domingo, 13 de novembro de 2011

USP - PAIS DEFENDEM FILHOS DETIDOS PELA INVASÃO DA REITORIA


Pais defendem filhos detidos pela invasão da reitoria da USP. Estudantes protestavam para pedir saída da Polícia Militar do campus - CLEIDE CARVALHO, O GLOBO, 12/11/11 - 13h12


SÃO PAULO - "Saidinha de banco não tem só na USP, tem todo dia, em qualquer lugar. Foi uma fatalidade". Com esta frase, Nicéia Cardoso de Souza, de 57 anos, resume sua posição em relação à morte de Felipe Ramos de Paiva, 24 anos, assassinado no campus da Universidade de São Paulo em maio passado. O filho de Nicéia, de 22 anos, foi um dos presos na última quarta-feira, após uma semana de ocupação da reitoria, ato de protesto para pedir a retirada da Polícia Militar da Cidade Universitária. Para Nicéia, não deveria ter sido usado o aparato da Tropa de Choque da PM contra os estudantes.

— Os covardes foram com coturnos para tirar 70 coelhinhos que estavam dormindo. Estudante briga, depois fica em paz.

O filho de Nicéia estudou Filosofia na USP por dois anos, mas abandonou. Agora, faz curso de bartender e trabalha num bar da Vila Madalena. Mesmo assim, estava ao lado dos colegas na madrugada da reintegração de posse e foi detido. Para Nicéia, assim como Felipe, ele estava na hora errada, no lugar errado.

— Ele não invadiu a reitoria. Passou lá para ver como estavam os amigos e acabou preso. Agora, vai ter de arcar com as consequências. Ele não é criança e não tem como fugir. Quem sabe agora ele aprende. Parece fácil brincar de herói, mas não é.
Nicéia é exceção. Aceitou falar e defendeu abertamente a posição dos estudantes, de que a PM não deve estar dentro do campus. Outros pais também defendem seus filhos, mas não revelam nome e sobrenome. Segundo um empresário ouvido pelo GLOBO, um grupo de pais está formando uma comissão para acompanhar o caso.

Eles querem que a punição aos filhos não seja excessiva. O argumento principal: políticos são corruptos, deputados e membros do Judiciário têm foro privilegiado, por que os estudantes têm de ter punição exemplar? Para os pais, eles não fizeram nada tão grave para servirem de bode expiatório e serem tratados como maconheiros.

A ocupação da reitoria foi o ápice de um protesto estudantil iniciado depois que policiais tentaram deter e levar à delegacia três estudantes que estariam fumando maconha.

— A PM cometeu abuso de poder ao prender os três. Fumar maconha não é crime.

Políticos cheiram pó, tomam cachaça. Muitos bebem e causam acidentes de trânsito. Ninguém é punido. Defendo a autonomia dos campi, como um local de total liberdade de conhecimento e relações humanas, sem pressões políticas ou externas — diz um dos pais, engenheiro, que não quer ser identificado.

Entre os alunos presos, há, pelo menos, três filhos de professores de outras universidades. Pelo menos dois deles ocupam posições importantes, mas não retornaram aos insistentes pedidos para que opinassem sobre a posição de seus filhos.

Até agora, apenas um pai se recusou a aceitar o pagamento da fiança de sua filha pelo Sindicato dos Trabalhadores da USP.

— Ele acha que a PM oferece segurança e deve permanecer no campus — diz o advogado Edson Moura, que defende Ana Maria Horiuchi, de 23 anos.

Luzia Yui, 52 anos, mãe de Ana Maria, diz que ficou sabendo da prisão da filha pelo porteiro do prédio onde mora, que viu a jovem na tevê.

— Minha filha faz estágio e chega tarde. Alguns dias dorme lá na residência dos estudantes na USP. Ela sempre foi muito tranquila e já é adulta, não tenho motivo para ficar cobrando.

Mas nem todos acham que os filhos já são adultos. Um dos ouvidos pelo GLOBO diz que só se amadurece após os 30 anos.

Professor do Departamento de Física Matemática, João Carlos Barata disse que a ocupação da USP foi um ato de grupos sem representatividade.

— Eles têm uma técnica proposital de fazer assembleias longas e que entram na madrugada. Quando os opositores vão embora, eles votam o que querem.

Luiz Raul Weber Abramo, do Instituto de Física, lembra que cada estudante da USP custa entre R$ 2 mil e R$ 3 mil por mês para a sociedade e que quem quer estudar deve ter seu direito garantido.

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