Roberto Romano, filósofo, professor de Ética e Filosofia na Unicamp, é autor, entre outros livros, de 'O Caldeirão de Medeia' (Perspectiva) - O Estado de S.Paulo, 23/11/2011
Acadêmicos brasileiros pouco afeitos à cultura imaginam que noções éticas, morais, científicas surgem apenas em textos considerados relevantes nas seitas universitárias. A preguiça e a pressa na publicação, unidas, logo brotam juízos "definitivos" sobre algum campo do pensamento. Assim ocorre com o tema antigo sobre a presença ou ausência de caráter nas pessoas. Os supostos pesquisadores consideram que o conceito de uma corrupção do caráter aparece com o sociólogo norte-americano Richard Sennett. Esse teórico, é certo, muito ajuda a entender a vida moderna. Seu livro sobre o caráter corrompido integra uma série de textos que narram, com olhar clínico, as mudanças e o estilhaçamento de valores na sociedade urbana ocidental. Com a flexibilização do trabalho e a insegurança resultante, temos a massa dos que perderam a confiança nos governos e nos mercados. Outra obra de Sennett indica a crise da sociedade e do Estado. Trata-se do monumental O Declínio do Homem Público. Ali, ele demonstra o quanto as formas do Estado foram enfraquecidas, após o século 18, em proveito das "intimidades tirânicas", os movimentos que prometem às minorias a defesa de seus direitos sem passar pelos mecanismos do poder público.
Baseando-se na "identidade" assumida pelos indivíduos, tais movimentos assumem formas repressivas das quais é quase impossível escapar. Antes de ser um cidadão, o sujeito pertenceria à sua "comunidade", cujas causas importam mais do que as coletivas. A primeira vítima da corrosão do caráter é a vida pública. Movimentos como os descritos por Sennett conduzem milhões às ruas para exercer pressão sobre a sociedade e o Estado. Mas pouco ou nada fazem diante de descalabros ocorridos na economia, no Judiciário, no Executivo, nos Parlamentos. A identidade maior deixa de ser a cidadania e se transfere para instâncias que defendem particularidades. Sennett respeita os referidos modelos intimistas, mas também mostra o quanto sua pauta é unilateral e autoritária, tiranizando seus adeptos. A corrosão do caráter é potencializada quando os grupos e indivíduos assumem o perfil da militância. O militante padrão, por mimetismo, sacrifica normas éticas, sociais e políticas em proveito de seu movimento, visto por ele como a fonte última dos valores. Todos os demais âmbitos seriam movidos por interesses escusos. A maior parte do material histórico e sociológico usado por Sennett vem dos EUA e da Europa.
No Brasil, temos um campo mais complexo. Aqui, longe de permanecerem distantes e hostis aos poderes públicos, lutando contra eles na concorrência para dominar indivíduos e grupos, movimentos sociais mantêm excelentes tratos com os governos e Parlamentos. Eles sabem aplicar ventosas nos cofres estatais (as ONGs...) de modo a expandir suas forças, mas guardam a retórica contrária ao Estado. A busca de verbas põe a militância ao dispor de partidos políticos hegemônicos. O militante exerce seu fervor de tal modo que, em pouco tempo, pratica o que suas doutrinas condenavam ou condenam. O militante, cujo caráter foi corroído, julga que os interesses sociais alheios à sua pauta são "burgueses", "abstratos", "conservadores". Ele se imagina autorizado a manter em lugares estratégicos oligarcas exímios na arte de roubar os cofres públicos. Na superfície, movimentos como a UNE (e suas subsidiárias) arvoram palavras de esquerda. Mas dão suporte às mais retrógradas forças políticas. Líderes estudantis que ontem lutavam contra a corrupção, ao subirem ao poder de Estado, guardam excelentes relações com oligarcas truculentos.
Entre as manifestações contra Fernando Collor e o realismo de hoje não existiria, para a esquerda oficial, nenhum elo. Os valores antes repetidos qual ladainhas são ditos "bravatas" pelos que aderiram à razão de Estado corrompida. A militância é processo corrosivo a ser notado em todas as profissões. Em todos os setores da vida social e política ela dissolve valores efetivos em prol dos dirigentes demagógicos e de suas alianças em proveito próprio.
A que assistimos na USP nos últimos dias? Lutas contra o arbítrio autoritário dos oligarcas? Denúncias de corrupção política (que lesa milhões de brasileiros em termos de educação, saúde, cultura, ciência e tecnologia)? Batalhas contra a falta de democracia nos grandes partidos, nos quais os dirigentes são donos das alianças, das candidaturas, dos cofres, sem ouvir as bases? Movimentos contra o privilégio de foro, algo que faz de nosso Estado um absolutismo contrário à República? A pauta dos militantes, professores e alunos é alienada em todos os sentidos, da marijuana ao populismo rasteiro. Militantes fazem sua revolução em escala micrológica contra o reitor, mas os dirigentes nacionais do movimento estudantil negociam apoio aos donos do poder, os verdadeiros soberanos.
Aviso aos bajuladores do petismo: a noção de caráter é velha como o saber humano e foi estudada, sobretudo, por um pensador "burguês", Immanuel Kant. Para ele, o caráter é "marca distintiva do ser humano como racional, dotado de liberdade". O caráter "indica o que o ser humano está preparado para fazer a si mesmo". Dentre as técnicas para a corrosão do caráter, as drogas são as piores. É irresponsabilidade ética afirmar que elas não prejudicam os usuários ou "ajudam a melhorar a imaginação nas artes e nas ciências". A leitura de pesquisas como a de Alba Zaluar, sobre a indústria das drogas, traria prudência aos seus apologetas nos câmpus. Militantes sempre ignoram e combatem a liberdade e a dignidade alheias, basta ver as multidões que apoiaram tiranias modernas, do fascismo ao stalinismo. Hoje, na USP, a militância aposenta a busca de "mudar o mundo". Sobram os coquetéis Molotov para a defesa do nada, da irrelevância absoluta, da morte.
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
terça-feira, 22 de novembro de 2011
USP - AÇÃO PM DE DESOCUPAÇÃO SERÁ INVESTIGADA
Ação da PM em desocupação de reitoria da USP é apurada - RAFAEL SAMPAIO. COLABORAÇÃO PARA A FOLHA; MARIANA DESIDÉRIO DE SÃO PAULO - FOLHA.COM, 22/11/2011 - 09h17
O Ministério Público solicitou nesta segunda-feira (21) a abertura de inquérito para investigar a ação da Polícia Militar na desocupação da Reitoria da USP.
O pedido da Promotoria diz respeito à atuação da PM no Crusp (Conjunto Residencial da USP) durante a operação, feita na madrugada do dia 8 de novembro.
Segundo denúncias, PMs teriam usado bombas de efeito moral, feito ameaças e bloqueado o caminho de estudantes.
O caso foi enviado para o Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital), para a Corregedoria da PM e para o Gecep (grupo do Ministério Público que fiscaliza a polícia).
A investigação vai ser aberta pela Polícia Civil assim que o documento for entregue, segundo o diretor do Decap, Carlos Pascoal de Toledo. Até ontem, a denúncia não havia sido recebida pelo órgão.
A PM deu informação parecida --a Corregedoria deve começar a apuração assim que o documento for recebido.
O Ministério Público solicitou nesta segunda-feira (21) a abertura de inquérito para investigar a ação da Polícia Militar na desocupação da Reitoria da USP.
O pedido da Promotoria diz respeito à atuação da PM no Crusp (Conjunto Residencial da USP) durante a operação, feita na madrugada do dia 8 de novembro.
Segundo denúncias, PMs teriam usado bombas de efeito moral, feito ameaças e bloqueado o caminho de estudantes.
O caso foi enviado para o Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital), para a Corregedoria da PM e para o Gecep (grupo do Ministério Público que fiscaliza a polícia).
A investigação vai ser aberta pela Polícia Civil assim que o documento for entregue, segundo o diretor do Decap, Carlos Pascoal de Toledo. Até ontem, a denúncia não havia sido recebida pelo órgão.
A PM deu informação parecida --a Corregedoria deve começar a apuração assim que o documento for recebido.
domingo, 20 de novembro de 2011
JOVENS REBELDES, "COROAS" IRRESPONSÁVEIS
Percival Puggina, escritor - ZERO HORA 20/11/2011
Leia a citação a seguir apesar dos erros primários: “Historicamente a Universidade em todo mundo se assume como um espécie de território livre em que caberia desde a mais inusitada teoria sobre qualquer dimensão do real a experimentação de vivências que iriam desde o consumo de maconha ao sexo casual”. Essa frase não é de uma redação do Enem. Foi produzida por um doutor em Educação pela USP, professor da UFMT (o resto do artigo, em defesa dos invasores da USP, é ainda pior). Tendo lido e ouvido ideias parecidas também por aqui, é sobre isso que escrevo.
Não há geração que não tenha manifestado inconformidade em relação à que a antecedeu e vice-versa. A contrariedade de certos filósofos gregos ante o comportamento dos discípulos se repete na experiência de praticamente todos os pais e filhos, mestres e alunos. Exceções são exatamente isso – exceções.
É desnecessário, portanto, desenvolver uma pedagogia para suscitar a rebeldia dos rebeldes, seja elevando-a à categoria das coisas sagradas, seja transformando-a em parâmetro de discernimento, seja para destinar ao lixo orgânico as judiciosas ponderações da maturidade, ou seja, ainda, para instalar no ambiente acadêmico um hardcore da libertinagem. Não há necessidade. De hábito, o jovem passa aí por conta própria. Aliás, eles raramente morrem por enfermidades do corpo, mas vitimados por sua onisciência e rebeldia. Qual pai, qual mãe ainda não ouviu de um filho a frase “Eu sei o que é bom para mim” ao lhe proporcionar conselhos nascidos do amor e da experiência de vida? O jovem sabe o que é bom para ele, mas é a própria juventude que facilmente o ilude a respeito da natureza do bem. Ali onde está o que ele considera bom não vive necessariamente o bem dele. E esta ilusão é apenas uma das muitas e frequentes evidências dos riscos inerentes à imaturidade. Há suficientes dramas, em número e porte, para dispensar a ridícula louvação aos jovens rebeldes promovida por “coroas” irresponsáveis (combinação explosiva!), sob motivações ideológicas e afinidades políticas. E só por causa delas.
Nos debates sobre a invasão da reitoria da USP, foi possível perceber o quanto essa combinação explosiva gostaria de exercer autoridade no ambiente acadêmico. Entre professor e aluno, dizem uns e outros, não haveria saber maior (olha o desatino teórico!). Não duvido de que, em breve, os alunos estejam querendo salário para participar dessa exaustiva produção comunitária do saber. Em virtude dessa pretendida equivalência das respectivas funções, creem que a eleição do reitor deveria dar o mesmo peso aos votos de alunos e professores. Todo poder aos sovietes! Todo poder ao jovem e suas minorias organizadas!
Esquecem-se os moços rebeldes e os “coroas” irresponsáveis que o conceito de Estado democrático de direito, no qual o querer não faz poder, abriga um binômio jurídico-político. O simples desejo contrariado de um grupo pirracento não viabiliza o qualificativo “democrático” a qualquer reação do “coletivo”. Há um democratismo muito ao gosto da esquerda, que adora “tirar decisões” em assembleias manipuladas. Então, assim como nem toda deliberação de um grupo é necessariamente democrática, nem toda ação por ele conduzida é tolerável no Estado de direito.
É fato sabido que, no Brasil, se um indivíduo invade, é agressor e vai se explicar com o delegado; se vários invadem, tem-se um movimento social ao qual tudo é permitido. Os estudantes contavam com isso e se deram mal.
Leia a citação a seguir apesar dos erros primários: “Historicamente a Universidade em todo mundo se assume como um espécie de território livre em que caberia desde a mais inusitada teoria sobre qualquer dimensão do real a experimentação de vivências que iriam desde o consumo de maconha ao sexo casual”. Essa frase não é de uma redação do Enem. Foi produzida por um doutor em Educação pela USP, professor da UFMT (o resto do artigo, em defesa dos invasores da USP, é ainda pior). Tendo lido e ouvido ideias parecidas também por aqui, é sobre isso que escrevo.
Não há geração que não tenha manifestado inconformidade em relação à que a antecedeu e vice-versa. A contrariedade de certos filósofos gregos ante o comportamento dos discípulos se repete na experiência de praticamente todos os pais e filhos, mestres e alunos. Exceções são exatamente isso – exceções.
É desnecessário, portanto, desenvolver uma pedagogia para suscitar a rebeldia dos rebeldes, seja elevando-a à categoria das coisas sagradas, seja transformando-a em parâmetro de discernimento, seja para destinar ao lixo orgânico as judiciosas ponderações da maturidade, ou seja, ainda, para instalar no ambiente acadêmico um hardcore da libertinagem. Não há necessidade. De hábito, o jovem passa aí por conta própria. Aliás, eles raramente morrem por enfermidades do corpo, mas vitimados por sua onisciência e rebeldia. Qual pai, qual mãe ainda não ouviu de um filho a frase “Eu sei o que é bom para mim” ao lhe proporcionar conselhos nascidos do amor e da experiência de vida? O jovem sabe o que é bom para ele, mas é a própria juventude que facilmente o ilude a respeito da natureza do bem. Ali onde está o que ele considera bom não vive necessariamente o bem dele. E esta ilusão é apenas uma das muitas e frequentes evidências dos riscos inerentes à imaturidade. Há suficientes dramas, em número e porte, para dispensar a ridícula louvação aos jovens rebeldes promovida por “coroas” irresponsáveis (combinação explosiva!), sob motivações ideológicas e afinidades políticas. E só por causa delas.
