segunda-feira, 29 de setembro de 2014

CASOS DE ESTUPRO SE MULTIPLICAM EM UNIVERSIDADES

G1 FANTÁSTICO Edição do dia 28/09/2014

Alunas lutam contra violência sexual com mulheres em universidades. Casos de estupro têm se multiplicado em universidades do país. Alunas criam grupos para dar apoio a vítimas e tentar acabar com esse tipo de violência.






A atitude de um grupo de estudantes de uma universidade pública em Minas Gerais gerou polêmica. Eles cantaram uma música que incentiva o estupro em um lugar onde havia outras estudantes. Essa história aconteceu na mesma semana em que uma universitária americana chamou a atenção pela forma como resolveu protestar contra um suposto agressor sexual.

Belo Horizonte, sábado passado. As amigas Luísa e Marcela estavam em um bar. “Foram chegando outros jovens também e muitos deles identificados com a camisa da Bateria Engrenada da UFMG”, conta Luísa Turbino, estudante da UFMG.

A bateria é um grupo musical formado por estudantes de engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais. Esse tipo de grupo - ou charanga, como também é chamado - se apresenta em festas da faculdade. Só que as músicas, naquela noite, chamaram a atenção.

“Eram músicas de conteúdo sexual que denegriam as mulheres. Principalmente de outras universidades”, lembra Marcela Linhares, analista internacional.

“Em determinado momento começou um grupo menor, começou a cantar a frase: ‘Não é estupro, é sexo surpresa’”, afirma Luísa.

“Eu fiquei muito chocada, muito triste, que as pessoas pudessem considerar aquilo uma brincadeira”, lamenta Marcela.

“Nessa hora, a revolta bateu, a gente já pediu a conta e foi embora do bar”, lembra o namorado de Luísa Daniel Arantes Castro.

Ouvir aquela música foi tão desconcertante que quando a Luísa chegou em casa, ela não conseguia pegar no sono e decidiu: na madrugada mesmo, fez um protesto nas redes sociais. “Mais triste ainda foi ver mulheres envolvidas na cantoria e mais ainda, perceber que ninguém se sentiu incomodado”, diz Luísa ao ler o protesto.

Mas o incômodo se espalhou entre os alunos depois da postagem de Luísa, que cursa o mestrado de Direito da UFMG. Em nota, a Bateria Engrenada afirma ‘lamentar profundamente’ o episódio. Diz que ‘não ignora o ocorrido e que está apurando’ o caso.

A universidade afirma que espera mais informações para abrir um processo administrativo. “Nós esperamos que os alunos, que supostamente estão envolvidos nesse episódio, nos apresentem um relato do que de fato aconteceu”, afirma Sandra Goulart Almeida, vice-reitora da UFMG.

O assunto estupro em universidades também ganhou força nas últimas semanas nos Estados Unidos, como mostra a repórter Renata Ceribelli.

Os casos de estupro e agressão sexual dentro dos campus das universidades viraram assunto de Estado. O Departamento de Educação dos Estados Unidos, a pedido do presidente Barack Obama, está investigando 78 universidades suspeitas de ignorar denúncias feitas por estudantes.

Uma delas virou símbolo dessa luta, e estuda na Universidade Columbia, uma das mais importantes do país. Emma diz que foi estuprada por um colega no quarto da universidade. Ela denunciou o caso à direção, que considerou o estudante inocente. Para protestar, Emma agora só anda pelo campus da universidade carregando o colchão onde teria acontecido a agressão.

“Eu vou levar o colchão comigo enquanto eu frequentar o mesmo campus que o meu estuprador”, conta a estudante.

Um relatório divulgado pelo governo americano mostra que uma em cada cinco mulheres sofreu abuso sexual na faculdade.

Depois da repercussão da história de Emma na imprensa, a Columbia agora obriga os alunos ouvir palestras sobre violência contra as mulheres. O brasileiro Guilherme, estudante de Direito, participou de uma delas. “Não é só porque está em silêncio, um não, um não meio assim, a menina está um pouco bêbada, significa que você pode fazer o que você quiser. Então eles entraram bem a fundo, educação mesmo”, explica Guilherme de Aguiar Franco, estudante.

