelo Ministério da Educação. O reitor destaca a inauguração de um novo restaurante universitário no segundo semestre e, no futuro, a construção de mais uma casa do estudante.

Por que movimentos reivindicatórios se multiplicam no ano em que a universidade completa 80 anos?

A universidade não é uma bolha. Ela reflete a sociedade. Os movimentos reivindicatórios que vemos nas ruas também estão aqui dentro.

Muitas reclamações estão relacionadas à infraestrutura. Há problemas nos restaurantes, casa do estudante e outros locais. Como o senhor avalia?

A universidade cresceu bastante em número de alunos, mas melhorou a infraestrutura. Temos prédios novos, melhores instalações, mas temos também um passivo muito grande. No passado, a universidade não tinha recursos para investir em infraestrutura. Hoje, estamos tendo de recuperar prédios defasados e, ao mesmo tempo, construir novos espaços. Nossa opção política é por fazer, sim, a expansão da universidade porque amplia a inclusão e, simultaneamente, melhorar a infraestrutura. Jamais esperaríamos melhorar a infraestrutura para depois fazer a expansão.

Mas existe déficit?

Com certeza, mas hoje já é muito menor do que há 10 anos.

Há possibilidade de anulação do concurso que culminou com a reprovação do professor Salo de Carvalho?

Os concursos são regulados por lei. Baseadas na lei, as universidades têm normativas. Temos uma normativa atual. Desde 2008, fizemos cerca de 500 concursos docentes, contratamos 750 pessoas. Menos de 0,1% desses concursos tiveram recursos administrativos pedindo anulação. Esse concurso do Direito foi homologado pela câmara de graduação. A análise é de que foi bem realizado, sem vício. Houve apresentação de dois recursos de nulidade, que devem ser apreciados na quarta-feira.

E poderá haver anulação?

Sim, claro que pode.

Como avalia as ocupações realizadas até agora?

Temos boa compreensão das demandas, mas não concordamos com a forma de apresentação. Ocupações e fechamento de portões não contribuem com as causas, isso gera distúrbio para a vida funcional da universidade. Somos abertos ao diálogo franco, mas também há muitas reivindicações que não são da competência da universidade, como aumento de bolsas e salários.