Nos debates sobre a invasão da reitoria da USP, foi possível perceber o quanto essa combinação explosiva gostaria de exercer autoridade no ambiente acadêmico. Entre professor e aluno, dizem uns e outros, não haveria saber maior (olha o desatino teórico!). Não duvido de que, em breve, os alunos estejam querendo salário para participar dessa exaustiva produção comunitária do saber. Em virtude dessa pretendida equivalência das respectivas funções, creem que a eleição do reitor deveria dar o mesmo peso aos votos de alunos e professores. Todo poder aos sovietes! Todo poder ao jovem e suas minorias organizadas!
Esquecem-se os moços rebeldes e os “coroas” irresponsáveis que o conceito de Estado democrático de direito, no qual o querer não faz poder, abriga um binômio jurídico-político. O simples desejo contrariado de um grupo pirracento não viabiliza o qualificativo “democrático” a qualquer reação do “coletivo”. Há um democratismo muito ao gosto da esquerda, que adora “tirar decisões” em assembleias manipuladas. Então, assim como nem toda deliberação de um grupo é necessariamente democrática, nem toda ação por ele conduzida é tolerável no Estado de direito.
É fato sabido que, no Brasil, se um indivíduo invade, é agressor e vai se explicar com o delegado; se vários invadem, tem-se um movimento social ao qual tudo é permitido. Os estudantes contavam com isso e se deram mal.
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
USP - ENTRE O CAPUZ E O CAPACETE
Eugênio Bucci, jornalista, é professor da ECA-USP e da ESPM - O Estado de S.Paulo - 17/11/2011
Há dois anos e meio, em 18 de junho de 2009, escrevi neste mesmo espaço um artigo sobre a Universidade de São Paulo (USP): O atraso no espelho. Poucos dias antes, a Cidade Universitária virara uma praça de guerra, ou quase. Com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo, policiais haviam dissolvido uma passeata de estudantes e funcionários, que também não eram lá tão pacíficos. Ali ficou patente que a USP mergulhara num déficit de representatividade e de legitimidade, que abria campo para o recrudescimento da violência.
O déficit de representatividade expressava-se nos movimentos sindicais da universidade. Tanto o Diretório Central dos Estudantes (DCE) quanto o Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), incapazes de mobilizar grandes contingentes entre seus presumíveis filiados, apostavam em ações supostamente radicais. Para propagandear suas reivindicações ocupavam gabinetes oficiais na base de piquetes que se valiam intimidações físicas. De outro lado, o déficit de legitimidade já era notório nos órgãos de poder da universidade, que estavam distantes do conjunto da comunidade, que não os reconhecia como interlocutores.
O atraso espelhado - um movimento sindical pouco representativo contra órgãos de poder pouco legítimos - deu no que tinha de dar: um ambiente desprovido de pontes institucionais de diálogo, no qual a força bruta substitui o debate.
Infelizmente, o quadro não mudou até hoje. A crise de representatividade e de legitimidade continua. O resto é sintoma. O debate sobre a presença da Polícia Militar (PM) dentro do câmpus era e é sintoma. A celeuma sobre o consumo de drogas pelos estudantes, também. A base profunda do mal-estar reside na inexistência de instâncias acadêmicas e administrativas que deem conta de resolver as interrogações que a vida universitária suscita naturalmente. O problema da USP não é tanto de autonomia jurídica, mas de autonomia intelectual: ela não dispõe dos meios institucionais para pensar e para resolver os desafios que ela própria produz em sua rotina. Como uma criança, precisa chamar o irmão mais velho na hora do aperto, tanto para fazer piquete como para afastar o piquete.
No final de 2011, temos um remake piorado do mesmo filme de 2009. No dia 27 de outubro, policiais tentaram deter estudantes que portavam maconha. A reação dos colegas foi imediata e barulhenta. Em questão de 48 horas, o velho roteiro de crise foi posto em marcha, incluindo a previsível e indefectível invasão da Reitoria. Desta vez, porém, com um déficit de representatividade ainda mais grave. A proposta de ocupação tinha sido rejeitada pela assembleia do DCE, mas a minoria que perdeu a votação manobrou o resultado: após o encerramento da assembleia, quando muitos estudantes já tinham ido embora, reinstalou às pressas a mesma assembleia - esvaziada - e, só aí, conseguiu aprovar o que queria. A ocupação ocorreu. Ato reflexo, a opinião pública voltou-se contra o movimento estudantil, que apareceu na foto como birra de gente mimada que quer fumar maconha na santa paz.
Na semana passada, quando 400 policiais, dois helicópteros, além de cavalos, desalojaram e indiciaram os 73 jovens que se encontravam acampados no prédio principal da USP, o quadro inverteu-se. A ação da PM efetivamente devolveu a Reitoria ao reitor, mas, inadvertidamente, devolveu o ânimo ao movimento estudantil. As assembleias lotaram, várias faculdades entraram em greve e, dessa vez, os mesmos estudantes que reprovavam a invasão passaram a condenar com veemência a ação dos policiais. Não porque estes se tenham excedido em maus tratos, o que não ficou provado. A revolta contra a presença dos policiais tem uma razão mais sutil: a comunidade universitária sente-se humilhada quando um excesso estudantil é removido por uma ação policial que lembra essas operações de combate a motim de presídio.
Aliás, quando eclode um motim entre presidiários, o pessoal de direitos humanos é chamado para tentar negociar uma solução antes da entrada da tropa. Na Cidade Universitária, nem isso houve. Que a PM patrulhe o câmpus com o objetivo de proteger a vida dos que ali estudam e trabalham pode até ser, mas chamar o batalhão para resolver manifestações políticas, sem que se esgotassem outras tentativas de mediação, isso é humilhante.
É verdade que o figurino adotado pelos invasores da Reitoria colaborou para que a crise da USP assumisse um visual de presídio amotinado. Com o rosto coberto, eles se achavam fantasiados de manifestantes antiglobalização da Europa, mas estavam ainda mais parecidos com presidiários do PCC e com traficantes, o que eu mesmo tive chance de dizer aos alunos numa aula aberta que fiz na quinta passada nos jardins da ECA. O capuz foi um erro estético, resultante do erro ético de afrontar uma decisão de assembleia. Do mesmo modo, os capacetes e escudos da PM foram um erro de método, este decorrente da ausência de instâncias de interlocução interna. Uma universidade que não dialoga é uma universidade que se bate, mais do que se debate.
Em síntese, de 2009 a 2011, a USP não deu um passo para a frente nem um passo para trás: deu apenas um passo para baixo, afundou-se no buraco em que se encontra encravada. Para onde ir agora?
Do ponto de vista das entidades de professores, alunos e funcionários, a palavra de ordem é a renovação completa das chapas, das bandeiras e dos métodos. As maiorias precisam entrar em cena, precisam falar. Só assim poderão desautorizar as minorias que acreditam mandar no grito. Quanto às instâncias oficiais da USP, precisam da mesma renovação, o que pode incluir até mesmo consultas à comunidade para a escolha de diretores e reitores. Aí, o diálogo poderá encontrar lugar institucional na vida acadêmica - e só o diálogo institucional pode esvaziar a violência e libertar a universidade.
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
ILEGITIMIDADE
Cláudio Brito - ZERO HORA 14/11/2011
Por mais que se tenha simpatia pelos jovens universitários paulistas que tentaram exercer cidadania, indispensável dizer que erraram na dose e pecaram por ilegitimidade. Contrariaram uma assembleia que estabeleceu ações e estratégias diferentes da ocupação da reitoria da USP. Foram quase 700 votando. Em troca, menos de uma centena deles desconheceu o pensar da maioria e fez o que todo o país repudiou majoritariamente: o vandalismo desmedido e impensado.
Passados os dias tensos vividos no campus, os invasores foram repudiados por colegas após a intervenção forte da PM. Os rebeldes só deixaram os prédios ocupados depois de tumultuada retomada. Confrontar o ocorrido em São Paulo com o que fizeram um dia os caras-pintadas, buscar equilíbrio entre o feito de agora e as inesquecíveis passeatas e mobilizações dos estudantes brasileiros na reconstrução da democracia chega a ser ridículo. É certo que se deve ao menos questionar a presença de forças policiais em uma universidade, adequado lembrar que a autonomia universitária prevista constitucionalmente é bem que não permite qualquer concessão ao arbítrio, mas isso não se confunde com a baderna e a destruição.
A partidarização dos movimentos sociais é um mal. O foco daqueles jovens não deveria ser a eleição municipal paulistana, mas foi o que se viu. Todos os envolvidos trataram de antecipar o debate eleitoral, tema pequeno ante o que deveria ser preferencial. Buscar representatividade efetiva para os estudantes nas instâncias de gestão das universidades, como é o caso dos conselhos universitários, pugnar por qualificação do ensino em todos os níveis, construir solidamente a indispensável autonomia, alcançar a independência na luta pelas causas fundamentais, por aí deveria estar o rol dos temas a perseguir e realizar. Botar para quebrar em troca de quase nada, ainda que tivesse acontecido algum excesso estatal, foi erro imperdoável. Recolho a avaliação de estudantes e jovens líderes que ouvi por esses dias. Vem deles a análise que me faz concluir que aqueles ocupantes da USP não os representam. O movimento estudantil consciente, verdadeiramente democrático e cidadão, repele o que fizeram de forma atrapalhada os que se aquartelaram nos edifícios da USP.
“Foi um gol contra”, disse-me um jovem acadêmico de Direito. Então, não se imagine que os fatos recentes de São Paulo representem o pensamento e o ativismo atual da juventude estudantil. Mais centrados no que importa, há milhares de universitários organizados e cidadãos. Os brasileiros não vacilarão em lutar ao lado de quem tenha motivos nobres, causas justas e ações mais sensatas. A que lugar pretendem chegar os pretensos rebeldes da USP? O que buscam? Como querem o apoio popular? Ocupar e resistir não são erros em si. Errada foi a forma, errado foi o divórcio entre a decisão da maioria e o agir do grupo baderneiro. Optaram pela ilegitimidade. Erraram.
Por mais que se tenha simpatia pelos jovens universitários paulistas que tentaram exercer cidadania, indispensável dizer que erraram na dose e pecaram por ilegitimidade. Contrariaram uma assembleia que estabeleceu ações e estratégias diferentes da ocupação da reitoria da USP. Foram quase 700 votando. Em troca, menos de uma centena deles desconheceu o pensar da maioria e fez o que todo o país repudiou majoritariamente: o vandalismo desmedido e impensado.
Passados os dias tensos vividos no campus, os invasores foram repudiados por colegas após a intervenção forte da PM. Os rebeldes só deixaram os prédios ocupados depois de tumultuada retomada. Confrontar o ocorrido em São Paulo com o que fizeram um dia os caras-pintadas, buscar equilíbrio entre o feito de agora e as inesquecíveis passeatas e mobilizações dos estudantes brasileiros na reconstrução da democracia chega a ser ridículo. É certo que se deve ao menos questionar a presença de forças policiais em uma universidade, adequado lembrar que a autonomia universitária prevista constitucionalmente é bem que não permite qualquer concessão ao arbítrio, mas isso não se confunde com a baderna e a destruição.
A partidarização dos movimentos sociais é um mal. O foco daqueles jovens não deveria ser a eleição municipal paulistana, mas foi o que se viu. Todos os envolvidos trataram de antecipar o debate eleitoral, tema pequeno ante o que deveria ser preferencial. Buscar representatividade efetiva para os estudantes nas instâncias de gestão das universidades, como é o caso dos conselhos universitários, pugnar por qualificação do ensino em todos os níveis, construir solidamente a indispensável autonomia, alcançar a independência na luta pelas causas fundamentais, por aí deveria estar o rol dos temas a perseguir e realizar. Botar para quebrar em troca de quase nada, ainda que tivesse acontecido algum excesso estatal, foi erro imperdoável. Recolho a avaliação de estudantes e jovens líderes que ouvi por esses dias. Vem deles a análise que me faz concluir que aqueles ocupantes da USP não os representam. O movimento estudantil consciente, verdadeiramente democrático e cidadão, repele o que fizeram de forma atrapalhada os que se aquartelaram nos edifícios da USP.