Emma e outros estudantes montaram um grupo para ajudar outras vítimas de violência no campus. Uma iniciativa que também está acontecendo no Brasil, onde esses grupos são conhecidos como ‘coletivos’.

Um deles é o Coletivo Feminista Gení, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a USP. “Como nunca foi construída na faculdade essa cultura de acolhimento das vítimas, muitas vítimas também não se sentiam à vontade para falar sobre uma violência que elas tinham sofrido”, conta Ana Luísa Cunha, estudante de medicina da USP.

O grupo foi criado no final do ano passado, a partir da denúncia feita por uma estudante. O abuso, segundo ela, aconteceu em uma festa dentro da USP no em novembro de 2013. “Bebi bastante. Eu não estava inconsciente. Eu estava consciente. E aí dois meninos chegaram em mim e tentaram me convencer para ir no estacionamento com eles. E eu falava, não quero. E ele falava: ‘Você quer sim, eu sei que você quer. Eu sei que você gosta’”, lembra a jovem.

Ela diz que estava tonta por causa da bebida e que não conseguiu resistir. “Eles me beijaram, enfiaram a mão dentro da minha calça. Passavam a mão, tudo. Por dentro da roupa. E eu lembro nitidamente na hora que eu estava gritando que não queria e um deles ficou bravo, falou assim: ‘Para de gritar! Para de gritar!’”, conta.

A estudante escapou quando uma colega apareceu. “Ela viu que estava estranho, veio ver o que aconteceu e me chamou. Nisso que ela me chamou eu consegui sair”, afirma.

Quatro dias depois, ela foi aconselhada por amigas e por um professor a fazer um boletim de ocorrência na polícia. E, com ajuda do coletivo, a aluna levou o relato até a direção da faculdade.

“A partir da pressão que a gente fez, foi criada uma comissão para apurar questões de violência dentro da faculdade, entre elas violência contra a mulher”, conta Marina Souza Pickman, estudante de Medicina da USP.

Uma sindicância interna foi aberta em junho deste ano, seis meses depois da denúncia. A investigação está sob sigilo. Em nota, a Faculdade de Medicina da USP afirma que está ‘empenhada em aprimorar seus mecanismos de prevenção de casos de violência’. Diz também que ‘irá adotar punições disciplinares de acordo com o código de ética da USP’.

Fantástico: Eles têm culpa?
Vítima: Têm culpa.
Fantástico: E você se sente culpada?
Vítima: Eu já me senti culpada. Hoje eu não me sinto mais.

“Ninguém tem direito sobre o corpo do outro. Não é? Quer dizer, as meninas podem beber até cair, porque elas bebem ou porque os outros, algum outro fez com que ela bebesse, mas isso não quer dizer que o corpo dela esteja a disposição de ninguém”, afirma Miriam Abramovay, socióloga.

Não existem estatísticas sobre agressões sexuais em universidades brasileiras. Mas os casos se repetem por todo o país: Acre, Bahia, Espírito Santo, Paraíba, Piauí, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio Grande do Sul, São Paulo. Agressões cometidas pelos próprios estudantes e por pessoas de fora da universidade, que entram nos campus por falta de segurança.

“A universidade é responsável também. E ela tem que pensar estratégias de combate para todo tipo de violência”, afirma a socióloga.

É a insegurança e a falta de respeito às mulheres que os coletivos combatem em diversos estados. No Coletivo Iara, da Universidade Federal do Paraná, alunas conseguiram fazer com que a bateria do curso de Direito parasse de cantar músicas machistas na recepção aos calouros.

“A partir do momento que a bateria canta isso e isso gera um coro, isso também afeta diretamente as mulheres. Só uma reiteração realmente da violência que ocorre na universidade”, diz Barbara Cunha, estudante de Direito da UFPR.

