sexta-feira, 6 de junho de 2014

PARTICIPANTE DE PERFORMANCE POLÊMICA NA UFF RECEBE AMEAÇAS


Participantes da performance em volta da fogueira onde a bandeira foi queimada Foto: Reprodução/Internet



JORNAL EXTRA 06/06/14 08:09 


Ana Carolina Pinto


Participante de performance polêmica na UFF recebe ameaças, afirmam amigos


A performance “Xereca Satânik”, apresentada no dia 28 de maio, no campus da Universidade Federal Fluminense (UFF) em Rio das Ostras, continua gerando polêmica. Amigos e pessoas próximas a Raíssa, uma das integrantes do Coletivo Coyote, afirmam que ela está sendo ameaçada. A reportagem tentou entrar em contato com a artista e outros participantes da manifestação artística, mas não obteve retorno. Moradora de Minas Gerais, ela já teria retornado à cidade onde mora e tem evitado falar com a imprensa por conta do assédio.

- As pessoas dizem que vão matar, dar tiros. Ameaçam os filhos dela. Ela corre riscos brabos mesmo, recebe ameaças pela internet. As pessoas são malucas. A Raíssa põe o corpo dela como forma politica, ela é uma guerrilheira dos nossos dias. Admiro ela por isso. Espero que não haja uma caça às bruxas - afirmou Daniel Caetano, chefe do Departamento de Artes e Estudos Culturais do Instituto de Humanidades e Saúde da UFF.

Raíssa foi protagonista da cena que gerou interpretações controversas na internet. Em protesto contra a violência à mulher e os estupros registrados na região da universidade, a performer costurou a vagina, após introduzir uma bandeira do Brasil no órgão genital. Em seguida, queimou a flâmula em uma fogueira.

Espectadores presenciam o momento em que a artista 'costura' a vagina Foto: Reprodução/Internet



Após a divulgação do evento na internet - e a publicação das fotos da performance - o grupo foi acusado de estar realizando um “ritual satânico” nas dependências da instituição e ter cometido o crime de atentado ao pudor.

Apoio de professores e alunos

Professores do curso de Produção Cultural de Niterói divulgaram uma nota de apoio aos docentes do campus de Rio das Ostras e aos organizadores do "II Seminário de Investigação e Criação do Grupo de Pesquisas UFF/CNPq: Cultura e Cidade Contemporânea: arte, política cultural e resistências", durante o qual foi realizada a performance.

Em um trecho da carta, os docentes classificaram como "vícios de censura" as reações ao evento. “Causa-nos espanto o grau de estranheza e criminalização com a qual tanto a perfomance da artista Raíssa, quanto a própria universidade foram tratadas nos últimos dias. Por se tratar de um espaço de experimentação de linguagens e reflexão - com seus evidentes riscos de choque à moral e ao senso comum -, é justamente na universidade onde devem ser expostos os descontentamentos, estimulados os debates, e negados quaisquer vícios de censura”.

A performance representou uma espécia de ritual contra a violência Foto: Reprodução/Internet



Na última quarta-feira, os professores do curso de Produção Cultural do campus de Rio das Ostras já haviam se posicionado contra as possíveis sanções à realização de trabalhos como o apresentado dentro do ambiente acadêmico. No comunicado, assinado por todos os docentes, a liberdade de criação e expressão é defendida.

“Nosso curso estuda as diversas manifestações de Cultura e Arte. Por isso, necessita ter plena liberdade para tratar de assuntos e performances relacionados aos temas pesquisados, sem constrangimentos. Portanto, o que está em jogo, de fato, é a autonomia docente e a garantia de plena liberdade de estudos e pensamento crítico na Universidade Pública. Por esta razão, trazemos este esclarecimento a público e nos dispomos a dirimir quaisquer dúvidas sobre os eventos acadêmicos ocorridos no nosso campus”.

Para Daniel Caetano, uma possível punição por parte da UFF ou da Polícia Federal, que investiga o caso, seria também prejudicial para a autonomia acadêmica. De acordo com ele, na sindicância aberta pela instituição, só há um aluno de Humanas, indicado pelo DCE, e nenhum professor de Arte.

- Todos os professores terem assinado uma nota em conjunto já é um indício de que existe a construção de um consenso. O estudo se baseia em registros históricos, canônicos. O estudo de “body art” existe há mais de 40 anos. O docente tem que ser respeitado, não tem crime, não tem nada. A maioria das pessoas que estão criticando não estavam lá, viram fotos e falam maluquices. Posso achar desagradável, mas está feito e o corpo é da artista. É normal e saudável criticar, mas querer achar que não ter gostado dá o direito de censurar, é outra coisa. Existe um certo risco de que a censura prevaleça, de que as pessoas sejam punidas por um ato acadêmico e politico. Não faz sentido punir professores ou alunos por causa disso.

Cartazes de apoio à performance apresentada na UFF Foto: Reprodução/Facebook



Alunos e professores do curso de Artes da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) também manifestaram apoio aos colegas. Um debate foi realizado na instituição para definir possíveis ações de apoio. Uma foto do encontro foi compartilhada no evento “Em defesa das Xerecas Satânicas”, criado no Facebook por alunos da UFF para debater a repercussão do assunto.