“Foi um gol contra”, disse-me um jovem acadêmico de Direito. Então, não se imagine que os fatos recentes de São Paulo representem o pensamento e o ativismo atual da juventude estudantil. Mais centrados no que importa, há milhares de universitários organizados e cidadãos. Os brasileiros não vacilarão em lutar ao lado de quem tenha motivos nobres, causas justas e ações mais sensatas. A que lugar pretendem chegar os pretensos rebeldes da USP? O que buscam? Como querem o apoio popular? Ocupar e resistir não são erros em si. Errada foi a forma, errado foi o divórcio entre a decisão da maioria e o agir do grupo baderneiro. Optaram pela ilegitimidade. Erraram.
domingo, 13 de novembro de 2011
QUEM SÃO OS RADICAIS DA USP
Eles têm pouco em comum. Alguns vieram da escola pública e outros estudaram no Exterior. Presos, se revelaram adolescentes tomando bronca dos pais. Alan Rodrigues - REVISTA ISTO É N° Edição: 2192, 13.Nov.11 - 21:43
Passava das 20h da terça-feira 8 quando João Machado, 20 anos, estudante de ciências sociais, dava seu primeiro sorriso do dia. Os momentos de descontração contrastavam com os de tensão. “Minha mãe quer me matar”, disse ele, ao desligar o celular. O desabafo, feito a um companheiro de ocupação do prédio da reitoria da Universidade de São Paulo, soava mais como uma confissão de adolescente do que como discurso de quem pensa em construir a tomada de poder. “Ela só sabe xingar, nem consegue ver o momento histórico”, lamentava. De classe média paulista, ele estreou no movimento estudantil há cinco anos no grêmio da Escola Comunitária de Campinas, uma instituição privada que, nas suas palavras, o “ensinou a questionar o sistema”.
Assim como Machado, ao deixarem à força a reitoria, os radicais sem rosto da semana anterior, que invadiram o prédio encapuzados, ganharam feições, nomes e história. Um raio X do Termo Circunstanciado – espécie de Boletim de Ocorrência mais leve – lavrado durante o dia todo na delegacia revela quem eram os manifestantes da USP. Segundo os policiais, entre os 72 detidos, 18 não tinham qualquer vínculo com a universidade. Um deles era da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, outro da Universidade Federal da Paraíba, e havia até um estudante vindo do Chile, país onde ocorrem manifestações estudantis há meses. Os dados colhidos nos depoimentos ajudam a traduzir também o perfil dos jovens. Havia auxiliar de escritório, artesão, analista de laboratório, professores, iluminador e até barman. Boa parte deles não tinha os R$ 545 da fiança. Foi preciso que o Sindicato dos Servidores da USP passasse o chapéu entre os apoiadores do movimento para juntar os R$ 39 mil. “Esse dinheiro foi arrecadado por mais de 500 entidades que apoiam o movimento estudantil”, disse a advogada Eliana Lucia Ferreira, que entregou a soma na delegacia.
Nas quase 24 horas em que permaneceram no ônibus diante da DP, vários estudantes foram visitados pelos pais, alguns dos quais ex-militantes que lutaram pela democracia quando o Brasil ainda era uma ditadura. “Vacilona, em 15 anos de militância nunca fui preso, em quatro meses de movimento estudantil você já caiu em cana”, dizia o pai a uma das alunas detidas. Apesar do clima de exaustão, ainda havia espaço para palavras de ordem. “Essa é uma luta de armas contra livros. Querem impedir ideias com opressão”, gritava o estudante de artes plásticas que se apresenta como Paulinho In Fluxus, 26 anos. Vestido com uma roupa rosa, ao estilo super-herói, ele levantava o livro: “As Palavras e as Coisas”, do filósofo francês Michel Foucault.
Filho de um jornalista, Paulinho cursou o ensino médio na Europa, beneficiado por uma bolsa de estudos de uma escola criada por Nelson Mandela, patrocinada pela Cruz Vermelha. “Nosso erro foi não ter conseguido mostrar para a sociedade que ali não estava um bando de maconheiros lutando por uma causa pessoal”, avalia. O pai, antigo comunista que foi preso no regime militar, foi ver o filho na 91a DP. Lá, não escondia a irritação com a forma pela qual o jovem escolheu fazer política e dizia que, passado este momento difícil, iria deixar de sustentá-lo. Um dos principais líderes dos radicais, o artesão Rafael Alves, 29 anos, matriculado no curso de letras, não recebeu a visita de ninguém. De origem humilde, egresso da escola pública, foi o único dos 20 integrantes da sua família que conseguiu entrar na universidade. Àquela altura da noite, em nada lembrava o homem que resistira à prisão gritando frases como “Abaixo a ditadura” durante a ação da polícia. Parecia vencido pelo cansaço.
A novela, porém, está longe de acabar, pois alguns alunos da USP tentam decretar greve geral. Como pano de fundo de toda a movimentação, está a eleição para o Diretório Central dos Estudantes (DCE), marcada para a próxima semana. Vários grupos de esquerda disputarão o poder. “A ação truculenta da PM acabou reunindo as diversas correntes do movimento estudantil”, diz o diretor do DCE, João Victor Pavesi, que cursa geografia. Os alunos favoráveis à presença da PM se organizam em torno da chapa batizada de Reação, composta, em sua maioria, por alunos das áreas de administração, economia e contabilidade e cursos da engenharia. A luta – pelo poder – continua.
USP - PAIS DEFENDEM FILHOS DETIDOS PELA INVASÃO DA REITORIA
Pais defendem filhos detidos pela invasão da reitoria da USP. Estudantes protestavam para pedir saída da Polícia Militar do campus - CLEIDE CARVALHO, O GLOBO, 12/11/11 - 13h12
SÃO PAULO - "Saidinha de banco não tem só na USP, tem todo dia, em qualquer lugar. Foi uma fatalidade". Com esta frase, Nicéia Cardoso de Souza, de 57 anos, resume sua posição em relação à morte de Felipe Ramos de Paiva, 24 anos, assassinado no campus da Universidade de São Paulo em maio passado. O filho de Nicéia, de 22 anos, foi um dos presos na última quarta-feira, após uma semana de ocupação da reitoria, ato de protesto para pedir a retirada da Polícia Militar da Cidade Universitária. Para Nicéia, não deveria ter sido usado o aparato da Tropa de Choque da PM contra os estudantes.
— Os covardes foram com coturnos para tirar 70 coelhinhos que estavam dormindo. Estudante briga, depois fica em paz.
O filho de Nicéia estudou Filosofia na USP por dois anos, mas abandonou. Agora, faz curso de bartender e trabalha num bar da Vila Madalena. Mesmo assim, estava ao lado dos colegas na madrugada da reintegração de posse e foi detido. Para Nicéia, assim como Felipe, ele estava na hora errada, no lugar errado.
— Ele não invadiu a reitoria. Passou lá para ver como estavam os amigos e acabou preso. Agora, vai ter de arcar com as consequências. Ele não é criança e não tem como fugir. Quem sabe agora ele aprende. Parece fácil brincar de herói, mas não é.
Nicéia é exceção. Aceitou falar e defendeu abertamente a posição dos estudantes, de que a PM não deve estar dentro do campus. Outros pais também defendem seus filhos, mas não revelam nome e sobrenome. Segundo um empresário ouvido pelo GLOBO, um grupo de pais está formando uma comissão para acompanhar o caso.
Eles querem que a punição aos filhos não seja excessiva. O argumento principal: políticos são corruptos, deputados e membros do Judiciário têm foro privilegiado, por que os estudantes têm de ter punição exemplar? Para os pais, eles não fizeram nada tão grave para servirem de bode expiatório e serem tratados como maconheiros.
A ocupação da reitoria foi o ápice de um protesto estudantil iniciado depois que policiais tentaram deter e levar à delegacia três estudantes que estariam fumando maconha.
— A PM cometeu abuso de poder ao prender os três. Fumar maconha não é crime.
Políticos cheiram pó, tomam cachaça. Muitos bebem e causam acidentes de trânsito. Ninguém é punido. Defendo a autonomia dos campi, como um local de total liberdade de conhecimento e relações humanas, sem pressões políticas ou externas — diz um dos pais, engenheiro, que não quer ser identificado.
Entre os alunos presos, há, pelo menos, três filhos de professores de outras universidades. Pelo menos dois deles ocupam posições importantes, mas não retornaram aos insistentes pedidos para que opinassem sobre a posição de seus filhos.
Até agora, apenas um pai se recusou a aceitar o pagamento da fiança de sua filha pelo Sindicato dos Trabalhadores da USP.
— Ele acha que a PM oferece segurança e deve permanecer no campus — diz o advogado Edson Moura, que defende Ana Maria Horiuchi, de 23 anos.
Luzia Yui, 52 anos, mãe de Ana Maria, diz que ficou sabendo da prisão da filha pelo porteiro do prédio onde mora, que viu a jovem na tevê.
— Minha filha faz estágio e chega tarde. Alguns dias dorme lá na residência dos estudantes na USP. Ela sempre foi muito tranquila e já é adulta, não tenho motivo para ficar cobrando.
Mas nem todos acham que os filhos já são adultos. Um dos ouvidos pelo GLOBO diz que só se amadurece após os 30 anos.
Professor do Departamento de Física Matemática, João Carlos Barata disse que a ocupação da USP foi um ato de grupos sem representatividade.
— Eles têm uma técnica proposital de fazer assembleias longas e que entram na madrugada. Quando os opositores vão embora, eles votam o que querem.
Luiz Raul Weber Abramo, do Instituto de Física, lembra que cada estudante da USP custa entre R$ 2 mil e R$ 3 mil por mês para a sociedade e que quem quer estudar deve ter seu direito garantido.
sábado, 12 de novembro de 2011
ESTUDANTES - DA DITADURA AOS BASEADOS
Aloísio de Toledo César, Desembargador Aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo - O ESTADO DE SÃO PAULO, 12/11/2011
Para quem viu os estudantes de São Paulo enfrentando o Exército nas ruas, naqueles dias nada saudosos de luta contra a ditadura militar, é profundamente entristecedor observar os estragos feitos pela minoria que invadiu a USP, ao fundamento obsceno de defender colegas presos pela Polícia Militar quando fumavam maconha.
Os estudantes paulistas sempre tiveram bandeiras mais nobres. Em 1932, quando a ditadura de Getúlio Vargas negava a outorga de uma Constituição ao povo brasileiro, milhares deles se alistaram às forças que enfrentariam com armas os defensores do ditador. Vem daquela época o verso gravado em bronze na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco: "Quando se sente bater no peito heroica pancada, deixa-se a folha dobrada enquanto se vai morrer". A folha dos dias presentes não é mais aquela dobrada no livro, mas o de uma conhecida erva que anestesia e enfraquece a vontade de alguns.
A mesma bandeira de luta contra a ditadura foi empunhada décadas depois também por estudantes para exigir eleições diretas e livres. A Faculdade de Direito da USP, na época, foi ocupada por seus alunos em circunstâncias que deixariam envergonhados esses que agora, quem sabe ao efeito de baseados, tomaram a Reitoria e conseguiram obter uma assombrosa desaprovação pública de sua conduta.
Nestes dias de inacreditável insegurança coletiva, quando grupos armados invadem residências e enfrentam sem medo a polícia com armas de grosso calibre, não dá para entender os grupos minoritários de estudantes da Cidade Universitária que não querem a segurança proporcionada pela Polícia Militar. Enfim, num momento em que a presença de policiais militares é desejada por praticamente todos, nas ruas, avenidas, ao lado das escolas, é incrível que essa minoria faça baderna pública para impedir atividade que é de interesse coletivo. Não é possível que os estupros e os assaltos ocorridos na Cidade Universitária não ensinem a essa minoria a necessidade de policiamento.
É forte e assustadora a informação de que na raiz de tudo está o desejo de uso livre de drogas. Tão surpreendente se mostra essa versão que é preferível torcer para não ser verdadeira, mas, pelo que mostram os fatos, infelizmente o pretendido afastamento de policiais teria mesmo esse objetivo.
Num mundo como o nosso, de diferentes escalas de valores, é compreensível que as minorias exprimam os seus inconformismos. Realmente, se estamos num Estado de Direito, exercido em regime republicano, as manifestações, quando exercidas com razoabilidade, servem até mesmo para fortalecer a democracia. Mas quando as minorias inconformadas agem por impulso e se afastam da lei, descumprindo-a deliberadamente, contra a vontade da maioria, o caminho a ser seguido para a manutenção da ordem é exatamente o adotado pelo governo paulista.
Diante de decisão judicial, devidamente fundamentada, que determinava a desocupação da Reitoria, com a retirada dos estudantes, não poderia ser outra a conduta da Polícia Militar. A desocupação efetivou-se com base na força necessária, mas sem violência, retirando-se e detendo-se os estudantes renitentes, que ali permaneciam por lamentável teimosia.
Quem teve a oportunidade de assistir na televisão à invasão da USP pelos policiais militares sentiu claramente o propósito determinado de afastar os estudantes, mas, ao mesmo tempo, não ceder às provocações. Todos sabemos como nessas horas o surgimento de uma vítima poderia alterar completamente a situação - e isso, felizmente, não aconteceu.
O comportamento desses estudantes, levados coercitivamente para a delegacia de polícia do bairro, faz lembrar infração de diferentes tipos penais, significando que deverão judicialmente responder pelos estragos. A falta de razoabilidade seguramente vai custar-lhes bem caro, podendo até resultar na perda da primariedade, o que é danoso para qualquer pessoa, mas, sobretudo, para quem ainda vai iniciar sua atividade profissional.