Enquanto os autores do refrão ‘não é estupro, é sexo surpresa’ não são identificados e punidos, a Banda Feminista da Universidade Federal de Minas Gerais dá a resposta: canta contra o preconceito. “Eles me disseram algo que me deu tristeza, que estupro na verdade é sexo surpresa. Dá uma olhada nisso, é de se indignar. Isso é cultura do estupro e contra isso eu vou lutar. Fora machismo”, cantam as meninas da banda.

sábado, 27 de setembro de 2014

CAMPUS SEM LEI

REVISTA ISTO É N° Edição: 2340 | 26.Set.14


Série de crimes tendo como palco a Universidade de São Paulo expõe o clima de violência e insegurança a que estão expostas as 100 mil pessoas que frequentam diariamente a maior instituição de ensino do País




Mais uma suspeita de crime tendo como cenário a Universidade de São Paulo (USP), na zona oeste da capital paulista, na semana passada, jogou luz sobre o espantoso aumento da violência e a insegurança reinante no campus da maior instituição de ensino superior do País. Neste ano, o número de roubos no campus Butantã, o principal da USP, mais que dobrou. De janeiro a agosto deste ano foram registradas 70 ocorrências pela Guarda Universitária, responsável pela segurança do local, contra 30 em 2013. Em três delegacias vizinhas, onde muitos dos crimes podem ter sido notificados, foram 42 estupros só até o mês passado. Em 2013, esse número foi de 40. Índices de roubos, furtos e assaltos também tiveram crescimento semelhante. Na tragédia mais recente, o corpo do estudante Victor Hugo Marques Santos, de 20 anos, foi achado na raia olímpica na terça-feira 23. O jovem estava desaparecido desde a madrugada de sábado 20, quando participou de uma festa para 5 mil pessoas organizada pelo Grêmio da Escola Politécnica no velódromo do clube do campus, o Cepeusp. “Frequento festas lá e vi situações iguais várias vezes. Assaltos, estupros, sequestros. A USP é uma terra de ninguém”, diz Vinícius Costa, 33, primo de Victor Hugo, que estudava design no Senac. O episódio escancarou as falhas de segurança do campus, a começar pelo corpo policial, 40 homens com a missão de zelar por uma população de 100 mil pessoas.



Já há algum tempo as ruas arborizadas da Cidade Universitária são locais perigosos. Recentemente uma série de mortes vem chocando os membros da universidade líder em pesquisas no País. O mais rumoroso aconteceu em 2011, quando o estudante de ciências atuariais Felipe Ramos de Paiva, 24 anos, foi morto com um tiro na cabeça numa tentativa de assalto no estacionamento da FEA, a Faculdade de Economia e Administração da USP (veja outros casos na pág. 60). A principal queixa de alunos, professores e funcionários é a falta de iluminação, que deixa uma grande parte das ruas do campus vazia e escura à noite. “As novas luzes no estacionamento da FEA ficaram ótimas, mas parou por aí. Quando preciso pegar ônibus ou caminhar até outra unidade para pegar o carro, eu sinto medo”, diz Larissa Andreotte Carvalho, que está no terceiro ano do curso de administração de empresas. As novas lâmpadas a que ela se refere fazem parte de um projeto iniciado no ano passado, quando a USP passou a substituir antigas luminárias por novas, de LED. “Essas luzes podem ser reguladas com o anoitecer e acentuadas nos locais onde forem registradas ocorrências, mas a instalação não terminou porque é necessária uma central de monitoramento, que hoje não existe”, afirma Ana Pastore, superintendente de segurança na Cidade Universitária e responsável pela Guarda. Também não há câmeras em vários pontos do campus e as que existem somente registram em tempo real, não gravam.



Outro fator de risco para as 100 mil pessoas que passam pelo campus Butantã diariamente é a discussão sobre quem é o maior responsável pela segurança no local. Setores da universidade defendem que a Polícia Militar seja proibida de entrar ali para não reprimir manifestações de trabalhadores e estudantes. Em 2011, na esteira do escândalo causado pelo assassinato no estacionamento, a USP fechou um convênio com a PM para aumentar a segurança no local, mas, após conflitos causados por protestos contra a detenção de três estudantes que fumavam maconha na faculdade, a presença dos policiais diminuiu bastante. Hoje, a corporação faz rondas esporádicas e possui uma Base Comunitária Móvel. Ana Pastore admite que o fraco efetivo da Guarda Universitária (que conta com apenas 40 homens, divididos em turnos de não mais de 15 pessoas) não consegue patrulhar o campus sozinho, mas gostaria que a PM só entrasse ali em casos críticos, como o de sequestros e roubos a bancos. Coronel reformado da PM e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, José Vicente da Silva Filho discorda. “Esse pensamento é uma tolice que expõe a todos que frequentam a USP. A Guarda Universitária é insuficiente porque é patrimonial, não tem poder de polícia.”



