sábado, 29 de março de 2014

CIÊNCIA NO LIXO

REVISTA ISTO É N° Edição: 2314 | 28.Mar.14


Interdição de campus da USP por solo contaminado atrasa pesquisas, prejudica o trabalho dos cientistas e torna inúteis os R$ 18 milhões investidos na unidade pelas agências de fomento

Ana Carolina Nunes (acarol@istoe.com.br)


No número 1.000 da avenida Arlindo Bettio, em Ermelino Matarazzo, a 23 km do centro de São Paulo, o grupo de pesquisa liderado pelo professor Marcelo Nolasco busca uma técnica eficiente para tratar o esgoto de forma descentralizada. Quando finalizado, o projeto também poderá ajudar a reaproveitar 80% da água eliminada nas residências. A equipe já recebeu convite para apresentar o trabalho nos EUA e também passou por Finlândia e China. Mas os experimentos para obter resultados, feitos na pequena estação experimental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) no campus da zona leste da Universidade de São Paulo (USP), estão paralisados.


PREJUÍZO
Miguel Garay teve de sacrificar 30 camundongos utilizados
para pesquisas em biologia molecular celular

É mais uma entre as dezenas de pesquisas da unidade que foram total ou parcialmente interrompidas desde 9 de janeiro, quando uma decisão judicial interditou o prédio da EACH por conta da contaminação do solo, tornando a área imprópria para circulação de alunos, professores e funcionários. No loca funcionou um aterro onde eram depositados sedimentos das dragagens do leito do rio Tietê. A USP anunciou a volta às aulas para a segunda-feira 31, em espaços cedidos ou alugados por outras instituições, mas ainda não há definição sobre o destino das pesquisas, embora os prejuízos sejam evidentes.

Miguel Garay, professor de gerontologia, teve de sacrificar 30 camundongos utilizados para pesquisas em biologia molecular celular quando deixou seu laboratório. “Alguns consegui transportar, mas não posso usar os equipamentos que estão lá. É perda de tempo e de prazos e ainda atrapalha a formação de cientistas”, desabafa Garay. Se forem somados os reagentes, produtos vencidos e outros materiais biológicos perdidos, o prejuízo alcança US$ 10 mil. Os docentes calculam que ultrapassam R$ 18 milhões os investimentos das agências de fomento à pesquisa na unidade. Garay conseguiu um “cantinho” emprestado em um laboratório de um colega, no campus do Butantã. “Compartilho um espaço que já é pequeno e faço 20% do que deveria”, conta. “Hoje tenho seis alunos dando um jeito, mas e no futuro? Até quando?”, questiona. O pesquisador cobra uma posição da USP que, segundo ele, não dá respostas sobre como vão agir em relação às pesquisas.



O improviso tem sido a única saída. Com defesa de tese marcada para agosto, a mestranda em saúde pública Mariana Cardoso Chrispim fez adaptações na sua metodologia, como redução da frequência e do número de análises, além de alterar o material examinado, para conseguir cumprir o prazo. A professora de física experimental Adriana Tufaile, que tem quatro grandes projetos em andamento, contabiliza o prejuízo: “A paralisação pode deixar essas experiências obsoletas ou serem ultrapassadas por outros núcleos de pesquisa”, diz. Ela tem se reunido com um aluno bolsista em sua própria casa para não perder o cronograma. A diretora da EACH, Maria Cristina Toledo, afirmou por e-mail à ISTOÉ que a reitoria tem dado apoio aos cientistas “para solicitar adiamento de prazos ou mesmo modificações de pesquisas em vista das dificuldades impostas pela situação”.

Fotos: Rafael Hupsel/Ag. Istoé

sexta-feira, 28 de março de 2014

FUNCIONÁRIO DA UFSC INTEGROU AÇÃO DA PF

ZERO HORA 28 de março de 2014 | N° 17746

REVOLTA NO CAMPUS

Chefe da segurança relata uso de drogas e furto de dinheiro de carro da polícia



Um boletim de ocorrência registrado pelo diretor do Departamento de Segurança (Deseg) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Leandro Luiz de Oliveira, confirma que a operação realizada por agentes da Polícia Federal no campus foi realizada com ciência e acompanhamento do departamento, encarregado de zelar pela segurança física e pelo patrimônio da instituição.

O documento, número 027/2014, é uma espécie de ata, registrado pelo diretor para constar no próprio Departamento de Segurança. Até ontem à noite, a reitora não teria conhecimento do documento, segundo sua assessoria. Ex-policial e bacharel em Direito, Oliveira prefere não comentar o assunto e limita-se a dizer que o que tem a declarar “está no documento”.

O boletim de 45 linhas registrado no fim da tarde de terça-feira fornece relatos minuciosos do que ocorreu no campus. De manhã, segundo o documento, três agentes já monitoravam a região com o conhecimento da UFSC “pois no local havia vários consumidores de drogas e suspeita de tráfico”.