Chama também a atenção o fato de se tratar de estudantes da mais famosa universidade do País, cujo acesso é sonhado por milhões de brasileiros. Sem nenhuma dúvida, os que ali conseguem penetrar, após sofrido vestibular, são pessoas privilegiadas, porque, em vez de pagar pelos estudos, terão como "sócio" o Estado paulista, que nada cobra desses alunos.
Os estudantes que trabalham durante o dia e fazem faculdade à noite não estão nesse grupo de privilegiados que tomaram a Reitoria. Em verdade, tornou-se público que a maioria dos estudantes reprova a invasão e deseja que a Polícia Militar cuide da segurança local. Curiosamente, a vontade dessa maioria é afrontosamente repudiada pela minoria radical de invasores, os quais, cobrindo a cabeça com panos (assim apareceram na televisão), fazem lembrar outros radicais - exatamente aqueles que usam o argumento das bombas.
Além do movimento de políticos que invadem terras alheias para se firmarem e obterem vantagens pessoais e de organizações mais recentes que ocupam prédios de particulares usando como massa de manobra a sofrida classe dos que não possuem casa própria, é um absurdo ver nascer essa revolta sem causa de estudantes privilegiados, que causaram a impressão de estar sob o efeito da conhecida erva.
O fato de esses estudantes não quererem a polícia perto deles é muito significativo e torna desnecessária qualquer outra explicação. Enfim, querem ter uma liberdade afrontosa aos costumes e até mesmo aos demais colegas, os quais preferem, por grande maioria, a presença da Polícia Militar na Cidade Universitária.
Para quem viu os estudantes de São Paulo enfrentando o Exército nas ruas, naqueles dias nada saudosos de luta contra a ditadura militar, é profundamente entristecedor observar os estragos feitos pela minoria que invadiu a USP, ao fundamento obsceno de defender colegas presos pela Polícia Militar quando fumavam maconha.
Os estudantes paulistas sempre tiveram bandeiras mais nobres. Em 1932, quando a ditadura de Getúlio Vargas negava a outorga de uma Constituição ao povo brasileiro, milhares deles se alistaram às forças que enfrentariam com armas os defensores do ditador. Vem daquela época o verso gravado em bronze na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco: "Quando se sente bater no peito heroica pancada, deixa-se a folha dobrada enquanto se vai morrer". A folha dos dias presentes não é mais aquela dobrada no livro, mas o de uma conhecida erva que anestesia e enfraquece a vontade de alguns.
A mesma bandeira de luta contra a ditadura foi empunhada décadas depois também por estudantes para exigir eleições diretas e livres. A Faculdade de Direito da USP, na época, foi ocupada por seus alunos em circunstâncias que deixariam envergonhados esses que agora, quem sabe ao efeito de baseados, tomaram a Reitoria e conseguiram obter uma assombrosa desaprovação pública de sua conduta.
Nestes dias de inacreditável insegurança coletiva, quando grupos armados invadem residências e enfrentam sem medo a polícia com armas de grosso calibre, não dá para entender os grupos minoritários de estudantes da Cidade Universitária que não querem a segurança proporcionada pela Polícia Militar. Enfim, num momento em que a presença de policiais militares é desejada por praticamente todos, nas ruas, avenidas, ao lado das escolas, é incrível que essa minoria faça baderna pública para impedir atividade que é de interesse coletivo. Não é possível que os estupros e os assaltos ocorridos na Cidade Universitária não ensinem a essa minoria a necessidade de policiamento.
É forte e assustadora a informação de que na raiz de tudo está o desejo de uso livre de drogas. Tão surpreendente se mostra essa versão que é preferível torcer para não ser verdadeira, mas, pelo que mostram os fatos, infelizmente o pretendido afastamento de policiais teria mesmo esse objetivo.
Num mundo como o nosso, de diferentes escalas de valores, é compreensível que as minorias exprimam os seus inconformismos. Realmente, se estamos num Estado de Direito, exercido em regime republicano, as manifestações, quando exercidas com razoabilidade, servem até mesmo para fortalecer a democracia. Mas quando as minorias inconformadas agem por impulso e se afastam da lei, descumprindo-a deliberadamente, contra a vontade da maioria, o caminho a ser seguido para a manutenção da ordem é exatamente o adotado pelo governo paulista.
Diante de decisão judicial, devidamente fundamentada, que determinava a desocupação da Reitoria, com a retirada dos estudantes, não poderia ser outra a conduta da Polícia Militar. A desocupação efetivou-se com base na força necessária, mas sem violência, retirando-se e detendo-se os estudantes renitentes, que ali permaneciam por lamentável teimosia.
Quem teve a oportunidade de assistir na televisão à invasão da USP pelos policiais militares sentiu claramente o propósito determinado de afastar os estudantes, mas, ao mesmo tempo, não ceder às provocações. Todos sabemos como nessas horas o surgimento de uma vítima poderia alterar completamente a situação - e isso, felizmente, não aconteceu.
O comportamento desses estudantes, levados coercitivamente para a delegacia de polícia do bairro, faz lembrar infração de diferentes tipos penais, significando que deverão judicialmente responder pelos estragos. A falta de razoabilidade seguramente vai custar-lhes bem caro, podendo até resultar na perda da primariedade, o que é danoso para qualquer pessoa, mas, sobretudo, para quem ainda vai iniciar sua atividade profissional.
Chama também a atenção o fato de se tratar de estudantes da mais famosa universidade do País, cujo acesso é sonhado por milhões de brasileiros. Sem nenhuma dúvida, os que ali conseguem penetrar, após sofrido vestibular, são pessoas privilegiadas, porque, em vez de pagar pelos estudos, terão como "sócio" o Estado paulista, que nada cobra desses alunos.
Os estudantes que trabalham durante o dia e fazem faculdade à noite não estão nesse grupo de privilegiados que tomaram a Reitoria. Em verdade, tornou-se público que a maioria dos estudantes reprova a invasão e deseja que a Polícia Militar cuide da segurança local. Curiosamente, a vontade dessa maioria é afrontosamente repudiada pela minoria radical de invasores, os quais, cobrindo a cabeça com panos (assim apareceram na televisão), fazem lembrar outros radicais - exatamente aqueles que usam o argumento das bombas.
Além do movimento de políticos que invadem terras alheias para se firmarem e obterem vantagens pessoais e de organizações mais recentes que ocupam prédios de particulares usando como massa de manobra a sofrida classe dos que não possuem casa própria, é um absurdo ver nascer essa revolta sem causa de estudantes privilegiados, que causaram a impressão de estar sob o efeito da conhecida erva.
O fato de esses estudantes não quererem a polícia perto deles é muito significativo e torna desnecessária qualquer outra explicação. Enfim, querem ter uma liberdade afrontosa aos costumes e até mesmo aos demais colegas, os quais preferem, por grande maioria, a presença da Polícia Militar na Cidade Universitária.
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
USP VAI GANHAR BASE MÓVEL DA PM
Instalação ocorrerá na próxima semana; policiais terão treinamento comunitário e vão apresentar-se pessoalmente nas faculdades - 11 de novembro de 2011 | 3h 00 - LUÍSA ALCALDE - O Estado de S.Paulo
Na próxima semana, o câmpus da Universidade de São Paulo (USP) vai ganhar a primeira base móvel da Polícia Militar. Ela ficará em local visível e de fácil acesso à comunidade, perto dos estacionamentos, por onde deve ser deslocada de acordo com a necessidade. E também servirá de canal de comunicação entre os policiais e a rotina acadêmica. Seis motos vão reforçar o policiamento local.
Os policiais que atuam dentro do câmpus vão começar a receber treinamento em polícia comunitária e em direitos humanos. "Não se trata de tratamento especial. Porque a lei é igual para todos, mas queremos conhecer a comunidade e nos aproximar dela. Queremos conhecer o público para o qual vamos trabalhar", explica o coronel Luiz de Castro Junior, diretor de Polícia Comunitária e de Direitos Humanos.
Depois desse curso, que deve ocorrer nas duas últimas semanas deste mês, os PMs vão começar a visitar as faculdades dentro do câmpus em dezembro, para se apresentar e conhecer a direção. "Vão passar batendo de porta em porta mesmo, para dizer quem são", explicou Castro.
A USP e o entorno serão mapeados geograficamente. O trabalho dos policiais será levantar pontos que possam oferecer riscos, como terrenos baldios, falta de iluminação, árvores com copas altas que barrem a passagem de luz dos postes e até buracos no asfalto que possam causar acidentes de trânsito ou facilitar a ação de bandidos. "No patrulhamento ostensivo fora da universidade, esse trabalho já é realizado em conjunto com a Prefeitura. São feitas planilhas com os problemas e enviadas aos órgãos competentes para resolvê-los", explica o coronel. No caso da USP, esses encaminhamentos serão feitos à coordenadoria do câmpus, responsável pela manutenção da área.
Reunião. Esses pontos foram acertados em uma reunião ontem de manhã entre representantes da USP, da PM e da ONG São Paulo Contra a Violência. De acordo com Castro, já estavam previstos no acordo firmado com a universidade.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Apesar da boa intenção, não concordo com policiamento PM dentro dos campus universitários. É uma estratégia que vai dar errado, como já deu. Defendo que as Universidade tenham segurança própria, formada, capacitada, treinada e controlada por forças policiais pertinentes ao nível federativo. Elas atuam na prevenção e repressão aos delitos de menor potencial ofensivo, repassando os demais à Polícia Federal (universidade federais) e Polícia Civil (universidades estaduais e privadas).
Na próxima semana, o câmpus da Universidade de São Paulo (USP) vai ganhar a primeira base móvel da Polícia Militar. Ela ficará em local visível e de fácil acesso à comunidade, perto dos estacionamentos, por onde deve ser deslocada de acordo com a necessidade. E também servirá de canal de comunicação entre os policiais e a rotina acadêmica. Seis motos vão reforçar o policiamento local.
Os policiais que atuam dentro do câmpus vão começar a receber treinamento em polícia comunitária e em direitos humanos. "Não se trata de tratamento especial. Porque a lei é igual para todos, mas queremos conhecer a comunidade e nos aproximar dela. Queremos conhecer o público para o qual vamos trabalhar", explica o coronel Luiz de Castro Junior, diretor de Polícia Comunitária e de Direitos Humanos.
Depois desse curso, que deve ocorrer nas duas últimas semanas deste mês, os PMs vão começar a visitar as faculdades dentro do câmpus em dezembro, para se apresentar e conhecer a direção. "Vão passar batendo de porta em porta mesmo, para dizer quem são", explicou Castro.
A USP e o entorno serão mapeados geograficamente. O trabalho dos policiais será levantar pontos que possam oferecer riscos, como terrenos baldios, falta de iluminação, árvores com copas altas que barrem a passagem de luz dos postes e até buracos no asfalto que possam causar acidentes de trânsito ou facilitar a ação de bandidos. "No patrulhamento ostensivo fora da universidade, esse trabalho já é realizado em conjunto com a Prefeitura. São feitas planilhas com os problemas e enviadas aos órgãos competentes para resolvê-los", explica o coronel. No caso da USP, esses encaminhamentos serão feitos à coordenadoria do câmpus, responsável pela manutenção da área.
Reunião. Esses pontos foram acertados em uma reunião ontem de manhã entre representantes da USP, da PM e da ONG São Paulo Contra a Violência. De acordo com Castro, já estavam previstos no acordo firmado com a universidade.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Apesar da boa intenção, não concordo com policiamento PM dentro dos campus universitários. É uma estratégia que vai dar errado, como já deu. Defendo que as Universidade tenham segurança própria, formada, capacitada, treinada e controlada por forças policiais pertinentes ao nível federativo. Elas atuam na prevenção e repressão aos delitos de menor potencial ofensivo, repassando os demais à Polícia Federal (universidade federais) e Polícia Civil (universidades estaduais e privadas).
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
Pais de estudantes da USP criticam ação policial de reintegração de posse - Agência Brasil - JORNAL COMÉRCIO, 08/11/2011
Os pais dos alunos da Universidade de São Paulo (USP) criticaram a prisão de seus filhos , ocorrida na manhã de hoje (8) após uma operação policial de reintegração de posse do prédio da reitoria, que estava sendo ocupado por estudantes desde a semana passada. Os pais evitam falar com a imprensa e o fazem somente sob anonimato. Eles aguardam do lado de fora da 91ª Delegacia de Polícia, localizada na zona oeste de São Paulo.
A mãe de um dos 70 alunos que foram presos reclamou da ação policial. “Nossos filhos não são bandidos. Eles estavam apenas defendendo uma gestão democrática na USP”, disse ela.
Os estudantes estavam acampados no prédio principal da reitoria da instituição desde o dia 1, em protesto pela presença de policiais no campus.
Numa folha de papel que foi depois copiada pela imprensa, os pais escreveram uma carta à mão em que criticam a operação policial de reintegração de posse. “Nós, pais de estudantes da USP, repudiamos o modo como foi conduzido pela reitoria o processo envolvendo o movimento dos estudantes. Repudiamos a ação repressiva e truculenta das forças policiais no campus da universidade nessa madrugada de terça-feira. Estamos indignados com o fato de que uma instituição educativa utiliza como principal instrumento de solução de conflito social o uso da força policial. Nossos filhos são estudantes e não bandidos e estão em defesa de uma universidade onde existam debates democráticos”, diz o texto.
