sexta-feira, 28 de novembro de 2014

FURTO DE MOCHILAS EM UNIVERSIDADES DO RIO

Do G1 Rio 28/11/2014 06h31

Vídeo mostra suspeito de furto de mochilas em universidades do Rio. Homem teria efetuado roubos em menos de 30 minutos em 2 faculdades. Câmeras registraram jovem saindo com mochila diferente da que entrou.





Alunos de universidades da Zona Sul do Rio estão assustados com roubos dentro das salas de aula. Na última segunda-feira (24) um único homem efetuou dois roubos em menos de 30 minutos em duas universidades diferentes, segundo vítimas. Ao procurar imagens de câmeras de segurança, um dos furtados, Danilo Machado, de 19 anos, aluno de administração pública da UniRio, em Botafogo, reconheceu sua mochila e conseguiu a imagem de um suspeito (veja acima).

O vídeo mostra que o homem entra na UniRio com uma mochila azul (pertencente a outra vítima) e sai com uma mochila vermelha (de Danilo). Ao divulgar a imagem do ladrão nas redes sociais e grupos da UniRio, constatou-se que ele não era conhecido dos estudantes.

Danilo contou que pouco antes de a aula começar, por volta das 15h40, se retirou da sala para resolver problemas pessoais. Ele diz que pediu que amigos olhassem seu material. Ao retornar, no entanto, foi surpreendido ao não encontrar a mochila. O ladrão deixou outra mochila no mesmo lugar, segundo Danilo.

Ao vasculhar o interior da mochila deixada, o jovem encontrou um caderno onde estava escrito um e-mail, que imaginou ser do dono do material roubado. Entrou em contato com Vinícius Santos, de 36 anos, dono do endereço eletrônico, e constatou que ele também havia sido vítima do mesmo homem minutos antes.

Furto na biblioteca

Vinícius é aluno de fisioterapia do Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação (IBMR), no Catete, Zona Sul, e foi furtado dentro da biblioteca da sua universidade quando procurava um determinado livro para estudar. Segundo a vítima, o roubo aconteceu por volta das 15h20 e somente uma das sete pessoas que estavam na biblioteca percebeu a movimentação do ladrão, mas mesmo assim não se manifestou por achar que ele tinha boa aparência.

Na mochila de Danilo havia objetos pessoais e um notebook, que seria utilizado em uma apresentação. Na de Vinícius havia roupas, livros, um caderno e sua carteira com cartões de crédito e cerca de R$ 500, segundo ele. Apenas os objetos sem valores ficaram na mochila substituída.

As duas vítimas disseram que registraram o furto na 10ª DP (Botafogo). A Polícia Civil informou que o caso foi registrado como crime de furto no interior de estabelecimento de ensino e que os agentes solicitaram as imagens das câmeras de segurança do estabelecimento para análise. Danilo diz que conseguiu com a reitoria as imagens e que conseguiu identificar um homem, que parecia um estudante da unidade.

As vítimas reclamaram da fácil acessibilidade das pessoas no interior de ambos os campus. Eles informaram que falta segurança. “Assim como aconteceu isso, pode acontecer um assassinato facilmente”, disse o aluno do IBMR, Vinícius Santos.

Sindicância aberta

Em nota a UniRio informou que será aberta uma sindicância para apurar os fatos a partir da análise das imagens e da convocação dos responsáveis pela vigilância patrimonial. A universidade disse ainda, que as câmeras instaladas no campus são uma medida de segurança que visa prevenir e esclarecer esse tipo de problema. No caso em questão, a UniRio disse, que as imagens capturadas que permitiram esclarecer o ocorrido.

O Centro Universitário IBMR confirmou o registro do incidente na biblioteca das dependências do Campus Catete no dia 24 de novembro. A instituição lamentou o ocorrido e informou que conta com uma equipe que zela pela segurança de suas unidades, além de recomendar que os estudantes não deixem seus pertences desassistidos dentro de suas instalações. O IBMR destacou ainda que possui guarda-volumes na Biblioteca.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

ABUSOS SEXUAIS NA FACULDADE DE MEDICINA DA USP

TV GLOBO, FANTÁSTICO - Edição do dia 23/11/2014


Relatório aponta casos de abusos sexuais na Medicina da USP. Ao Ministério Público, já chegaram denúncias de oito casos de abusos sexuais na Faculdade de Medicina da USP.






O Fantástico revela as conclusões do relatório que apontou barbaridades que ocorrem na principal universidade do país.