Os agentes federais, segundo Oliveira, solicitaram ao Deseg acompanhamento da operação. “Ao chegarem ao local já se podia, visivelmente, observar o consumo de substância conhecida como maconha por algumas pessoas”, relata o diretor do Departamento. A PF, segundo Oliveira, iniciou a abordagem de alguns usuários. “Os agentes conduziam com tranquilidade a operação”, descreveu, “tendo já conseguido pelo menos quatro pessoas detidas”.

Oliveira relata ainda no BO que a situação era conduzida de maneira tranquila quando “ouviram palavras de ordem contra a polícia”.

Segundo ele, os alunos foram “incitados” e “a região foi tomada por estudantes que cercavam as viaturas da PF e da segurança do campus”. O diretor relatou ainda que da viatura do Deseg tombada “foram retirados uma máquina fotográfica da UFSC, um colete de segurança e a carteira” de um servidor.

Da viatura da PF, segundo o documento, foram “subtraídos” um GPS, a carteira de um dos agentes, um talão de cheques e dinheiro.

Após o confronto, na terça-feira, os estudantes ocuparam o prédio da reitoria da instituição, onde permaneciam até o final da noite de ontem.

Em uma assembleia, eles definiram ontem que só deixariam o local se a reitora Roselane Neckel atendesse a uma série de exigências.

DIÁRIO CATARINENSE



Após confronto na terça-feira, estudantes ocuparam o prédio da reito

quinta-feira, 27 de março de 2014

POLÍCIA E REITORIA EM PÉ DE GUERRA

ZERO HORA 27 de março de 2014 | N° 17745


CONFRONTO NO CAMPUS. Diante de ataque da UFSC a ação antidrogas, superintendente da PF diz que reitora quer criar “república de maconheiros”



Depois de um dia de guerra no campus, a quarta-feira foi de batalhas verbais na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em resposta à nota em que a reitoria repudiou a ação policial contra estudantes, o superintendente da Polícia Federal (PF) catarinense, Paulo César Cassiano, afirmou que a reitora Roselane Neckel “tem problemas de memória ou de caráter” e quer transformar a universidade em “uma república de maconheiros”.

Oviolento conflito que originou o bate-boca ocorreu na terça-feira, no campus da Trindade, em Florianópolis. Depois de prender um aluno de Geografia que levava cerca de cinco cigarros de maconha e estava com quatro colegas, agentes da PF tiveram seu carro cercado por 300 estudantes e professores que exigiam a liberação do rapaz. O choque da Polícia Militar foi chamado. No confronto, viaturas foram viradas e depredadas por acadêmicos, enquanto policiais atacaram com gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral. Os cinco estudantes que estariam envolvidos com a droga foram detidos. Em resposta à ação policial, alunos ocuparam a reitoria.

Reitora diz que não aceita repressão na universidade

A polêmica repercutiu em Brasília, onde o deputado federal Renato Simões (PT-SP), da comissão de Direitos Humanos da Câmara, solicitou que o Ministério da Justiça seja interpelado e investigue a ação da PF.

– À primeira vista, a Polícia Federal extrapolou suas atribuições e usou violência acima do necessário – disse.

A briga entre reitoria e PF foi desencadeada pela nota em que Roselane afirmou que a comunidade “foi vítima de uma ação violenta e desnecessária, ferindo profundamente a autonomia universitária e os direitos humanos”. O delegado Cassiano reagiu.

– Não posso deixar de externar meu repudio à posição da reitora, que não contribui para o enfrentamento do crime que acontece sob o olhar dela. Autonomia universitária não deve ser confundida com libertinagem. É sabido que a universidade é um antro de crimes. E a reitora quer transformar a universidade numa república de maconheiros – afirmou.

À tarde, antes de audiência pública sobre o episódio, Roselane garantiu, diante de centenas de alunos, ter provas de que a polícia não pode entrar no campus sem o aval dela.

– Tenho provas disso, gravações. Não podemos aceitar quais quer ações de repressão violenta dentro do campus – declarou.


Acesso da PF estava liberado


Enquanto a reitora afirmava que a polícia não poderia entrar no campus sem seu aval, emergiram documentos do ano passado que confirmam uma autorização da UFSC para que a PF investigasse o tráfico no local. A informação está em ofícios trocados em julho e agosto pela PF e por Roselane e em um termo do chefe de gabinete da reitoria, Carlos Vieira.

Vieira declara que “há, infelizmente, a prática de tráfico e uso de entorpecentes no campus, que solicitou o apoio ao Departamento de Polícia Federal para que (...) tente coibir tal prática criminosa, que permite o acesso ao campus por parte da Polícia Federal, inclusive de instalações físicas”.

A jurisdição da segurança dentro do campus é um tema que tem gerado muita polêmica na UFSC. Legalmente, a área é federal e está sob guarda da Polícia Federal e do departamento interno de segurança da instituição, e não das polícias estaduais.





Alunos fazem exigências para sair


Os estudantes acampados desde a noite de terça-feira na reitoria da UFSC afirmam que não deixarão o local enquanto suas reivindicações não forem atendidas. Ontem, na audiência pública que contou com a participação da reitora, eles apresentaram uma lista de exigências.