Também do lado de fora da delegacia, o estudante de Geografia João Victor Pavesi de Oliveira, diretor do Diretório Central dos Estudantes (DCE), criticou a operação policial. ”A interpretação da entidade é que não havia necessidade para isso. A negociação estava aberta. Tem uma rodada de conversa com a reitoria amanhã (9) e a gente não vê o porquê de tudo isso. Não tem porque utilizar um número tão grande do efetivo policial para retirar uma ocupação pacífica', acrescentou o estudante.
Os pais dos alunos da Universidade de São Paulo (USP) criticaram a prisão de seus filhos , ocorrida na manhã de hoje (8) após uma operação policial de reintegração de posse do prédio da reitoria, que estava sendo ocupado por estudantes desde a semana passada. Os pais evitam falar com a imprensa e o fazem somente sob anonimato. Eles aguardam do lado de fora da 91ª Delegacia de Polícia, localizada na zona oeste de São Paulo.
A mãe de um dos 70 alunos que foram presos reclamou da ação policial. “Nossos filhos não são bandidos. Eles estavam apenas defendendo uma gestão democrática na USP”, disse ela.
Os estudantes estavam acampados no prédio principal da reitoria da instituição desde o dia 1, em protesto pela presença de policiais no campus.
Numa folha de papel que foi depois copiada pela imprensa, os pais escreveram uma carta à mão em que criticam a operação policial de reintegração de posse. “Nós, pais de estudantes da USP, repudiamos o modo como foi conduzido pela reitoria o processo envolvendo o movimento dos estudantes. Repudiamos a ação repressiva e truculenta das forças policiais no campus da universidade nessa madrugada de terça-feira. Estamos indignados com o fato de que uma instituição educativa utiliza como principal instrumento de solução de conflito social o uso da força policial. Nossos filhos são estudantes e não bandidos e estão em defesa de uma universidade onde existam debates democráticos”, diz o texto.
Também do lado de fora da delegacia, o estudante de Geografia João Victor Pavesi de Oliveira, diretor do Diretório Central dos Estudantes (DCE), criticou a operação policial. ”A interpretação da entidade é que não havia necessidade para isso. A negociação estava aberta. Tem uma rodada de conversa com a reitoria amanhã (9) e a gente não vê o porquê de tudo isso. Não tem porque utilizar um número tão grande do efetivo policial para retirar uma ocupação pacífica', acrescentou o estudante.
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
A REBELIÃO DOS MIMADOS
MARCELO SPERANDIO, REVISTA VEJA - 07/11/2011
Com roupas de grife e donos de carros caros, estudantes depredam a USP porque querem fumar maconha sem ser incomodados.
Ele usa um moletom da grife americana GAP, óculos de 500 reais da italiana Ray Ban e exibe um sorriso de quem está com a vida ganha. Na imagem acima, o "rebelde" esparramado na cadeira é o retrato fiel do grupo de estudantes que, às 23h55 da última terça-feira, invadiu a reitoria da Universidade de São Paulo (USP). Como crianças que não aceitam ser contrariadas, eles resolveram partir para a bagunça e a pirraça. O estiloso garoto mimado da USP juntou-se a outros cinquenta birrentos que arrombaram a porta da garagem da administração central da universidade e, com pedaços de pau nas mãos, deixaram um rastro de destruição por onde passaram. Tudo porque eles querem - mas, coitadinhos, a lei não deixa - que o campus da Universidade de São Paulo não seja mais policiado pela PM e se torne um território livre para fumar maconha. A maioria dos vândalos escondeu o rosto atrás de um capuz, mas o rebelde de GAP preferiu não contaminar o visual.
Em apenas um dia entre os manifestantes, VEJA constatou que vários deles são filhinhos de papai que circulam em carros cujo preço supera 50000 reais. Entre os "rebeldes" que saíram da reitoria ocupada para tomar banho, trocar de roupa e comer um prato quentinho em casa (revolução tem limite), um assumiu a direção de um Polo Sedan e outro embarcou em seu Kia Soul. Os invasores representam só 0,06% dos 80000 estudantes da USP. A maioria dos alunos é a favor da presença da PM no campus. Em maio, antes de a polícia patrulhar intensivamente a USP, o estudante Felipe de Paiva foi assassinado em uma tentativa de assalto na universidade. Zélia de Paiva, mãe de Felipe, vê os protestos como capricho de uma minoria que quer usar drogas impunemente, pondo em risco toda a comunidade universitária. "Se a polícia já estivesse na USP no dia em que meu filho foi morto, talvez ele estivesse vivo", diz Zélia.
A baderna teve início na quinta-feira 27, quando policiais flagraram três alunos consumindo maconha. Para evitar que o trio fosse levado a uma delegacia, um grupo tentou intimidar os policiais, cercando a viatura e começando a arruaça. Em poucos minutos, um carro de som do Partido da Causa Operária (PCO) apareceu e pôs-se a incitar a violência. A turba apedrejou a viatura. A PM reagiu. O prédio da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas foi invadido. Depois de uma assembleia em que se decidiu pela desocupação, os "rebeldes" mimados invadiram a reitoria. A Justiça determinou a reintegração de posse do prédio. VEJA gravou um desses mauricinhos falando o seguinte: "A PM não vê quem fuma, ela procura. Se a questão é segurança, por que procurar maconheiro, gente?". Esse menino precisa de castigo, papai.
A DESOCUPAÇÃO DA REITORIA
OPINIÃO O Estado de S.Paulo - 09/11/2011
Determinada pela Justiça, a desocupação da Reitoria da USP ocorreu com base no script tradicional. Assim como aconteceu no cumprimento de outras ordens judiciais idênticas, no mesmo local, a Polícia Militar (PM) realizou a operação de madrugada. Com 400 homens, a tropa de choque chegou de surpresa, cercou o prédio e, sem uso de armas de fogo, deteve os invasores. Estes, por seu lado, saíram repetindo a lengalenga "revolucionária" de sempre, apresentando-se, no momento em que foram detidos, como "presos políticos", denunciando a opressão policial e acusando o governo estadual de "militarizar" a Cidade Universitária.
A novidade é que, ao inspecionar o prédio invadido, a PM descobriu mais do que pichações e sujeira. Além de portas arrombadas e móveis e câmeras de segurança destruídos, desta vez foram apreendidos morteiros e coquetéis molotov, o que deixou clara a intenção dos baderneiros de sempre, que há duas semanas tumultuam o câmpus. Falam em "diálogo democrático", mas assumem sempre posições radicais que não podem levar a qualquer tipo de acordo.
Desde o início da baderna, que começou no final de outubro, quando três estudantes foram detidos depois de flagrados fumando maconha no estacionamento do prédio da História e da Geografia, os protestos contra a presença da PM no câmpus e as invasões do prédio administrativo da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e da Reitoria tiveram a participação de cerca de 700 estudantes. No total, a USP tem quase 89 mil alunos, dos quais 50 mil só na Cidade Universitária.
Por causa da apreensão de morteiros e coquetéis molotov, que poderiam ter causado um incêndio de grandes proporções, a PM levou os 73 invasores da Reitoria para o 91.º DP. Como foram transportados em ônibus comuns, sem banheiro e ar-condicionado, os líderes do grupo chegaram ao desplante de classificar o tratamento como "tortura". Depois de submetê-los a exame de corpo de delito, o delegado seccional abriu inquérito por crime de formação de quadrilha, dano patrimonial e desobediência a ordem judicial e fixou fiança no valor de R$ 545, mantendo encarcerado quem se recusasse a pagar.
Se a Justiça acolher a denúncia que o Ministério Público fará com base nesses inquéritos, os invasores podem ser condenados no plano criminal, perdendo a primariedade, e obrigados a ressarcir os prejuízos patrimoniais sofridos pela USP no plano civil. Além disso, a condenação judicial pode pôr fim à velha hipocrisia que está por trás das greves, piquetes e invasões promovidos por minorias radicais no câmpus. Elas se acostumaram a fazer reivindicações absurdas e a impor condições disparatadas nas "negociações" com as autoridades acadêmica, porque não lhes interessa qualquer espécie de acordo. Sem acordo, partem para atos de vandalismo e, depois, exigem que não sejam punidas pelo vandalismo. Lenientes, as autoridades universitárias acatam essas exigências - e a impunidade estimula os estudantes a voltarem à baderna com violência cada vez maior, como se não houvesse limites legais.
Isso ficou evidente no final da semana passada, quando a Justiça acolheu a ação de reintegração de posse impetrada pela Reitoria. Em vez de cumprir a ordem de desocupação, os invasores tentaram impor à Justiça, como condição para a desocupação do prédio da Reitoria, a retirada da PM do câmpus - o que devolveria a USP à infestação dos traficantes de drogas, assaltantes, estupradores e assassinos. E, mais grave ainda, mesmo depois do acintoso desacato a uma determinação judicial, eles continuaram sendo cortejados. Esquecendo-se de que no Estado de Direito todos são iguais perante a lei e ninguém tem prerrogativa de transgredir o que o direito penal classifica como crime, o ministro da Educação, numa declaração das mais infelizes, disse que a USP "não pode ser tratada como se fosse a cracolândia".
O que se está vendo na USP nada tem a ver com questões ideológicas ou com a discussão sobre autonomia universitária. Por trás do discurso ideológico das minorias de arruaceiros - e daqueles que irresponsavelmente os cortejam - o que se tem é delinquência praticada por quem não aprendeu a respeitar a lei e a viver numa democracia.
Determinada pela Justiça, a desocupação da Reitoria da USP ocorreu com base no script tradicional. Assim como aconteceu no cumprimento de outras ordens judiciais idênticas, no mesmo local, a Polícia Militar (PM) realizou a operação de madrugada. Com 400 homens, a tropa de choque chegou de surpresa, cercou o prédio e, sem uso de armas de fogo, deteve os invasores. Estes, por seu lado, saíram repetindo a lengalenga "revolucionária" de sempre, apresentando-se, no momento em que foram detidos, como "presos políticos", denunciando a opressão policial e acusando o governo estadual de "militarizar" a Cidade Universitária.
A novidade é que, ao inspecionar o prédio invadido, a PM descobriu mais do que pichações e sujeira. Além de portas arrombadas e móveis e câmeras de segurança destruídos, desta vez foram apreendidos morteiros e coquetéis molotov, o que deixou clara a intenção dos baderneiros de sempre, que há duas semanas tumultuam o câmpus. Falam em "diálogo democrático", mas assumem sempre posições radicais que não podem levar a qualquer tipo de acordo.
Desde o início da baderna, que começou no final de outubro, quando três estudantes foram detidos depois de flagrados fumando maconha no estacionamento do prédio da História e da Geografia, os protestos contra a presença da PM no câmpus e as invasões do prédio administrativo da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e da Reitoria tiveram a participação de cerca de 700 estudantes. No total, a USP tem quase 89 mil alunos, dos quais 50 mil só na Cidade Universitária.
Por causa da apreensão de morteiros e coquetéis molotov, que poderiam ter causado um incêndio de grandes proporções, a PM levou os 73 invasores da Reitoria para o 91.º DP. Como foram transportados em ônibus comuns, sem banheiro e ar-condicionado, os líderes do grupo chegaram ao desplante de classificar o tratamento como "tortura". Depois de submetê-los a exame de corpo de delito, o delegado seccional abriu inquérito por crime de formação de quadrilha, dano patrimonial e desobediência a ordem judicial e fixou fiança no valor de R$ 545, mantendo encarcerado quem se recusasse a pagar.
Se a Justiça acolher a denúncia que o Ministério Público fará com base nesses inquéritos, os invasores podem ser condenados no plano criminal, perdendo a primariedade, e obrigados a ressarcir os prejuízos patrimoniais sofridos pela USP no plano civil. Além disso, a condenação judicial pode pôr fim à velha hipocrisia que está por trás das greves, piquetes e invasões promovidos por minorias radicais no câmpus. Elas se acostumaram a fazer reivindicações absurdas e a impor condições disparatadas nas "negociações" com as autoridades acadêmica, porque não lhes interessa qualquer espécie de acordo. Sem acordo, partem para atos de vandalismo e, depois, exigem que não sejam punidas pelo vandalismo. Lenientes, as autoridades universitárias acatam essas exigências - e a impunidade estimula os estudantes a voltarem à baderna com violência cada vez maior, como se não houvesse limites legais.
Isso ficou evidente no final da semana passada, quando a Justiça acolheu a ação de reintegração de posse impetrada pela Reitoria. Em vez de cumprir a ordem de desocupação, os invasores tentaram impor à Justiça, como condição para a desocupação do prédio da Reitoria, a retirada da PM do câmpus - o que devolveria a USP à infestação dos traficantes de drogas, assaltantes, estupradores e assassinos. E, mais grave ainda, mesmo depois do acintoso desacato a uma determinação judicial, eles continuaram sendo cortejados. Esquecendo-se de que no Estado de Direito todos são iguais perante a lei e ninguém tem prerrogativa de transgredir o que o direito penal classifica como crime, o ministro da Educação, numa declaração das mais infelizes, disse que a USP "não pode ser tratada como se fosse a cracolândia".