A melhor faculdade de Medicina do país, referência em ensino e pesquisa, é alvo de denúncias. Abusos sexuais, violência recorrente contra calouros no trote, racismo. Tudo isso, segundo os acusadores, dentro de instalações da Universidade de São Paulo, a USP.

“Eles começaram a me beijar, a passar a mão nas minhas partes íntimas, nos meus seios, enfiaram a mão dentro na minha calça”, disse uma estudante.

“Não tenho memória mais do que aconteceu. Eu fui acordar no hospital em um atendimento do pronto-socorro”, contou outra estudante.

Esses depoimentos foram dados por estudantes em uma audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo, em 11 de novembro.

Ao Ministério Público, já chegaram denúncias de oito casos de abusos sexuais na Medicina da USP.

“É um processo muito desgastante. Elas ficam muito expostas”, disse Ana Luiza Cunha, do coletivo feminista Geni.

A promotoria de Justiça de Direitos Humanos do Ministério Público de São Paulo abriu uma investigação para apurar denúncias de atos de exclusão, violência física e moral dentro da faculdade de Medicina da USP. A promotora do caso, Paula de Figueiredo, relata que as vítimas procuraram a diretoria, fizeram denúncias, mas não encontraram apoio.

Na última terça-feira (18), a delegacia da mulher indiciou um homem acusado de estuprar uma aluna da faculdade durante uma festa no campus em 2011. Ele era funcionário terceirizado da USP e trabalhava durante o evento, organizado pelo Centro Acadêmico da faculdade.

Diante de tantas denúncias, a Congregação da Medicina, órgão máximo da faculdade, formou uma comissão de professores, funcionários e alunos para apurar os abusos e propor caminhos que acabem com os casos de estupro e intolerância dentro da faculdade.

A coordenação da comissão ficou sob responsabilidade do professor titular Paulo Saldiva, um pesquisador de renome internacional. No dia 11, ele pediu afastamento do cargo de professor titular do curso de Medicina por discordar de como a direção da faculdade conduzia o processo.

“A gente podia ter sido melhor, bem melhor. Faltou um pouco a gente abrir um espaço, abrir a porta da sala, para que um aluno venha e manifeste seus problemas”, disse Paulo Saldiva, ex-presidente da comissão.

“É uma decisão dele, pessoal. Ele sempre teve todo o apoio da direção da casa. Nós estamos preocupados com isso. Tanto que criamos a comissão, presidida por ele”, destaca José Otávio Costa Auler Jr, diretor da Faculdade de Medicina.

Com a saída de Saldiva, o professor de clínica geral Milton de Arruda Martins assumiu a coordenação do grupo.

“Saber que uma aluna foi estuprada em uma festa e ela não se sentiu acolhida pela nossa instituição é uma coisa que chama a nossa responsabilidade, com certeza”, disse o professor Milton de Arruda Martins, presidente da comissão.

Após cinco meses, a comissão finalizou nesta semana um relatório sobre os casos de abusos. O documento avalia que “O retrato do que se passa no complexo da faculdade (...) não é nada abonador para instituição".

“Dá para afirmar que existem sérios problemas nos cursos de Medicina”, destaca o professor Milton.

Logo no primeiro item, o grupo aponta: "A violência sexual ocorre de forma repetida na faculdade".

Segundo denúncias feitas à comissão, "houve relatos de financiamento de atividades com prostitutas" nas festas e que "o abuso moral é prática constante" na faculdade

O documento também relata que "as dependências do complexo experimentam rotineiramente situação de consumo excessivo de drogas lícitas, ilícitas e de prescrição" ou seja, remédios que precisam de receita médica.

A audiência pública da Assembleia Legislativa que você viu no começo desta reportagem aconteceu no mesmo dia em que o Doutor Paulo Saldiva pediu afastamento do cargo de professor titular. Durante a audiência, as alunas contaram detalhes das festas.

“Eu gritava para que eles parassem. Um deles ficou muito bravo comigo, ele gritava pra eu parar de fazer aquilo porque ele sabia que eu tava querendo”, disse uma aluna.

“Alunos da própria faculdade cantavam que ‘estupro sim, o que é que tem? Se reclamar vou estuprar você também’”, conta outra aluna.

O deputado estadual que convocou a audiência diz que houve tentativas de cancelar o evento.