Entre os pleitos estão a legalização de festas dentro do campus, a punição dos policiais envolvidos no confronto, o veto à entrada da polícia nas dependências da universidade e a elaboração de um plano de iluminação para a área da UFSC.

– Só vamos deixar a reitoria se for anulado o documento que permite a entrada da polícia a partir de qualquer telefonema ou pedido de ajuda feito do local. Somos contra isso, porque abre brechas que possibilitam o que aconteceu ontem – afirmou uma representante dos alunos na ocupação, que não quis informar seu nome.

Pela manhã, a reitora Roselane pediu ao ministro da Educação que ofereça apoio a professores e alunos agredidos. A nota de repúdio divulgada pela UFSC deve ser transformada em um documento que será entregue aos ministérios da Educação e da Justiça.




ENTREVISTA - “Ninguém me forçou”


Ontem, o Diário Catarinense conversou no campus com um dos alunos presos com maconha. Ele pediu para não ser identificado.

Como foi a abordagem?

Estudante – Estávamos numa mesa externa. Eles foram direto na mesa.

Vocês estavam usando alguma substância proibida?

Estudante – Não estávamos fumando. Tinha 10 gramas no bolso

Você foi forçado a entrar no carro dos policiais?

Estudante – Ninguém me forçou. Estava saindo para assinar o termo circunstanciado, tranquilo.

Por que houve o confronto?

Estudante – As pessoas que estavam próximas viram a cena. Por enquanto, não vou falar mais nada.

ESTUDANTE DETIDO

quarta-feira, 26 de março de 2014

CONFUSÃO APÓS PRISÃO DE ALUNO NA UFSC


ZERO HORA 26 de março de 2014 | N° 17744

CAMPUS DA UFSC. Confusão após prisão de aluno

Estudante teria sido flagrado fumando maconha, o que gerou protesto da comunidade acadêmica



Um tumulto entre estudantes e policiais federais e militares tomou conta do campus Trindade da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na tarde de ontem, e terminou com a invasão da reitoria por parte dos alunos. O motivo da confusão foi a prisão de um estudante de Geografia que teria sido flagrado fumando maconha no bosque da universidade, localizado entre o planetário e o Centro de Filosofia e Humanas (CFH).

Orapaz ficou detido dentro do carro da Polícia Federal (PF), o que gerou grande mobilização de estudantes e também de professores. Mais de 300 membros da comunidade acadêmica se manifestaram contra a prisão ao cercarem o carro da polícia e impedirem a saída do veículo do campus.

Gritos de “Fora PM no campus” ecoaram pelo bosque onde aconteceu a confusão. Uma professora teria subido em cima do capô do carro da PF e dito: “Ninguém vai sair daqui”.

A reação da Polícia Militar ocorreu por volta das 17h40min, com a chegada da tropa de choque. Uma das autoridades da UFSC tentou negociar, propondo que o estudante de Geografia – que estaria portando cinco cigarros de maconha – fosse à delegacia no carro da UFSC e assinasse um termo circunstanciado. Os estudantes aceitaram, mas disseram que só deixariam o local com o colega solto.

A tropa de choque esteve presente com 10 policiais militares, além de outros seis PMs do patrulhamento de área. Depois de jogar gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral em estudantes e professores da UFSC, o grupamento deixou o campus por volta das 18h.

PF à paisana teria abordado estudantes dentro do campus

O amigo do estudante de Geografia preso pela Polícia Federal contou à reportagem que os dois estavam com outros dois colegas quando foram abordados por três policiais federais à paisana. Os quatro alunos estavam sentados atrás do CFH.

De acordo com o aluno de ciências sociais, o grupo não estava fumando maconha. O rapaz disse que o amigo, que foi detido, estava com uma quantidade pequena da erva, o que renderia cerca de cinco cigarros.

Ele contou que os policiais revistaram as mochilas e, quando encontraram a maconha, levaram o estudante de Geografia para o bosque da UFSC. Uma viatura descaracterizada da PF estava estacionada no bosque, conforme relato do amigo do estudante preso. A confusão teria começado em seguida, quando o aluno foi conduzido até a viatura.


Em protesto, houve ocupação da reitoria


Centenas de estudantes ocuparam a reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) na noite de ontem. Após montarem uma barricada na frente do edifício, eles aguardaram por um encontro com a reitora, Roselane Neckel, com a qual tentam um acordo para que não haja mais policiais no campus.

– Só sairemos daqui quando conseguirmos um documento que nos garanta isso – disse a estudante de psicologia Gabriela Celestino, uma das primeiras a ocupar o prédio.

Por meio da assessoria de imprensa, a UFSC disse que desconhecia a ação policial no campus e que a partir de hoje irá investigar o caso.

Cinco estudantes foram levados para a sede da PF para prestar depoimento a respeito do tumulto. O grupo foi preso em flagrante – por motivo não confirmado. Eles chegaram à PF por volta de 18h40min.


Contrários à detenção de um aluno, estudantes viraram viaturas da polícia e acuaram a tropa de choque; depois, houve novos protestos