TV GLOBO, FANTÁSTICO - Edição do dia 23/11/2014
Relatório aponta casos de abusos sexuais na Medicina da USP. Ao Ministério Público, já chegaram denúncias de oito casos de abusos sexuais na Faculdade de Medicina da USP.
O Fantástico revela as conclusões do relatório que apontou barbaridades que ocorrem na principal universidade do país.
A melhor faculdade de Medicina do país, referência em ensino e pesquisa, é alvo de denúncias. Abusos sexuais, violência recorrente contra calouros no trote, racismo. Tudo isso, segundo os acusadores, dentro de instalações da Universidade de São Paulo, a USP.
“Eles começaram a me beijar, a passar a mão nas minhas partes íntimas, nos meus seios, enfiaram a mão dentro na minha calça”, disse uma estudante.
“Não tenho memória mais do que aconteceu. Eu fui acordar no hospital em um atendimento do pronto-socorro”, contou outra estudante.
Esses depoimentos foram dados por estudantes em uma audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo, em 11 de novembro.
Ao Ministério Público, já chegaram denúncias de oito casos de abusos sexuais na Medicina da USP.
“É um processo muito desgastante. Elas ficam muito expostas”, disse Ana Luiza Cunha, do coletivo feminista Geni.
A promotoria de Justiça de Direitos Humanos do Ministério Público de São Paulo abriu uma investigação para apurar denúncias de atos de exclusão, violência física e moral dentro da faculdade de Medicina da USP. A promotora do caso, Paula de Figueiredo, relata que as vítimas procuraram a diretoria, fizeram denúncias, mas não encontraram apoio.
Na última terça-feira (18), a delegacia da mulher indiciou um homem acusado de estuprar uma aluna da faculdade durante uma festa no campus em 2011. Ele era funcionário terceirizado da USP e trabalhava durante o evento, organizado pelo Centro Acadêmico da faculdade.
Diante de tantas denúncias, a Congregação da Medicina, órgão máximo da faculdade, formou uma comissão de professores, funcionários e alunos para apurar os abusos e propor caminhos que acabem com os casos de estupro e intolerância dentro da faculdade.
A coordenação da comissão ficou sob responsabilidade do professor titular Paulo Saldiva, um pesquisador de renome internacional. No dia 11, ele pediu afastamento do cargo de professor titular do curso de Medicina por discordar de como a direção da faculdade conduzia o processo.
“A gente podia ter sido melhor, bem melhor. Faltou um pouco a gente abrir um espaço, abrir a porta da sala, para que um aluno venha e manifeste seus problemas”, disse Paulo Saldiva, ex-presidente da comissão.
“É uma decisão dele, pessoal. Ele sempre teve todo o apoio da direção da casa. Nós estamos preocupados com isso. Tanto que criamos a comissão, presidida por ele”, destaca José Otávio Costa Auler Jr, diretor da Faculdade de Medicina.
Com a saída de Saldiva, o professor de clínica geral Milton de Arruda Martins assumiu a coordenação do grupo.
“Saber que uma aluna foi estuprada em uma festa e ela não se sentiu acolhida pela nossa instituição é uma coisa que chama a nossa responsabilidade, com certeza”, disse o professor Milton de Arruda Martins, presidente da comissão.
Após cinco meses, a comissão finalizou nesta semana um relatório sobre os casos de abusos. O documento avalia que “O retrato do que se passa no complexo da faculdade (...) não é nada abonador para instituição".
“Dá para afirmar que existem sérios problemas nos cursos de Medicina”, destaca o professor Milton.
Logo no primeiro item, o grupo aponta: "A violência sexual ocorre de forma repetida na faculdade".
Segundo denúncias feitas à comissão, "houve relatos de financiamento de atividades com prostitutas" nas festas e que "o abuso moral é prática constante" na faculdade
O documento também relata que "as dependências do complexo experimentam rotineiramente situação de consumo excessivo de drogas lícitas, ilícitas e de prescrição" ou seja, remédios que precisam de receita médica.
A audiência pública da Assembleia Legislativa que você viu no começo desta reportagem aconteceu no mesmo dia em que o Doutor Paulo Saldiva pediu afastamento do cargo de professor titular. Durante a audiência, as alunas contaram detalhes das festas.
“Eu gritava para que eles parassem. Um deles ficou muito bravo comigo, ele gritava pra eu parar de fazer aquilo porque ele sabia que eu tava querendo”, disse uma aluna.
“Alunos da própria faculdade cantavam que ‘estupro sim, o que é que tem? Se reclamar vou estuprar você também’”, conta outra aluna.
