segunda-feira, 14 de novembro de 2011

ILEGITIMIDADE

Cláudio Brito - ZERO HORA 14/11/2011


Por mais que se tenha simpatia pelos jovens universitários paulistas que tentaram exercer cidadania, indispensável dizer que erraram na dose e pecaram por ilegitimidade. Contrariaram uma assembleia que estabeleceu ações e estratégias diferentes da ocupação da reitoria da USP. Foram quase 700 votando. Em troca, menos de uma centena deles desconheceu o pensar da maioria e fez o que todo o país repudiou majoritariamente: o vandalismo desmedido e impensado.

Passados os dias tensos vividos no campus, os invasores foram repudiados por colegas após a intervenção forte da PM. Os rebeldes só deixaram os prédios ocupados depois de tumultuada retomada. Confrontar o ocorrido em São Paulo com o que fizeram um dia os caras-pintadas, buscar equilíbrio entre o feito de agora e as inesquecíveis passeatas e mobilizações dos estudantes brasileiros na reconstrução da democracia chega a ser ridículo. É certo que se deve ao menos questionar a presença de forças policiais em uma universidade, adequado lembrar que a autonomia universitária prevista constitucionalmente é bem que não permite qualquer concessão ao arbítrio, mas isso não se confunde com a baderna e a destruição.

A partidarização dos movimentos sociais é um mal. O foco daqueles jovens não deveria ser a eleição municipal paulistana, mas foi o que se viu. Todos os envolvidos trataram de antecipar o debate eleitoral, tema pequeno ante o que deveria ser preferencial. Buscar representatividade efetiva para os estudantes nas instâncias de gestão das universidades, como é o caso dos conselhos universitários, pugnar por qualificação do ensino em todos os níveis, construir solidamente a indispensável autonomia, alcançar a independência na luta pelas causas fundamentais, por aí deveria estar o rol dos temas a perseguir e realizar. Botar para quebrar em troca de quase nada, ainda que tivesse acontecido algum excesso estatal, foi erro imperdoável. Recolho a avaliação de estudantes e jovens líderes que ouvi por esses dias. Vem deles a análise que me faz concluir que aqueles ocupantes da USP não os representam. O movimento estudantil consciente, verdadeiramente democrático e cidadão, repele o que fizeram de forma atrapalhada os que se aquartelaram nos edifícios da USP.

“Foi um gol contra”, disse-me um jovem acadêmico de Direito. Então, não se imagine que os fatos recentes de São Paulo representem o pensamento e o ativismo atual da juventude estudantil. Mais centrados no que importa, há milhares de universitários organizados e cidadãos. Os brasileiros não vacilarão em lutar ao lado de quem tenha motivos nobres, causas justas e ações mais sensatas. A que lugar pretendem chegar os pretensos rebeldes da USP? O que buscam? Como querem o apoio popular? Ocupar e resistir não são erros em si. Errada foi a forma, errado foi o divórcio entre a decisão da maioria e o agir do grupo baderneiro. Optaram pela ilegitimidade. Erraram.

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