ZERO HORA 27 de março de 2014 | N° 17745
CONFRONTO NO CAMPUS. Diante de ataque da UFSC a ação antidrogas, superintendente da PF diz que reitora quer criar “república de maconheiros”
Depois de um dia de guerra no campus, a quarta-feira foi de batalhas verbais na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em resposta à nota em que a reitoria repudiou a ação policial contra estudantes, o superintendente da Polícia Federal (PF) catarinense, Paulo César Cassiano, afirmou que a reitora Roselane Neckel “tem problemas de memória ou de caráter” e quer transformar a universidade em “uma república de maconheiros”.
Oviolento conflito que originou o bate-boca ocorreu na terça-feira, no campus da Trindade, em Florianópolis. Depois de prender um aluno de Geografia que levava cerca de cinco cigarros de maconha e estava com quatro colegas, agentes da PF tiveram seu carro cercado por 300 estudantes e professores que exigiam a liberação do rapaz. O choque da Polícia Militar foi chamado. No confronto, viaturas foram viradas e depredadas por acadêmicos, enquanto policiais atacaram com gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral. Os cinco estudantes que estariam envolvidos com a droga foram detidos. Em resposta à ação policial, alunos ocuparam a reitoria.
Reitora diz que não aceita repressão na universidade
A polêmica repercutiu em Brasília, onde o deputado federal Renato Simões (PT-SP), da comissão de Direitos Humanos da Câmara, solicitou que o Ministério da Justiça seja interpelado e investigue a ação da PF.
– À primeira vista, a Polícia Federal extrapolou suas atribuições e usou violência acima do necessário – disse.
A briga entre reitoria e PF foi desencadeada pela nota em que Roselane afirmou que a comunidade “foi vítima de uma ação violenta e desnecessária, ferindo profundamente a autonomia universitária e os direitos humanos”. O delegado Cassiano reagiu.
– Não posso deixar de externar meu repudio à posição da reitora, que não contribui para o enfrentamento do crime que acontece sob o olhar dela. Autonomia universitária não deve ser confundida com libertinagem. É sabido que a universidade é um antro de crimes. E a reitora quer transformar a universidade numa república de maconheiros – afirmou.
À tarde, antes de audiência pública sobre o episódio, Roselane garantiu, diante de centenas de alunos, ter provas de que a polícia não pode entrar no campus sem o aval dela.
– Tenho provas disso, gravações. Não podemos aceitar quais quer ações de repressão violenta dentro do campus – declarou.
Acesso da PF estava liberado
Enquanto a reitora afirmava que a polícia não poderia entrar no campus sem seu aval, emergiram documentos do ano passado que confirmam uma autorização da UFSC para que a PF investigasse o tráfico no local. A informação está em ofícios trocados em julho e agosto pela PF e por Roselane e em um termo do chefe de gabinete da reitoria, Carlos Vieira.
Vieira declara que “há, infelizmente, a prática de tráfico e uso de entorpecentes no campus, que solicitou o apoio ao Departamento de Polícia Federal para que (...) tente coibir tal prática criminosa, que permite o acesso ao campus por parte da Polícia Federal, inclusive de instalações físicas”.
A jurisdição da segurança dentro do campus é um tema que tem gerado muita polêmica na UFSC. Legalmente, a área é federal e está sob guarda da Polícia Federal e do departamento interno de segurança da instituição, e não das polícias estaduais.
Alunos fazem exigências para sair
Os estudantes acampados desde a noite de terça-feira na reitoria da UFSC afirmam que não deixarão o local enquanto suas reivindicações não forem atendidas. Ontem, na audiência pública que contou com a participação da reitora, eles apresentaram uma lista de exigências.
Entre os pleitos estão a legalização de festas dentro do campus, a punição dos policiais envolvidos no confronto, o veto à entrada da polícia nas dependências da universidade e a elaboração de um plano de iluminação para a área da UFSC.
– Só vamos deixar a reitoria se for anulado o documento que permite a entrada da polícia a partir de qualquer telefonema ou pedido de ajuda feito do local. Somos contra isso, porque abre brechas que possibilitam o que aconteceu ontem – afirmou uma representante dos alunos na ocupação, que não quis informar seu nome.
Pela manhã, a reitora Roselane pediu ao ministro da Educação que ofereça apoio a professores e alunos agredidos. A nota de repúdio divulgada pela UFSC deve ser transformada em um documento que será entregue aos ministérios da Educação e da Justiça.
ENTREVISTA - “Ninguém me forçou”
Ontem, o Diário Catarinense conversou no campus com um dos alunos presos com maconha. Ele pediu para não ser identificado.
Como foi a abordagem?
Estudante – Estávamos numa mesa externa. Eles foram direto na mesa.
Vocês estavam usando alguma substância proibida?
Estudante – Não estávamos fumando. Tinha 10 gramas no bolso
Você foi forçado a entrar no carro dos policiais?
Estudante – Ninguém me forçou. Estava saindo para assinar o termo circunstanciado, tranquilo.
Por que houve o confronto?
Estudante – As pessoas que estavam próximas viram a cena. Por enquanto, não vou falar mais nada.