O que se está vendo na USP nada tem a ver com questões ideológicas ou com a discussão sobre autonomia universitária. Por trás do discurso ideológico das minorias de arruaceiros - e daqueles que irresponsavelmente os cortejam - o que se tem é delinquência praticada por quem não aprendeu a respeitar a lei e a viver numa democracia.
LIMITE ULTRAPASSADO
EDITORIAL ZERO HORA 09/11/2011
Interessa a todos os brasileiros, e não só aos paulistas, a reflexão sobre a sequência de episódios que teve como desfecho a desocupação forçada de instalações da reitoria e de outras áreas da Universidade de São Paulo, tomadas por uma rebelião de estudantes. Autoridades, escolas, famílias e em especial os próprios universitários, de todos os Estados, são desafiados a compreender os significados e as consequências do ato, que não pode ser confundido com uma manifestação inquestionável pela democracia. Mesmo que permita as mais diversas interpretações, não há como ignorar o fato de que a invasão expressa, em primeiro lugar, a transgressão de regras elementares de convivência, em quaisquer espaços, incluindo um campus universitário. Em nome do direito de ir e vir em reação à presença da Polícia Militar na universidade, os estudantes cometeram abusos evidentes e desrespeitaram não só a hierarquia institucional.
Como bem escreveu o respeitado colunista Gilberto Dimenstein, do jornal Folha de S. Paulo, a desocupação, pela PM, em cumprimento a uma determinação judicial, foi a retomada da ordem contra a vontade de delinquentes mimados. Os jovens, que representam uma minoria barulhenta e desorientada, rebelaram-se contra a presença policial em oposição ao desejo da maioria dos colegas, que optou pela segurança no campus. A presença dos policiais, por acordo com a reitoria, depois de incidentes graves e até de um assassinato dentro do campus, não pode servir de pretexto para a anarquia de um grupo de 50 universitários.
Observe-se que os invasores chegaram a expressar pretensas posições políticas, na tentativa de fundamentar ideologicamente a invasão. É interessante notar também que o gesto teve o poder de mobilizar parte dos estudantes, que se sentiram representados pela revolta, mas por outros motivos alheios à presença policial, incluindo o alegado direito de consumir drogas no campus. Compreende-se que insatisfações com a gestão da USP tenham transformado os rebelados em porta-vozes das mais variadas críticas à reitoria. Mas nada justifica o que ocorreu, mesmo que os espaços universitários sejam, por natureza, o reduto da contestação. A invasão na USP não se enquadra nem mesmo nos casos em que o inconformismo conduz a avanços nas relações humanas, e não só entre alunos, professores e diretores de escolas, em quaisquer níveis.
A reflexão não pode conduzir à armadilha dos que tentam estabelecer alguma relação entre a desocupação da USP e os atos policiais do perío-do da ditadura. A conexão é absurda. As liberdades foram afrontadas, sim, mas pela ação dos invasores, que tomaram a direção, agrediram jornalistas, depredaram instalações públicas e tentaram apresentar-se, na saída do prédio, como presos políticos. É patético e risível.
Como afirmou o ministro da Educação, Fernando Haddad, a invasão foi uma atitude arbitrária e autoritária. A inquietação universitária acionada em nome da democracia já teve dias melhores no Brasil.
Interessa a todos os brasileiros, e não só aos paulistas, a reflexão sobre a sequência de episódios que teve como desfecho a desocupação forçada de instalações da reitoria e de outras áreas da Universidade de São Paulo, tomadas por uma rebelião de estudantes. Autoridades, escolas, famílias e em especial os próprios universitários, de todos os Estados, são desafiados a compreender os significados e as consequências do ato, que não pode ser confundido com uma manifestação inquestionável pela democracia. Mesmo que permita as mais diversas interpretações, não há como ignorar o fato de que a invasão expressa, em primeiro lugar, a transgressão de regras elementares de convivência, em quaisquer espaços, incluindo um campus universitário. Em nome do direito de ir e vir em reação à presença da Polícia Militar na universidade, os estudantes cometeram abusos evidentes e desrespeitaram não só a hierarquia institucional.
Como bem escreveu o respeitado colunista Gilberto Dimenstein, do jornal Folha de S. Paulo, a desocupação, pela PM, em cumprimento a uma determinação judicial, foi a retomada da ordem contra a vontade de delinquentes mimados. Os jovens, que representam uma minoria barulhenta e desorientada, rebelaram-se contra a presença policial em oposição ao desejo da maioria dos colegas, que optou pela segurança no campus. A presença dos policiais, por acordo com a reitoria, depois de incidentes graves e até de um assassinato dentro do campus, não pode servir de pretexto para a anarquia de um grupo de 50 universitários.
Observe-se que os invasores chegaram a expressar pretensas posições políticas, na tentativa de fundamentar ideologicamente a invasão. É interessante notar também que o gesto teve o poder de mobilizar parte dos estudantes, que se sentiram representados pela revolta, mas por outros motivos alheios à presença policial, incluindo o alegado direito de consumir drogas no campus. Compreende-se que insatisfações com a gestão da USP tenham transformado os rebelados em porta-vozes das mais variadas críticas à reitoria. Mas nada justifica o que ocorreu, mesmo que os espaços universitários sejam, por natureza, o reduto da contestação. A invasão na USP não se enquadra nem mesmo nos casos em que o inconformismo conduz a avanços nas relações humanas, e não só entre alunos, professores e diretores de escolas, em quaisquer níveis.
A reflexão não pode conduzir à armadilha dos que tentam estabelecer alguma relação entre a desocupação da USP e os atos policiais do perío-do da ditadura. A conexão é absurda. As liberdades foram afrontadas, sim, mas pela ação dos invasores, que tomaram a direção, agrediram jornalistas, depredaram instalações públicas e tentaram apresentar-se, na saída do prédio, como presos políticos. É patético e risível.
Como afirmou o ministro da Educação, Fernando Haddad, a invasão foi uma atitude arbitrária e autoritária. A inquietação universitária acionada em nome da democracia já teve dias melhores no Brasil.
terça-feira, 8 de novembro de 2011
PM DESOCUPA REITORIA DA USP
PM desocupam reitoria da USP, em São Paulo - JORNAL HOJE, REDE GLOBO, Terça-feira, 08/11/2011
Setenta estudantes foram presos porque se recusaram a cumprir a determinação da Justiça. Dentro do prédio, a polícia encontrou sete garrafas de coquetel molotov.
Setenta estudantes foram presos porque se recusaram a cumprir a determinação da Justiça. Dentro do prédio, a polícia encontrou sete garrafas de coquetel molotov.
USP - DESOCUPAÇÃO DOS ALUNOS INVASORES
Tensão entre policiais e estudantes continua na USP após prisões - PRIMEIRO JORNAL, BAND.COM.BR
O clima continua tenso na USP (Universidade de São Paulo) após a reintegração de posse do prédio da reitoria, ocupado por estudantes desde a primeira semana de novembro. Um grande número de estudantes continua próximo ao local.
O clima continua tenso na USP (Universidade de São Paulo) após a reintegração de posse do prédio da reitoria, ocupado por estudantes desde a primeira semana de novembro. Um grande número de estudantes continua próximo ao local.
OCUPAÇÃO USP - ALUNOS PODEM RESPONDER POR FORMAÇÃO DE QUADRILHA
Cidade Universitária. Alunos que ocuparam reitoria da USP poderão responder por formação de quadrilha - 08/11/2011 às 10h42m; O Globo, CBN, Bom Dia S.Paulo
SÃO PAULO - Os estudantes que invadiram o prédio da reitoria da USP poderão ser indiciados por formação de quadrilha, segundo o delegado Dejair Rodrigues, da 3º seccional de Polícia. Nesta terça-feira, 70 alunos - 24 mulheres e 46 homens - foram detidos e levados de ônibus até o 91º Distrito Policial (Ceasa), onde estão sendo qualificados. Pelo menos 400 policiais militares da Tropa de Choque retiraram os estudantes, que ocupavam a reitoria desde quarta-feira passada.
Para serem libertados, os estudantes poderão ter de pagar fiança de até R$ 1.050. Em coletiva à imprensa na manhã desta terça-feira, o delegado disse que os estudantes vão responder a dois inquéritos paralelos. Um deles, que trata da invasão da reitoria, indicia os estudantes invasores por desobediência ao mandado judicial de reintegração de posse e dano ao patrimônio público.
No outro inquérito, os alunos irão responder pela depredação das viaturas das polícias civil e militar.
- Mais de três pessoas se juntaram para depredar as viaturas da polícia. Isso é formação de quadrilha - disse o delegado Dejair Rodrigues.
Os 70 estudantes estão nos ônibus estacionados em frente ao 91º DP. Eles estão sendo chamados em grupos de cinco para prestarem depoimento. Muitos pais e advogados começam a chegar na delegacia.
Desocupação
Os policiais militares da Tropa de Choque, com apoio de helicópteros, invadiram a reitoria da Universidade de São Paulo (USP) por volta de 5h10m desta terça-feira. Segundo a coronel Maria Aparecida Carvalho Yamamoto, responsável pela comunicação da Polícia Militar, não houve resistência no cumprimento da reintegração de posse do prédio. Não há informações de feridos e não houve confronto, já que os estudantes foram surpreendidos enquanto dormiam.
- Eles foram pegos de surpresa pela polícia - disse Maria.
Mesmo depois da retirada dos alunos, a PM continuou no local.
- A ação do Choque é até desocupar, a perícia chegar, ver quais foram os danos e terminar toda a operação. Aí continua o policiamento diário [no campus] - informou a coronel.
Mesas, computadores e fios de telefone foram danificados no primeiro andar da reitoria, que estava ocupado pelos alunos. A polícia diz ter apreendido coquetéis molotov na reitoria, além de morteiros, gasolina e garrafas de bebida alcoólica.
Alguns estudantes da USP estão reunidos na Praça do Relógio e fazem uma assembleia.
A Justiça determinou que os estudantes desocupassem o prédio até 23 horas de segunda-feira, o que não foi cumprido.
Os estudantes ocuparam a reitoria em protesto contra a presença da Polícia Militar no campus da universidade. Inicialmente, eles ocuparam o prédio da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciência Humanas (FFLCH). Uma assembleia decidiu pela desocupação, mas outro grupo resolveu invadir a reitoria, por discordar da decisão.
Na noite desta segunda-feira, cerca de 350 alunos fizeram uma assembleia por volta de 23h e decidiram manter a ocupação da reitoria, desobedecendo a ordem judicial. Logo após a assembleia, eles chegaram a agredir jornalistas que faziam a cobertura no local, arremessando paus e pedras.
Na tarde de ontem, houve tentativa de acordo com a participação de representantes de uma comissão de negociação. Os professores Wanderley Messias, da Faculdade de Geografia, superintendente de relações institucionais da USP, e Alberto Amadio, da Faculdade de Educação Física e membro do gabinete do reitor, mantiveram as propostas anteriores: a universidade se comprometeu a rever processos administrativos contra funcionários e estudantes, caso a caso, mas não abriu mão do convênio para a presença da Polícia Militar no campus. A reitoria se comprometeu a não punir estudantes e funcionários pela participação na invasão do prédio e a formar uma comissão de alunos, funcionários e reitoria para decidir sobre os termos do convênio.
O convênio entre a USP e a PM foi firmado após a morte do estudante Felipe Ramos de Paiva, de 24 anos, assassinado dentro do campus em 18 de maio deste ano. A oposição à presença dos policiais no campus ocorreu depois que três estudantes foram detidos fumando maconha dentro do campus.
Na semana passada, a juíza Simone Gomes Rodrigues Casoretti, da 9ª Vara de Fazenda Pública, que concedeu a reintegração de posse, havia autorizado, "como medida extrema", o uso de força policial. Ela ressalvou, no entanto, que contava "com o bom senso das partes e o empenho na melhoria das condições de vida no campus".
Ontem, o professor Wandeley Messias da Costa, superintendente de relações institucionais, admitiu que o acordo não estabelece limites para atuação da PM.
- O convênio é um acordo genérico entre as partes. Evidente que esse convênio tem que ter um plano de trabalho anexo, que sequer houve tempo de ser feito, dado os incidentes, os ocorridos. Não tivemos tempo de detalhar. Mas isso vai ser detalhado, e agora com uma novidade: com a participação deles [os alunos] - disse o professor
Costa ressaltou que a reitoria não está disposta, em nenhuma hipótese, a cogitar a possibilidade de revogação do convênio com a PM.
- O que a universidade coloca é que nós podemos e devemos discutir com os alunos e com outros membros da universidade o detalhamento e aperfeiçoamento do convênio - disse.