O deputado estadual que convocou a audiência diz que houve tentativas de cancelar o evento.
Fantástico: Quem pediu ao senhor que a audiência não fosse realizada?
Adriano Diogo, deputado estadual: O diretor da faculdade.
Fantástico: O que ele disse?
Adriano Diogo: Que não realizasse a audiência. Que não realizasse. Que eu não podia envolver o nome da instituição nessas práticas. Ele mesmo ligou.
“Isso é uma mentira. É uma mentira do parlamentar”, afirma José Otávio Costa Auler Jr, diretor da Faculdade de Medicina.
O diretor da faculdade diz que pediu apenas que a audiência fosse realizada em outra data.
“Eu disse a ele apenas isso: ‘Deputado, neste momento, eu preciso de uma posição oficial da faculdade. Se o senhor quiser esperar, o senhor que decide. Eu não posso ir sem uma posição oficial da faculdade’”, disse o diretor da faculdade de Medicina.
Na próxima quarta (26), a congregação, o órgão máximo de cada unidade da USP, deve se reunir para analisar o relatório.
Enquanto isso, as festas na faculdade de Medicina estão proibidas, uma medida que tem o apoio da Atlética e do Centro Acadêmico.
“A gente tem que rever como que a gente tem trabalhado dentro da faculdade”, afirmou Murilo Germano, presidente do Centro Acadêmico.
“A nossa grande preocupação é que isso não volte a acontecer. Um estupro é caso de polícia, não é caso de faculdade”, disse Diego Pestana, presidente da Atlética.
No relatório, o grupo propõe que as festas, quando voltarem a ocorrer, não tenham destilados nem sejam 'open bar', aquelas em que se paga um preço fixo para beber o quanto quiser.
O relatório também sugere a criação de uma instância permanente para que casos de abusos sexuais possam ser denunciados, investigados e punidos.
Fantástico: A Faculdade de Medicina falhou com essas meninas?
Diretor: Eu não diria que a faculdade falhou porque o que chegou ao nosso conhecimento, nós apuramos. Eu acho que é um momento de reflexão. A partir desta semana, nós vamos ter um novo momento, um novo projeto para a faculdade de Medicina.
“A gente não pode deixar que isso volte a acontecer. Na nossa casa? Como assim? Não posso deixar isso acontecer na escola que eu frequento”, destacou o presidente da Atlética.
Relatório aponta casos de abusos sexuais na Medicina da USP. Ao Ministério Público, já chegaram denúncias de oito casos de abusos sexuais na Faculdade de Medicina da USP.
O Fantástico revela as conclusões do relatório que apontou barbaridades que ocorrem na principal universidade do país.
A melhor faculdade de Medicina do país, referência em ensino e pesquisa, é alvo de denúncias. Abusos sexuais, violência recorrente contra calouros no trote, racismo. Tudo isso, segundo os acusadores, dentro de instalações da Universidade de São Paulo, a USP.
“Eles começaram a me beijar, a passar a mão nas minhas partes íntimas, nos meus seios, enfiaram a mão dentro na minha calça”, disse uma estudante.
“Não tenho memória mais do que aconteceu. Eu fui acordar no hospital em um atendimento do pronto-socorro”, contou outra estudante.
Esses depoimentos foram dados por estudantes em uma audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo, em 11 de novembro.
Ao Ministério Público, já chegaram denúncias de oito casos de abusos sexuais na Medicina da USP.
“É um processo muito desgastante. Elas ficam muito expostas”, disse Ana Luiza Cunha, do coletivo feminista Geni.
A promotoria de Justiça de Direitos Humanos do Ministério Público de São Paulo abriu uma investigação para apurar denúncias de atos de exclusão, violência física e moral dentro da faculdade de Medicina da USP. A promotora do caso, Paula de Figueiredo, relata que as vítimas procuraram a diretoria, fizeram denúncias, mas não encontraram apoio.
Na última terça-feira (18), a delegacia da mulher indiciou um homem acusado de estuprar uma aluna da faculdade durante uma festa no campus em 2011. Ele era funcionário terceirizado da USP e trabalhava durante o evento, organizado pelo Centro Acadêmico da faculdade.
Diante de tantas denúncias, a Congregação da Medicina, órgão máximo da faculdade, formou uma comissão de professores, funcionários e alunos para apurar os abusos e propor caminhos que acabem com os casos de estupro e intolerância dentro da faculdade.
A coordenação da comissão ficou sob responsabilidade do professor titular Paulo Saldiva, um pesquisador de renome internacional. No dia 11, ele pediu afastamento do cargo de professor titular do curso de Medicina por discordar de como a direção da faculdade conduzia o processo.