ESTUDANTE DETIDO
CONFRONTO NO CAMPUS. Diante de ataque da UFSC a ação antidrogas, superintendente da PF diz que reitora quer criar “república de maconheiros”
Depois de um dia de guerra no campus, a quarta-feira foi de batalhas verbais na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em resposta à nota em que a reitoria repudiou a ação policial contra estudantes, o superintendente da Polícia Federal (PF) catarinense, Paulo César Cassiano, afirmou que a reitora Roselane Neckel “tem problemas de memória ou de caráter” e quer transformar a universidade em “uma república de maconheiros”.
Oviolento conflito que originou o bate-boca ocorreu na terça-feira, no campus da Trindade, em Florianópolis. Depois de prender um aluno de Geografia que levava cerca de cinco cigarros de maconha e estava com quatro colegas, agentes da PF tiveram seu carro cercado por 300 estudantes e professores que exigiam a liberação do rapaz. O choque da Polícia Militar foi chamado. No confronto, viaturas foram viradas e depredadas por acadêmicos, enquanto policiais atacaram com gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral. Os cinco estudantes que estariam envolvidos com a droga foram detidos. Em resposta à ação policial, alunos ocuparam a reitoria.
Reitora diz que não aceita repressão na universidade
A polêmica repercutiu em Brasília, onde o deputado federal Renato Simões (PT-SP), da comissão de Direitos Humanos da Câmara, solicitou que o Ministério da Justiça seja interpelado e investigue a ação da PF.
– À primeira vista, a Polícia Federal extrapolou suas atribuições e usou violência acima do necessário – disse.
A briga entre reitoria e PF foi desencadeada pela nota em que Roselane afirmou que a comunidade “foi vítima de uma ação violenta e desnecessária, ferindo profundamente a autonomia universitária e os direitos humanos”. O delegado Cassiano reagiu.
– Não posso deixar de externar meu repudio à posição da reitora, que não contribui para o enfrentamento do crime que acontece sob o olhar dela. Autonomia universitária não deve ser confundida com libertinagem. É sabido que a universidade é um antro de crimes. E a reitora quer transformar a universidade numa república de maconheiros – afirmou.
À tarde, antes de audiência pública sobre o episódio, Roselane garantiu, diante de centenas de alunos, ter provas de que a polícia não pode entrar no campus sem o aval dela.
– Tenho provas disso, gravações. Não podemos aceitar quais quer ações de repressão violenta dentro do campus – declarou.
Acesso da PF estava liberado
Enquanto a reitora afirmava que a polícia não poderia entrar no campus sem seu aval, emergiram documentos do ano passado que confirmam uma autorização da UFSC para que a PF investigasse o tráfico no local. A informação está em ofícios trocados em julho e agosto pela PF e por Roselane e em um termo do chefe de gabinete da reitoria, Carlos Vieira.
Vieira declara que “há, infelizmente, a prática de tráfico e uso de entorpecentes no campus, que solicitou o apoio ao Departamento de Polícia Federal para que (...) tente coibir tal prática criminosa, que permite o acesso ao campus por parte da Polícia Federal, inclusive de instalações físicas”.
A jurisdição da segurança dentro do campus é um tema que tem gerado muita polêmica na UFSC. Legalmente, a área é federal e está sob guarda da Polícia Federal e do departamento interno de segurança da instituição, e não das polícias estaduais.
Alunos fazem exigências para sair
Os estudantes acampados desde a noite de terça-feira na reitoria da UFSC afirmam que não deixarão o local enquanto suas reivindicações não forem atendidas. Ontem, na audiência pública que contou com a participação da reitora, eles apresentaram uma lista de exigências.
Entre os pleitos estão a legalização de festas dentro do campus, a punição dos policiais envolvidos no confronto, o veto à entrada da polícia nas dependências da universidade e a elaboração de um plano de iluminação para a área da UFSC.
– Só vamos deixar a reitoria se for anulado o documento que permite a entrada da polícia a partir de qualquer telefonema ou pedido de ajuda feito do local. Somos contra isso, porque abre brechas que possibilitam o que aconteceu ontem – afirmou uma representante dos alunos na ocupação, que não quis informar seu nome.
Pela manhã, a reitora Roselane pediu ao ministro da Educação que ofereça apoio a professores e alunos agredidos. A nota de repúdio divulgada pela UFSC deve ser transformada em um documento que será entregue aos ministérios da Educação e da Justiça.
ENTREVISTA - “Ninguém me forçou”
Ontem, o Diário Catarinense conversou no campus com um dos alunos presos com maconha. Ele pediu para não ser identificado.
Como foi a abordagem?
Estudante – Estávamos numa mesa externa. Eles foram direto na mesa.
Vocês estavam usando alguma substância proibida?
Estudante – Não estávamos fumando. Tinha 10 gramas no bolso
Você foi forçado a entrar no carro dos policiais?
Estudante – Ninguém me forçou. Estava saindo para assinar o termo circunstanciado, tranquilo.
Por que houve o confronto?
Estudante – As pessoas que estavam próximas viram a cena. Por enquanto, não vou falar mais nada.
ESTUDANTE DETIDO
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