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
RADICAIS SEM ROSTO
Ligados à extrema-esquerda, estudantes que invadiram a reitoria da USP compõem um grupo pequeno, sem reconhecimento da UNE nem apoio de seus colegas de universidade. Paula Rocha - REVISTA ISTO É, N° Edição: 2191, 07.Nov.11 - 16:13
Eles nasceram na elite, estudam numa das melhores universidades do Brasil, usam roupas e tênis de marca, se dizem anarquistas e afirmam que defendem a causa operária. Os estudantes que lideraram as manifestações contra a presença da Polícia Militar no campus da USP (Universidade de São Paulo) nas últimas semanas compõem um grupo pequeno, movido por questões ideológicas ultrapassadas, mas capaz de gerar uma discussão de âmbito nacional. Munidos de paus e pedras, e com os rostos cobertos para não serem identificados, cerca de 50 jovens invadiram a reitoria da USP na terça-feira 1o, como forma de forçar o reitor, João Grandino Rodas, a retirar a PM da universidade. O protesto foi motivado pela repressão a três alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), pegos fumando maconha no campus. Quando seriam encaminhados a uma delegacia para assinar um termo circunstanciado, outros estudantes intervieram e a PM usou cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo para dispersá-los. A ação truculenta da polícia serviu de gatilho para que os radicais colocassem em prática o movimento autointitulado Ocupa USP – Contra a Repressão. Na quinta-feira 3, a Justiça autorizou a reintegração de posse do prédio da reitoria. Mas eles decidiram manter a ocupação.
A principal reivindicação do grupo, coordenado por três correntes de extrema-esquerda – a Liga Estratégica Revolucionária – Quarta Internacional, o Movimento Negação da Negação e o Partido da Causa Operária (PCO) –, é a suspensão do convênio entre a PM e a universidade, firmado após a morte do estudante Felipe Ramos de Paiva, baleado no estacionamento da Faculdade de Economia e Administração (FEA) em maio passado. O episódio chamou a atenção da sociedade para a falta de segurança no campus e levou a reitoria da USP a pedir reforço no policiamento. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, a iniciativa conseguiu reduzir significativamente a incidência de diversas modalidades de crimes na universidade (leia quadro). Esse argumento, no entanto, é desconsiderado pelos garotos mascarados. “O real objetivo da Polícia Militar na USP não é o de inibir crimes, mas sim de combater manifestações políticas e cercear o direito de expressão livre de estudantes e trabalhadores”, dizem os estudantes no Manifesto da Ocupação, publicado na internet. Além disso, eles também exigem que os processos administrativos movidos contra docentes e discentes da USP, devido a ocupações anteriores, sejam suspensos.
Apesar de fazer muito barulho, o grupo dos radicais não representa a opinião dos mais de 80 mil estudantes da USP. Na terça-feira 1o, alunos de diversos cursos realizaram uma manifestação pró-PM no campus, apoiada pelo Centro Acadêmico da FEA. “A presença da PM na USP tem apoio de 80% dos alunos da FEA e da Politécnica”, diz Thomás de Barros, estudante de economia e diretor de comunicação do CA da FEA. A postura dos radicais de extrema-esquerda é vista com maus olhos até mesmo entre aqueles que não querem a polícia atuando dentro da universidade. “Sou contra a PM no campus, mas também não concordo com a ocupação da reitoria”, disse um estudante de letras que não quis se identificar. A União Nacional dos Estudantes (UNE) declarou que não reconhece o grupo e que seu contato na USP é o Diretório Central dos Estudantes (DCE). O próprio DCE, também contrário à presença da PM, não apoia os radicais. “Infelizmente, um setor minoritário do movimento, derrotado na votação da assembleia de 1o de novembro, agiu de forma antidemocrática ao ocupar a reitoria, deslegitimando o debate feito no fórum”, declararam em nota.
Para o sociólogo Renato Cancian, autor do livo “Movimento Estudantil e Repressão Política”, a militância político-partidária, intensificada a partir dos anos 1970, acabou por enfraquecer o movimento estudantil, já que houve um completo distanciamento das demandas educacionais. “Os militantes partidários defendem uma agenda eminentemente política, enquanto os apartidários pregam a completa dissociação do movimento estudantil de questões políticas mais amplas”, diz Cancian. “E, na verdade, as duas agendas podem coexistir, desde que tenham equilíbrio.” O especialista ainda defende a ideia de que a solução para a questão da violência no campus da USP deve incluir outras medidas além da presença da PM. “A USP deveria investir em mais iluminação e no treinamento da guarda universitária.” O orçamento em 2011 da USP é de R$ 3,6 bilhões, dinheiro que vem de impostos cobrados em São Paulo. Desse total, 85% vai para o pagamento de salários de professores e funcionários.
sábado, 5 de novembro de 2011
ODRES NOVOS E CORAGEM PARA TRAVESSIA
Ronilson de Souza Luiz, capitão da Polícia Militar, docente da Academia de Polícia Militar do Barro Branco e doutor em educação pela PUC/SP. (profronilson@gmail.com)
“Ninguém põe remendo de pano novo em veste velha; porque o remendo tira parte da veste, e fica maior a rotura. Nem se põe vinho novo em odres velhos; do contrário, rompem-se os odres, derrama-se o vinho, e os odres se perdem. Mas põem-se vinho novo em odres novos, e ambos se conservam” (Mateus 9.16,17).
O debate só é possível se pensarmos nos contemporâneos papéis e missões atribuídos à Universidade e à Polícia Militar. Escrevo visando aos que ainda estão na “dúvida razoável”.
A abordagem policial é sempre um momento de grande tensão e exige do profissional de polícia: cautela, firmeza e conhecimento da legislação.
Os manifestantes sabem que nada mais recorrente do que ouvir que a USP está distante do dia-a-dia e dos problemas das pessoas comuns. Seguir a opção de afastar a PM do campus, neste momento, reforçará esta imagem.
A USP firmou convênio temporário com a PM no sentido de que policiais militares com motos e viaturas operacionais também exercessem o inquestionável poder de polícia no interior do campus, apoiando a competente Guarda Universitária. Um recente homicídio ocorrido na FEA motivou o convênio.
Não cabe ao patrulheiro questionar o que foi decidido e planejado, dentro da legalidade. Prever e prover são tarefas do escalão superior sempre com respeito à vida, integridade física, dignidade das pessoas e interagindo com o cidadão, construindo soluções sólidas e perene para os problemas de segurança.
Em 2011, registramos 146 mil interessados em freqüentar o campus; mais de 133 mil não terão êxito.
Na USP, onde me formei, ou na Cidade Tiradentes, onde morei, a atuação, postura e transparência da atividade policial deverá ser a mesma, quer quanto ao uso de drogas, quer em ocorrências de dano ao patrimônio público. Aos uspianos, não há que se falar em uso inocente ou desconhecimento do submundo drogas.
A Universidade lutou para que a prestação dos serviços públicos essenciais (saúde, educação e segurança) ocorressem de forma indistinta e com imparcialidade.
A segurança pública é um processo sistêmico e responsabilidade de todos. Queiramos ou não, a polícia representa o resultado da correlação de forças políticas existentes na própria sociedade.
Um PM é um profissional do Estado como qualquer outro, contudo, mexe com questões vitais altamente sensíveis e explosivas (vida e liberdade) e só ele pode, na forma da lei, fazer seu papel usando, se necessário, a força.
Certamente parte da sociedade alegrou-se ao ver discentes promoverem ato favorável à manutenção da PM, que zela pela mais perfeita fruição da vida universitária. A frase da praça do Relógio pode ajudar aos mais extremistas neste debate: “No Universo do conhecimento o centro está em toda parte”.
Em um esforço com as palavras eu diria que o papel da polícia é manter o tenso equilíbrio da lei e da ordem, não qualquer ordem – mas aquela desejada pelos justos cidadãos; pelo que consta, estes não repelem a PM.
Ao contrário do que alguns ainda pensam, a moderna formação e os constantes treinamentos habilitam a PM a lidar com ocorrências e adversidades de toda ordem, em qualquer dia, horário e lugar.
Lembro Fernando Pessoa: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo. E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia. E se não ousarmos fazê-la. Teremos ficado para sempre. À margem de nós mesmos.”
“Ninguém põe remendo de pano novo em veste velha; porque o remendo tira parte da veste, e fica maior a rotura. Nem se põe vinho novo em odres velhos; do contrário, rompem-se os odres, derrama-se o vinho, e os odres se perdem. Mas põem-se vinho novo em odres novos, e ambos se conservam” (Mateus 9.16,17).
O debate só é possível se pensarmos nos contemporâneos papéis e missões atribuídos à Universidade e à Polícia Militar. Escrevo visando aos que ainda estão na “dúvida razoável”.
A abordagem policial é sempre um momento de grande tensão e exige do profissional de polícia: cautela, firmeza e conhecimento da legislação.
Os manifestantes sabem que nada mais recorrente do que ouvir que a USP está distante do dia-a-dia e dos problemas das pessoas comuns. Seguir a opção de afastar a PM do campus, neste momento, reforçará esta imagem.
A USP firmou convênio temporário com a PM no sentido de que policiais militares com motos e viaturas operacionais também exercessem o inquestionável poder de polícia no interior do campus, apoiando a competente Guarda Universitária. Um recente homicídio ocorrido na FEA motivou o convênio.
Não cabe ao patrulheiro questionar o que foi decidido e planejado, dentro da legalidade. Prever e prover são tarefas do escalão superior sempre com respeito à vida, integridade física, dignidade das pessoas e interagindo com o cidadão, construindo soluções sólidas e perene para os problemas de segurança.
Em 2011, registramos 146 mil interessados em freqüentar o campus; mais de 133 mil não terão êxito.
Na USP, onde me formei, ou na Cidade Tiradentes, onde morei, a atuação, postura e transparência da atividade policial deverá ser a mesma, quer quanto ao uso de drogas, quer em ocorrências de dano ao patrimônio público. Aos uspianos, não há que se falar em uso inocente ou desconhecimento do submundo drogas.
A Universidade lutou para que a prestação dos serviços públicos essenciais (saúde, educação e segurança) ocorressem de forma indistinta e com imparcialidade.
A segurança pública é um processo sistêmico e responsabilidade de todos. Queiramos ou não, a polícia representa o resultado da correlação de forças políticas existentes na própria sociedade.
Um PM é um profissional do Estado como qualquer outro, contudo, mexe com questões vitais altamente sensíveis e explosivas (vida e liberdade) e só ele pode, na forma da lei, fazer seu papel usando, se necessário, a força.
Certamente parte da sociedade alegrou-se ao ver discentes promoverem ato favorável à manutenção da PM, que zela pela mais perfeita fruição da vida universitária. A frase da praça do Relógio pode ajudar aos mais extremistas neste debate: “No Universo do conhecimento o centro está em toda parte”.
Em um esforço com as palavras eu diria que o papel da polícia é manter o tenso equilíbrio da lei e da ordem, não qualquer ordem – mas aquela desejada pelos justos cidadãos; pelo que consta, estes não repelem a PM.
Ao contrário do que alguns ainda pensam, a moderna formação e os constantes treinamentos habilitam a PM a lidar com ocorrências e adversidades de toda ordem, em qualquer dia, horário e lugar.
Lembro Fernando Pessoa: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo. E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia. E se não ousarmos fazê-la. Teremos ficado para sempre. À margem de nós mesmos.”
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
PRÉDIO DA UNE - RECEBEU R$ 30 MILHÕES DE INDENIZAÇÃO, MAS SEGUE SÓ NO PAPEL
INDENIZAÇÃO MILIONÁRIA. Prédio da UNE segue só no papel. Entidade estudantil recebeu R$ 30 milhões do governo Lula para reconstruir prédio no Rio, mas, até agora, obra não começou - ZERO HORA 03/11/2011
Lançada com pompa, em cerimônia que contou com a presença do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a construção da nova sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), no Rio, segue apenas no papel. E recursos para a obra não faltaram: no final da gestão de Lula, a União repassou R$ 30 milhões aos estudantes para a obra.
O projeto, para um edifício de 12 andares, será financiado a partir de uma indenização por danos sofridos durante o regime militar. O valor a que a UNE tem direito é de R$ 44,6 milhões – os R$ 14,6 milhões restantes devem ser pagos no governo Dilma Rousseff, mas estes recursos ainda não foram liberados.
Além dos R$ 30 milhões da indenização, a UNE recebeu, durante os dois mandatos de Lula, R$ 12,8 milhões da União, graças a convênios com instituições federais – inclusive o Ministério do Esporte, entregue ao PC do B desde o início do governo petista. O PC do B, aliás, é dominante nas gestões da UNE desde que ela foi formalizada novamente, em 1979.
O valor repassado à entidade é 11,6 vezes maior que o R$ 1,1 milhão liberado na gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Houve repasses apenas em 1995, de R$ 100 mil, e em 2002, de R$ 1 milhão.
Levantamento do site Contas Abertas, com base no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), mostra que os convênios da UNE com o Ministério do Esporte renderam repasses de quase R$ 450 mil, em 2004 e em 2009. O convênio de 2009, no valor de R$ 250 mil, prevê “capacitação de gestores de esporte e de lazer”. O de 2004 somou R$ 199,6 mil, para “promoções de eventos de esporte educacional”.