“A gente podia ter sido melhor, bem melhor. Faltou um pouco a gente abrir um espaço, abrir a porta da sala, para que um aluno venha e manifeste seus problemas”, disse Paulo Saldiva, ex-presidente da comissão.
“É uma decisão dele, pessoal. Ele sempre teve todo o apoio da direção da casa. Nós estamos preocupados com isso. Tanto que criamos a comissão, presidida por ele”, destaca José Otávio Costa Auler Jr, diretor da Faculdade de Medicina.
Com a saída de Saldiva, o professor de clínica geral Milton de Arruda Martins assumiu a coordenação do grupo.
“Saber que uma aluna foi estuprada em uma festa e ela não se sentiu acolhida pela nossa instituição é uma coisa que chama a nossa responsabilidade, com certeza”, disse o professor Milton de Arruda Martins, presidente da comissão.
Após cinco meses, a comissão finalizou nesta semana um relatório sobre os casos de abusos. O documento avalia que “O retrato do que se passa no complexo da faculdade (...) não é nada abonador para instituição".
“Dá para afirmar que existem sérios problemas nos cursos de Medicina”, destaca o professor Milton.
Logo no primeiro item, o grupo aponta: "A violência sexual ocorre de forma repetida na faculdade".
Segundo denúncias feitas à comissão, "houve relatos de financiamento de atividades com prostitutas" nas festas e que "o abuso moral é prática constante" na faculdade
O documento também relata que "as dependências do complexo experimentam rotineiramente situação de consumo excessivo de drogas lícitas, ilícitas e de prescrição" ou seja, remédios que precisam de receita médica.
A audiência pública da Assembleia Legislativa que você viu no começo desta reportagem aconteceu no mesmo dia em que o Doutor Paulo Saldiva pediu afastamento do cargo de professor titular. Durante a audiência, as alunas contaram detalhes das festas.
“Eu gritava para que eles parassem. Um deles ficou muito bravo comigo, ele gritava pra eu parar de fazer aquilo porque ele sabia que eu tava querendo”, disse uma aluna.
“Alunos da própria faculdade cantavam que ‘estupro sim, o que é que tem? Se reclamar vou estuprar você também’”, conta outra aluna.
O deputado estadual que convocou a audiência diz que houve tentativas de cancelar o evento.
Fantástico: Quem pediu ao senhor que a audiência não fosse realizada?
Adriano Diogo, deputado estadual: O diretor da faculdade.
Fantástico: O que ele disse?
Adriano Diogo: Que não realizasse a audiência. Que não realizasse. Que eu não podia envolver o nome da instituição nessas práticas. Ele mesmo ligou.
“Isso é uma mentira. É uma mentira do parlamentar”, afirma José Otávio Costa Auler Jr, diretor da Faculdade de Medicina.
O diretor da faculdade diz que pediu apenas que a audiência fosse realizada em outra data.
“Eu disse a ele apenas isso: ‘Deputado, neste momento, eu preciso de uma posição oficial da faculdade. Se o senhor quiser esperar, o senhor que decide. Eu não posso ir sem uma posição oficial da faculdade’”, disse o diretor da faculdade de Medicina.
Na próxima quarta (26), a congregação, o órgão máximo de cada unidade da USP, deve se reunir para analisar o relatório.
Enquanto isso, as festas na faculdade de Medicina estão proibidas, uma medida que tem o apoio da Atlética e do Centro Acadêmico.
“A gente tem que rever como que a gente tem trabalhado dentro da faculdade”, afirmou Murilo Germano, presidente do Centro Acadêmico.
“A nossa grande preocupação é que isso não volte a acontecer. Um estupro é caso de polícia, não é caso de faculdade”, disse Diego Pestana, presidente da Atlética.
No relatório, o grupo propõe que as festas, quando voltarem a ocorrer, não tenham destilados nem sejam 'open bar', aquelas em que se paga um preço fixo para beber o quanto quiser.
O relatório também sugere a criação de uma instância permanente para que casos de abusos sexuais possam ser denunciados, investigados e punidos.
Fantástico: A Faculdade de Medicina falhou com essas meninas?
Diretor: Eu não diria que a faculdade falhou porque o que chegou ao nosso conhecimento, nós apuramos. Eu acho que é um momento de reflexão. A partir desta semana, nós vamos ter um novo momento, um novo projeto para a faculdade de Medicina.
“A gente não pode deixar que isso volte a acontecer. Na nossa casa? Como assim? Não posso deixar isso acontecer na escola que eu frequento”, destacou o presidente da Atlética.
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