Fantástico: Quem pediu ao senhor que a audiência não fosse realizada?
Adriano Diogo, deputado estadual: O diretor da faculdade.
Fantástico: O que ele disse?
Adriano Diogo: Que não realizasse a audiência. Que não realizasse. Que eu não podia envolver o nome da instituição nessas práticas. Ele mesmo ligou.

“Isso é uma mentira. É uma mentira do parlamentar”, afirma José Otávio Costa Auler Jr, diretor da Faculdade de Medicina.

O diretor da faculdade diz que pediu apenas que a audiência fosse realizada em outra data.

“Eu disse a ele apenas isso: ‘Deputado, neste momento, eu preciso de uma posição oficial da faculdade. Se o senhor quiser esperar, o senhor que decide. Eu não posso ir sem uma posição oficial da faculdade’”, disse o diretor da faculdade de Medicina.

Na próxima quarta (26), a congregação, o órgão máximo de cada unidade da USP, deve se reunir para analisar o relatório.

Enquanto isso, as festas na faculdade de Medicina estão proibidas, uma medida que tem o apoio da Atlética e do Centro Acadêmico.

“A gente tem que rever como que a gente tem trabalhado dentro da faculdade”, afirmou Murilo Germano, presidente do Centro Acadêmico.

“A nossa grande preocupação é que isso não volte a acontecer. Um estupro é caso de polícia, não é caso de faculdade”, disse Diego Pestana, presidente da Atlética.

No relatório, o grupo propõe que as festas, quando voltarem a ocorrer, não tenham destilados nem sejam 'open bar', aquelas em que se paga um preço fixo para beber o quanto quiser.

O relatório também sugere a criação de uma instância permanente para que casos de abusos sexuais possam ser denunciados, investigados e punidos.

Fantástico: A Faculdade de Medicina falhou com essas meninas?
Diretor: Eu não diria que a faculdade falhou porque o que chegou ao nosso conhecimento, nós apuramos. Eu acho que é um momento de reflexão. A partir desta semana, nós vamos ter um novo momento, um novo projeto para a faculdade de Medicina.

“A gente não pode deixar que isso volte a acontecer. Na nossa casa? Como assim? Não posso deixar isso acontecer na escola que eu frequento”, destacou o presidente da Atlética.

sábado, 22 de novembro de 2014

VIOLÊNCIA CRÔNICA DA FACULDADE DE MEDICINA DE SP

REVISTA EXAME, 22/11/2014 09:24

Relatório indica violência crônica na FMUSP



Cecília Bastos /Jornal da USP/ USP Imagens


USP: a FMUSP informou, na última semana, que criará um Centro de Defesa dos Direitos Humanos

Do Estadão Conteúdo

São Paulo - O relatório final produzido por comissão interna da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) apontou que a violência sexual "ocorre de forma repetida" no espaço da instituição. Além disso, há relatos de racismo, uso de drogas e consumo abusivo de álcool. O documento, com propostas de mudanças na universidade, foi enviado anteontem aos membros da congregação da FMUSP e deverá ser votado na quarta-feira, 26, como revelou ontem o jornal Folha de S. Paulo.

Em um dos cursos mais concorridos da USP, professores e alunos afirmaram que o abuso moral é prática constante. Uma das principais preocupações é a recepção dos calouros, evento em que casos de violência costumam acontecer.

Na última semana, duas alunas relataram ter sido estupradas em festas da FMUSP, durante audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Um dos casos aconteceu há três anos. O agressor foi indiciado pela polícia nesta semana, como revelou o Estado.

Nas festas, o relatório afirma que "há intenso consumo de álcool durante toda a semana". A situação também é grave quando mencionado o uso de drogas. "Experimentam rotineiramente situação de consumo excessivo de drogas lícitas, ilícitas e de prescrição."

Propostas. O documento propõe medidas para melhorar a situação da universidade e influenciar "o processo de mudança de atitudes e valores voltados ao respeito, ética e dignidade" nas escolas médicas do País. Entre elas, está a criação de regras para consumo de álcool nas dependências do complexo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP).

Outra proposta é a criação de instâncias para acolhimento de denúncias, apoio às vítimas e apuração dos fatos. A FMUSP informou, na última semana, que criará órgão com essas funções, chamado Centro de Defesa dos Direitos Humanos. Há ainda sugestão de ampliar os sistemas de vigilância eletrônica.

A médio e longo prazos, os membros da comissão propuseram medidas apresentadas por alunos na audiência da Alesp, como a incorporação de conteúdos de direitos humanos nas atividades da universidade. Há ainda sugestão de revisão nas atividades de recepção dos calouros e criação de regras para autorização de festas.