O ministério que fez os maiores repasses à UNE foi o da Cultura, somando R$ 8,5 milhões. Um dos maiores convênios, de 2009, no valor de R$ 1,4 milhão, concedeu “apoio financeiro ao projeto Atividades Culturais e Artísticas da UNE’”. No mesmo ano, foram repassados R$ 786,5 mil para “realização de shows de música popular brasileira e debates nas cidades de São Paulo e Rio”. O Ministério da Saúde, somente em 2008, repassou R$ 2,8 milhões para programa de “apoio à educação de trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS)”, segundo o Contas Abertas.
Repasses levaram procurador a pedir informações a órgãos
Por causa dos altos valores repassados à UNE nos últimos anos, o procurador Marinus Marsico, representante do Ministério Público no Tribunal de Contas da União (TCU), pediu aos ministérios informações e cópias das prestações de contas dos universitários. Segundo o TCU, os esclarecimentos das instituições federais serão analisados quando o procurador voltar de férias, na próxima semana. Marsico poderá pedir mais informações, apresentar um pedido de investigação ao TCU ou encerrar o procedimento, se entender que as prestações de contas foram satisfatórias.
Por que a União indenizou os estudantes - Por meio de uma lei específica, a UNE ganhou direito a uma indenização de R$ 44,6 milhões. No ano passado, o governo Lula liberou para a entidade R$ 30 milhões, e o valor restante, R$ 14,6 milhões, deverá ser pago pelo governo Dilma, que não liberou recursos até agora.
O INCÊNDIO NA SEDE - O prédio da UNE, localizado na praia do Flamengo, no Rio (atualmente um dos endereços mais valorizados do país), foi incendiado em 31 de março de 1964, dia da tomada do poder pelos militares. Como a Lei da Anistia só amparava reparações de caráter pessoal, foi preciso propor uma lei específica para indenizar a UNE.
Lançada com pompa, em cerimônia que contou com a presença do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a construção da nova sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), no Rio, segue apenas no papel. E recursos para a obra não faltaram: no final da gestão de Lula, a União repassou R$ 30 milhões aos estudantes para a obra.
O projeto, para um edifício de 12 andares, será financiado a partir de uma indenização por danos sofridos durante o regime militar. O valor a que a UNE tem direito é de R$ 44,6 milhões – os R$ 14,6 milhões restantes devem ser pagos no governo Dilma Rousseff, mas estes recursos ainda não foram liberados.
Além dos R$ 30 milhões da indenização, a UNE recebeu, durante os dois mandatos de Lula, R$ 12,8 milhões da União, graças a convênios com instituições federais – inclusive o Ministério do Esporte, entregue ao PC do B desde o início do governo petista. O PC do B, aliás, é dominante nas gestões da UNE desde que ela foi formalizada novamente, em 1979.
O valor repassado à entidade é 11,6 vezes maior que o R$ 1,1 milhão liberado na gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Houve repasses apenas em 1995, de R$ 100 mil, e em 2002, de R$ 1 milhão.
Levantamento do site Contas Abertas, com base no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), mostra que os convênios da UNE com o Ministério do Esporte renderam repasses de quase R$ 450 mil, em 2004 e em 2009. O convênio de 2009, no valor de R$ 250 mil, prevê “capacitação de gestores de esporte e de lazer”. O de 2004 somou R$ 199,6 mil, para “promoções de eventos de esporte educacional”.
O ministério que fez os maiores repasses à UNE foi o da Cultura, somando R$ 8,5 milhões. Um dos maiores convênios, de 2009, no valor de R$ 1,4 milhão, concedeu “apoio financeiro ao projeto Atividades Culturais e Artísticas da UNE’”. No mesmo ano, foram repassados R$ 786,5 mil para “realização de shows de música popular brasileira e debates nas cidades de São Paulo e Rio”. O Ministério da Saúde, somente em 2008, repassou R$ 2,8 milhões para programa de “apoio à educação de trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS)”, segundo o Contas Abertas.
Repasses levaram procurador a pedir informações a órgãos
Por causa dos altos valores repassados à UNE nos últimos anos, o procurador Marinus Marsico, representante do Ministério Público no Tribunal de Contas da União (TCU), pediu aos ministérios informações e cópias das prestações de contas dos universitários. Segundo o TCU, os esclarecimentos das instituições federais serão analisados quando o procurador voltar de férias, na próxima semana. Marsico poderá pedir mais informações, apresentar um pedido de investigação ao TCU ou encerrar o procedimento, se entender que as prestações de contas foram satisfatórias.
Por que a União indenizou os estudantes - Por meio de uma lei específica, a UNE ganhou direito a uma indenização de R$ 44,6 milhões. No ano passado, o governo Lula liberou para a entidade R$ 30 milhões, e o valor restante, R$ 14,6 milhões, deverá ser pago pelo governo Dilma, que não liberou recursos até agora.
O INCÊNDIO NA SEDE - O prédio da UNE, localizado na praia do Flamengo, no Rio (atualmente um dos endereços mais valorizados do país), foi incendiado em 31 de março de 1964, dia da tomada do poder pelos militares. Como a Lei da Anistia só amparava reparações de caráter pessoal, foi preciso propor uma lei específica para indenizar a UNE.
terça-feira, 1 de novembro de 2011
USP - ESTUDANTES PROTESTAM A FAVOR DA PRESENÇA PM NO CAMPUS
Cerca de 200 estudantes fazem protesto a favor da presença da PM na USP - O GLOBO, 01/11/2011 às 18h23m; Sérgio Roxo.
SÃO PAULO - Cerca de 200 estudantes participaram na tarde desta terça-feira de um protesto pela permanência da Polícia Militar no campus da universidade, localizado no Butantã, Zona Oeste da capital paulista, A manifestação foi pacífica e foi permitido, inclusive, discurso dos contrários à presença da PM na Cidade Universitária.
- A ditadura acabou em 1984. Não é possível ficar com delírios e lutar contra fantasmas que não existem mais - diz o Márcio Góis, de 41 anos, aluno do segundo ano de Filosofia, um dos organizadores da manifestação.
Nos discursos, os estudantes favoráveis à presença da PM dizem que alguns utilizam o campus para consumir e traficar drogas. Os contrários negaram parte das acusações, dizendo que apenas consumiam maconha.
- Sou contra a PM, que não soluciona os problemas - lembro Bruno Crema, de 21 anos, aluno de Ciências Sociais.
Os estudantes que ocupam desde quinta-feira o prédio da Administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas vão decidir na noite desta terça-feira se mantém ou não encerram o protesto. A ocupação começou depois que alguns estudantes entraram em confronto com a polícia, que prendeu três alunos flagrados com entorpecentes no local.
SÃO PAULO - Cerca de 200 estudantes participaram na tarde desta terça-feira de um protesto pela permanência da Polícia Militar no campus da universidade, localizado no Butantã, Zona Oeste da capital paulista, A manifestação foi pacífica e foi permitido, inclusive, discurso dos contrários à presença da PM na Cidade Universitária.
- A ditadura acabou em 1984. Não é possível ficar com delírios e lutar contra fantasmas que não existem mais - diz o Márcio Góis, de 41 anos, aluno do segundo ano de Filosofia, um dos organizadores da manifestação.
Nos discursos, os estudantes favoráveis à presença da PM dizem que alguns utilizam o campus para consumir e traficar drogas. Os contrários negaram parte das acusações, dizendo que apenas consumiam maconha.
- Sou contra a PM, que não soluciona os problemas - lembro Bruno Crema, de 21 anos, aluno de Ciências Sociais.
Os estudantes que ocupam desde quinta-feira o prédio da Administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas vão decidir na noite desta terça-feira se mantém ou não encerram o protesto. A ocupação começou depois que alguns estudantes entraram em confronto com a polícia, que prendeu três alunos flagrados com entorpecentes no local.
USP ACEITA NEGOCIAR COM INVASORES DA FFLCH
Nesta segunda-feira, cerca de 300 alunos e alguns professores participaram de uma passeata pedindo o fim da atuação da polícia dentro do campus - VEJA ONLINE, com Agência Estado, 01/11/2011
A Congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) divulgou, na noite desta segunda-feira, um pronunciamento a respeito da invasão do prédio da administração da faculdade. O edifício foi ocupado por alunos que entraram em confronto com a Polícia Militar (PM) depois da prisão de três estudantes do curso de Geografia que fumavam maconha dentro do campus. Em nota, a USP explica que a Congregação é um órgão consultivo e deliberativo e representa a instância máxima da Unidade.
No documento, a FFLCH informa que montou uma comissão formada por três professores e dois funcionários para negociar a desocupação do prédio. O texto afirma também que a faculdade “se propõe a realizar gestões junto à superior administração visando a reavaliação do protocolo entre a USP e a Secretaria de Segurança Pública do Estado de S. Paulo”.
Por volta das 19 horas desta segunda-feira, cerca de 300 alunos e alguns professores participaram de uma passeata pedindo o fim da atuação da polícia dentro da USP – desde o assassinato do aluno Felipe Ramos de Paiva, em setembro deste ano, o Conselho Gestor da Universidade firmou um convênio com a PM que permite a entrada da polícia no campus.
Em contrapartida, outros alunos da USP estão organizando, por meio do Facebook, um protesto a favor da presença da PM no campus. Idealizado por uma estudante da faculdade de Letras, o ato está marcado para acontecer nesta terça-feira, a partir das 17 horas, na Praça do Relógio, dentro da universidade. "Somos estudantes, somos trabalhadores, somos a maioria", afirma a página do evento no Facebook. "E exigimos segurança! A minoria contra tudo e todos não pode nos impedir de querer o que é nosso de direito! A Cidade Universitária é parte da cidade de São Paulo, e deve ser tratada como tal. Aqui a lei se cumpre, e os fora-da-lei são devidamente punidos!".
Os estudantes que ocupam a FFLCH também planejam para esta terça-feira outra assembleia para decidir se continuam com a invasão.
Leia a íntegra do pronunciamento da Congregação da FFLCH:
A Congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, reunida em sessão extraordinária, no dia 31 de outubro de 2011, na sala 8, do Conjunto de Filosofia e Ciências Sociais, à vista da gravidade dos acontecimentos que resultaram na ocupação do prédio da Administração, vem declarar sua disposição para o encaminhamento de soluções mediante negociação com as partes envolvidas no conflito.
A Congregação reconhece que os termos do convênio firmado entre a USP e a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo são vagos, imprecisos e não preenchem as expectativas da comunidade uspiana por segurança adequada. Reconhece igualmente que a intervenção da Polícia Militar extrapolou os propósitos originalmente concebidos com o convênio.
Como é tradicional em suas manifestações, a Congregação repudia com veemência o recurso a todas as formas de violência. É oportuno lembrar que a intervenção da PM ocorreu em um espaço social sensível à presença de forças coercitivas, face ao histórico, ainda recente na memória coletiva da comunidade acadêmica, de intervenções policiais violentas durante a ditadura militar.
As reações de alunos, embora previsíveis, não teriam tido o desdobramento que tiveram caso houvesse prevalecido o bom entendimento entre as partes envolvidas, sem apelo à violência. A Congregação envidará todos seus esforços para desarmar o conflito e conduzir seu desfecho à mesa de negociações.
Para tanto, se propõe a realizar gestões junto à superior administração visando reavaliação do protocolo entre a USP e a Secretaria de Segurança Pública do Estado de S. Paulo. É preciso que haja clareza quanto aos exatos fins e alcance da política de segurança nos campi. Uma moderna política de segurança pública prescinde da criminalização de comportamentos.
Nessa medida, a Congregação acolhe as sugestões dos alunos relativas a medidas que podem contribuir para o aperfeiçoamento da segurança na USP, entre as quais: melhoria da iluminação, aumento da frequência de ônibus de linha e circulares, guarda universitária, constituída por funcionários de carreira, desempenhando preferencialmente funções preventivas e com formação compatível com direitos humanos, criação de um corpo de guardas femininas, capacitadas para o atendimento de vítimas de assédio sexual e estupro.
A Congregação da FFLCH também se compromete a desencadear discussão ampla e aberta a toda a comunidade acadêmica para a formulação e execução de política interna de prevenção de drogas. Com o propósito de reduzir oportunidades de conflitos com desfechos violentos, igualmente se compromete a promover estudos que fundamentem proposta ao Conselho Universitário de revisão e modernização dos regulamentos que disciplinam processos administrativos movidos contra estudantes.
A Congregação reconhece que as discussões e debates a respeito da estrutura de poder na USP tem caráter de urgência e não podem mais ser postergadas sob quaisquer razões ou pretextos. Por fim, convém destacar que a Diretora da FFLCH da USP esteve presente no momento dos acontecimentos e fez a negociação visando a proteção dos direitos dos três alunos envolvidos, acompanhando‐os à Delegacia de Polícia. Além disso, garantiu que não teriam nenhum tipo de punição. Portanto, não é verdadeira a afirmação veiculada na comunidade de que a Diretora apoiou a ação da PM. Nesse sentido, a Congregação manifesta‐se pelo desagravo à injusta acusação que lhe foi imputada em documentos de circulação pública.
Assinar:
Postagens (Atom)