REVISTA ISTO É N° Edição: 2393 | 09.Out.15 - 20:00
Pichações racistas, homofóbicas e machistas se espalham por instituições e expõem a violência simbólica em locais que deveriam ser o centro da luta contra a intolerância
Camila Brandalise
Quem nos últimos dias entrou em um dos banheiros masculinos da faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, se deparou com uma inscrição surpreendentemente ofensiva assim que fechou a porta. “Lugar de negro não é no Mackenzie, é no presídio.” Uma manifestação de racismo lamentável se vista em qualquer lugar, quem dirá em um ambiente que, em sua essência, deveria prezar pela pluralidade. A instituição abriu uma sindicância para apurar o autor da pichação, que receberá uma “punição exemplar”, segundo o chanceler Davi Charles Gomes. “É um tipo de violência simbólica que não pode ser tolerada, não vamos deixar crescer e repudiamos como instituição”, afirma Gomes. Infelizmente, esse não é um caso isolado. Pichações, cartazes e escritos de cunho racista, homofóbico e machista têm aparecido com frequência nas paredes e portas das instituições de ensino superior, um ambiente onde o diálogo deveria ser constante.
RACISMO
Acima, inscrição ofensiva no Mackenzie. Abaixo, o professor da Unesp,
Juarez Tadeu de Paula Xavier foi vítima de uma pichação (acima) na universidade
Em julho, um episódio parecido aconteceu na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Bauru. Dessa vez, porém, uma das inscrições se dirigia ao professor Juarez Tadeu de Paula Xavier, chefe do departamento de Comunicação Social e coordenador do Núcleo Negro para Pesquisa e Extensão (Nupe). “Juarez macaco” e “Unesp cheia de macacos fedidos” foram algumas das frases escritas nas portas de um banheiro masculino. Xavier vê na política de cotas instituída pela Unesp o gatilho para esses casos. “Agora, mais importante do que a punição é criar mecanismos para superação, como inserir no currículo a prática de acolher os cotistas e informar aos outros alunos que essa não é uma concessão de privilégio, mas garantia de direito”, afirma Xavier.
Na Universidade Federal do ABC (UFABC), em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, o crime foi de homofobia. Em junho, mais uma vez as portas de um banheiro masculino foram tomadas por frases ofensivas, episódio diretamente ligado à criação de um grupo, dentro da instituição, para promoção de informações sobre diversidade sexual e de gênero, o Prisma. Preconceito latente em diversos grupos sociais, a homofobia é uma constante também no ambiente universitário. “Temos a crença de que a universidade vai formar cidadãos, mas não é automático”, afirma o professor e pesquisador Angelo Brandelli Costa, do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Costa conduziu uma pesquisa que mostrou que 88% dos alunos da instituição tem algum grau de homofobia ou transfobia. “Precisamos incluir questões de direitos humanos no currículo, caso contrário, o preconceito vai se perpetuar.”
Na trinca das minorias, além de negros e LGBT´s, sobraram ofensas também às mulheres. Em maio, alunos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) espalharam cartazes machistas e cheios de palavrões pelos corredores. “Houve um caso de estupro entre alunos da universidade, mas foi externo, e um grupo de mulheres espalhou inscrições pedindo mais respeito às alunas”, diz a estudante de Ciências Sociais Jhenifer Batista, 22 anos, do Diretório Central dos Estudantes (DCE). A resposta veio com as ofensas misóginas mostradas nesta página, na foto acima, à esquerda. “O número de coletivos que se organizaram nas universidades pelo direito das minorias, não só de mulheres, aumentou e causou uma reação nos mais preconceituosos, que percebem esse avanço, se sentem agredidos e começam a provocar”, afirma Antônio de Almeida Jr., pesquisador do Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos (Diversitas) da Universidade de São Paulo (USP). Que se crie, então, uma disciplina para ensinar a esses estudantes o que eles ainda não aprenderam: a respeitar.
Pichações racistas, homofóbicas e machistas se espalham por instituições e expõem a violência simbólica em locais que deveriam ser o centro da luta contra a intolerância
Camila Brandalise
Quem nos últimos dias entrou em um dos banheiros masculinos da faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, se deparou com uma inscrição surpreendentemente ofensiva assim que fechou a porta. “Lugar de negro não é no Mackenzie, é no presídio.” Uma manifestação de racismo lamentável se vista em qualquer lugar, quem dirá em um ambiente que, em sua essência, deveria prezar pela pluralidade. A instituição abriu uma sindicância para apurar o autor da pichação, que receberá uma “punição exemplar”, segundo o chanceler Davi Charles Gomes. “É um tipo de violência simbólica que não pode ser tolerada, não vamos deixar crescer e repudiamos como instituição”, afirma Gomes. Infelizmente, esse não é um caso isolado. Pichações, cartazes e escritos de cunho racista, homofóbico e machista têm aparecido com frequência nas paredes e portas das instituições de ensino superior, um ambiente onde o diálogo deveria ser constante.
RACISMO
Acima, inscrição ofensiva no Mackenzie. Abaixo, o professor da Unesp,
Juarez Tadeu de Paula Xavier foi vítima de uma pichação (acima) na universidade
Em julho, um episódio parecido aconteceu na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Bauru. Dessa vez, porém, uma das inscrições se dirigia ao professor Juarez Tadeu de Paula Xavier, chefe do departamento de Comunicação Social e coordenador do Núcleo Negro para Pesquisa e Extensão (Nupe). “Juarez macaco” e “Unesp cheia de macacos fedidos” foram algumas das frases escritas nas portas de um banheiro masculino. Xavier vê na política de cotas instituída pela Unesp o gatilho para esses casos. “Agora, mais importante do que a punição é criar mecanismos para superação, como inserir no currículo a prática de acolher os cotistas e informar aos outros alunos que essa não é uma concessão de privilégio, mas garantia de direito”, afirma Xavier.
Na Universidade Federal do ABC (UFABC), em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, o crime foi de homofobia. Em junho, mais uma vez as portas de um banheiro masculino foram tomadas por frases ofensivas, episódio diretamente ligado à criação de um grupo, dentro da instituição, para promoção de informações sobre diversidade sexual e de gênero, o Prisma. Preconceito latente em diversos grupos sociais, a homofobia é uma constante também no ambiente universitário. “Temos a crença de que a universidade vai formar cidadãos, mas não é automático”, afirma o professor e pesquisador Angelo Brandelli Costa, do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Costa conduziu uma pesquisa que mostrou que 88% dos alunos da instituição tem algum grau de homofobia ou transfobia. “Precisamos incluir questões de direitos humanos no currículo, caso contrário, o preconceito vai se perpetuar.”
Na trinca das minorias, além de negros e LGBT´s, sobraram ofensas também às mulheres. Em maio, alunos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) espalharam cartazes machistas e cheios de palavrões pelos corredores. “Houve um caso de estupro entre alunos da universidade, mas foi externo, e um grupo de mulheres espalhou inscrições pedindo mais respeito às alunas”, diz a estudante de Ciências Sociais Jhenifer Batista, 22 anos, do Diretório Central dos Estudantes (DCE). A resposta veio com as ofensas misóginas mostradas nesta página, na foto acima, à esquerda. “O número de coletivos que se organizaram nas universidades pelo direito das minorias, não só de mulheres, aumentou e causou uma reação nos mais preconceituosos, que percebem esse avanço, se sentem agredidos e começam a provocar”, afirma Antônio de Almeida Jr., pesquisador do Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos (Diversitas) da Universidade de São Paulo (USP). Que se crie, então, uma disciplina para ensinar a esses estudantes o que eles ainda não aprenderam: a respeitar.