Em nota, a FMUSP "reafirmou seu compromisso com o combate a qualquer tipo de abuso, seja físico ou moral" no câmpus. A instituição afirmou que abriu sindicância para apurar todos os casos que foram denunciados, além de criar comissões para apurar a situação e propor soluções. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

MEDICINA VIOLENTA

O Estado de S.Paulo 17 Novembro 2014 | 02h 03

OPINIÃO



Considerada a melhor do gênero no País e com prestígio internacional, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) está envolvida em graves denúncias de violência sexual e agressão a mulheres. O Ministério Público Estadual (MPE) menciona a ocorrência de oito estupros nos últimos anos. A situação dentro da faculdade é tão difícil para as alunas, por causa da continuidade dos abusos e de sua impunidade, que algumas sentiram a necessidade de criar um grupo - o Coletivo Feminista Geni - para se protegerem da violência praticada desde o trote e que se perpetua ao longo do curso, sobretudo nas festas. É lamentável que tudo isso esteja ocorrendo em um ambiente no qual se formam pessoas que passarão a vida cuidando de pessoas. Não se pode tolerar esse tipo de comportamento criminoso.

A gravidade das denúncias levou a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) a realizar uma audiência pública, na qual duas alunas da FMUSP relataram estupros sofridos em 2011 e 2013 em festas promovidas por alunos da "Pinheiros", nome pelo qual é conhecida a FMUSP em razão da sua localização. Uma das estudantes, de 24 anos e atualmente no 4.º ano da faculdade, afirmou ter sofrido dois estupros ao longo de 2011 em festas organizadas pelo Centro Acadêmico Oswaldo Cruz. Segundo a aluna, que integra o Coletivo Feminista Geni, um dos episódios aconteceu na semana de integração de calouros. No fim da festa, ela foi abordada por um rapaz que a levou para uma sala de materiais, escura. "Ele começou a me agarrar, a tentar me beijar", relatou. O segundo aconteceu numa festa também organizada dentro de uma área de propriedade da USP.

Outra aluna do grupo Geni relatou a forma como os trotes são feitos. "Eles separam as meninas dos meninos, colocam elas sentadas no chão e formam uma roda em volta, em pé." Em seguida, os rapazes - na maioria, veteranos - entoam um hino que contém apologia ao estupro. "Muitas delas falam que ficam com muito medo", disse a estudante.

Ao relatarem os casos, as alunas se referiram à existência de um pacto de silêncio. Garantiram que nenhum dos casos havia sido apurado e que, ao fazer as denúncias, sofreram perseguição de outros alunos. De acordo com os estudantes de Medicina ouvidos na audiência pública, a violência sexual é "internalizada" na cultura da FMUSP logo no primeiro ano.

Na audiência realizada na Assembleia, pela primeira vez as alunas se dispuseram a falar sobre os episódios em público. Antes, os relatos sobre os casos eram feitos apenas em particular, para amigos ou familiares. Diante dessas denúncias, foi instaurado inquérito pelo MPE, que solicitou à FMUSP informações sobre os trotes violentos e a violação de direitos humanos nas festas.

É inaceitável que situações como essas existam numa instituição do renome e da tradição da FMUSP. Tais atos são crimes e tolerá-los - como se fossem algo de menor importância, porque praticados num clima universitário onde as regras não seriam tão "rígidas" - equivale à cumplicidade. E esta exige punição exemplar. A mentalidade de que a preservação da imagem de uma instituição aconselharia "prudência" ou silêncio é - não há outra palavra - criminosa, pois o ambiente de impunidade é propício à perpetuação desses atos. Prestígio se constrói com competência e transparência, não com silêncios cúmplices.

Infelizmente, não é de hoje, nem está restrito à Faculdade de Medicina da USP, esse tipo de comportamento e de mentalidade que desrespeita e agride as mulheres. É hora de repensar a educação no âmbito tanto das famílias como das escolas e das universidades. Não é hora de contemporizar.

Violência sexual é crime, quer seja entre desconhecidos, quer seja entre colegas de uma faculdade. Minimizar a sua gravidade, aconselhar silêncio, fingir que foi simplesmente uma atitude "que passou um pouco dos limites" - e por isso não exige punição - são atitudes condenáveis. Inaceitáveis em qualquer tempo e em qualquer lugar, mas muito especialmente numa faculdade de medicina.


FONTE: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,medicina-violenta-imp-,1593887http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,medicina-violenta-imp-,1593887