Aumento de estupros na região

Uma análise nos números de violência na região demonstram as motivações do protesto. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (ISP), o número de estupros em Rio das Ostras mais que triplicou na comparação entre março deste ano e o mesmo período de 2013: foram 14 casos registrados contra 4.

Na comparação com o número total do primeiro trimestre, também houve aumento: foram 20 casos em 2014, seis a mais que no mesmo período de 2013.

Depoimentos adiados

Após a polêmica acerca da festa, na qual bebidas alcoólicas e outras drogas teriam sido consumidas, a Polícia Federal informou que realizará um inquérito para investigar o evento. A corporação afirmou que vai apurar “as circunstâncias da utilização do patrimônio público federal para festa realizada na última quarta-feira”.

Não foi especificado quais tipos de crime os participantes poderiam ter cometido. Uma possível conclusão das investigações ainda deve demorar para acontecer. Segundo o chefe do Departamento de Artes e Estudos Culturais da UFF, os depoimentos foram adiados para daqui a dois meses.

Seminário sobre o corpo

A performance “Xereca Satânik” foi realizada durante a festa de encerramento do "II Seminário de Investigação e Criação do Grupo de Pesquisas UFF/CNPq: Cultura e Cidade Contemporânea: arte, política cultural e resistências", cujo tema era Corpo e Resistência. Além da performance, o evento contou com debates entre alunos e professores.

O Coletivo Coyote foi convidado pelos organizadores e se apresentou sem receber cachê. Segundo Daniel Caetano, os pesquisadores participantes do seminário, tanto de graduação como de pós-graduação, são bolsistas do CNPq, que registra os trabalhos. Este seria o único motivo para a sigla da entidade governamental estar no título do evento, que não recebeu verbas públicas, nem da universidade, para sua realização.

Na última quarta-feira, outro encontro aconteceu no campus de Rio das Ostras, para prosseguir com os debates e discutir formas de apoio ao evento ocorrido em 28 de maio. Segundo uma pessoa próxima a Raíssa, que preferiu não se identificar, ela não esteve presente, pois preferiu se resguardar. Outros alunos também preferiram não falar com a imprensa e prometeram produzir material de divulgação sobre as conclusões acerca do debate.

domingo, 1 de junho de 2014

MUTILAÇÃO EM FESTA UNIVERSITÁRIA


UFF vai investigar festa realizada na unidade de Rio das Ostras. Segundo denúncias, encontro promovido pelo curso de Produção Cultural teve cena de mutilação

POR O GLOBO, 30/05/2014 18:27




RIO - A administração central da Universidade Federal Fluminense (UFF) vai investigar denúncias envolvendo um evento realizado pelo curso de Produção Cultural da instituição em Rio das Ostras, na última quarta-feira. De acordo as denúncias, baseadas em fotos e informações de alguns alunos nas redes sociais, o evento, chamado Xereca Satanik, começou com uma espécie de performance e terminou com várias pessoas nuas e uma mulher tendo a vagina costurada por outra.

A UFF informa que a instituição ainda está se inteirando dos fatos para “tomar as providências necessárias e esclarecer tudo o que aconteceu no campus de Rio das Ostras”. A universidade ainda afirmou, via assessoria de imprensa, que uma comissão será montada para apurar os fatos, no entanto, sem especificar se ainda nesta sexta-feira ou na próxima semana. “A administração central da UFF só vai se posicionar depois que a comissão apurar os fatos”, informou a assessoria.

No Facebook, foi criado um evento convidando para a “Festa de Confraternização do Seminário Corpo e Resistência e 2º Seminário de Investigação e Criação do Grupo de Pesquisas Cultura e Cidade”. A página da festa ainda mostra que foram 2,2 mil pessoas convidadas e 324 confirmadas. Em certo trecho da descrição do evento, os organizadores anunciam “o que vai rolar”: “Pegação, fetiches, destruição, paganismo, bruxaria, lama ao caos” entre várias outras citações, inclusive, irônicas, como “não vai ter copa”. Na mesma págína, numa conversa entre os organizadores e pessoas que teriam participado da festa, a informação é de que as fotos que registram o evento “foram denunciadas” e retiradas.

Uma fonte da universidade, ouvida pelo Globo, que preferiu não se identificar, disse que tudo não passou de uma atividade performática da disciplina de Produção Cultural. Segundo essa fonte, as pessoas nuas que se apresentavam fazem parte de um grupo teatral da cidade mineira de Juiz de Fora, e que alunos da UFF não se despiram ou sofreram agressão. A informação é de que houve reclamações sobre o conteúdo e o teor moral da performance, mas que nenhum aluno teria sido obrigado a participar da “encenação” ou violentado, como chegou a ser ventilado nas redes sociais.

De acordo com a fonte ouvida pelo jornal, alguns alunos podem ter se sentido ofendidos de ver as cenas fortes da “performance”.

- Não foi uma festa, como chegaram a dizer, foi um seminário que durou todo o dia 28 de maio - afirma. - Se é arte aquilo, se é cultura, se é legal ou não, não sei dizer, mas ninguém entre os alunos da UFF sofreu agressão.