Na esteira da tragédia com Victor Hugo, a universidade também começou a tomar medidas para controlar as festas no campus. O Cepeusp desmarcou dois eventos já agendados e suspendeu temporariamente a realização de festas no velódromo. O diretor da Escola Politécnica também proibiu confraternizações na faculdade, declarando que alunos têm que estudar, e não “encher a cara”. Um grupo de trabalho que discutia se festas deveriam ou não ser permitidas na Cidade Universitária vai pedir que todos os diretores de unidades se posicionem. De acordo com Ana Pastore, a Cidade Universitária não tem estrutura para receber festas de grande porte e só eventos menores deveriam ser autorizados. Secretário-geral da Associação dos Docentes (Adusp), Francisco Miraglia afirma que a proibição é uma medida ineficaz porque em universidades de outros países as festas são realizadas rotineiramente. “Proibir é tratar o sintoma em vez de cuidar da causa”, afirma.



Enquanto a instituição debate a ineficácia de seu sistema de segurança, a morte de Victor Hugo Marques Santos continua envolta em mistério. Não se sabe o que aconteceu depois das 5h da manhã do sábado 20, quando ele disse a amigos que iria comprar uma cerveja e não foi mais visto. A polícia suspeita que ele tenha sido assassinado e arrastado até a raia olímpica, pois havia escoriações no lado esquerdo do rosto. Também foi observado que o estudante não apresentava sinais de afogamento. O fato de dezenas de frequentadores da raia não terem visto o cadáver até terça-feira 23 reforça a desconfiança de que ele foi jogado ali três dias depois. Os investigadores, no entanto, não descartam a hipótese de suicídio e morte acidental porque as lesões encontradas não são compatíveis com feridas fatais. Além disso, um membro da Guarda Universitária relatou que amigos do jovem disseram que ele havia bebido e consumido LSD naquela noite. Os policiais também vão apurar se o homem retirado do velódromo por seguranças contratados pelo Grêmio da Poli era Victor Hugo. O laudo sobre o que causou a morte deve sair em um mês.



Fotos: Marcos Bezerra/Folhapress; Zanone Fraissat/Folhapress; Robson Ventura; Renato S. Cerqueira/Futura Press; Tião Moreira; Leonardo Soares/UOL

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

ESTUDANTES DA UFRGS LANÇAM MAPA SOBRE SEGURANÇA

ZH 11/09/2014 | 18h00

Ferramenta foi inspirada em iniciativa da Universidade de Brasília

por Eduardo Rosa



Mapa começou a funcionar nesta semanaFoto: DCE UFRGS / Reprodução


O Diretório Central de Estudantes da UFRGS desenvolveu um mapa colaborativo que compila relatos de crimes ocorridos no entorno do Campus Centro, em Porto Alegre. A ferramenta, inspirada em iniciativa da Universidade de Brasília (UnB), começou a ser utilizada nesta semana.

Por meio do site do DCE, é possível preencher um formulário com tipo de crime (como roubo, furto e tráfico de drogas), data, horário e descrição do fato. As informações são enviadas ao diretório, que faz as marcações no mapa propriamente dito. Até o final da tarde desta quinta-feira, havia 88 relatos listados.

— Procuramos uma plataforma que se adequasse às necessidades. É a mesma usada pela UnB e não tem custo — afirma Vítor Neves da Fontoura, diretor jurídico do DCE.

Conforme Fontoura, as informações passam pelo crivo da diretoria para que o sistema não seja burlado. Além de serem repassados à universidade e à Brigada Militar, os dados devem servir para alertar os alunos que circulam pela região.

— A ideia é fazer campanhas nas zonas mais perigosas. Certas coisas comportamentais podem mudar — relata o diretor jurídico, dando como exemplo a colocação de cartazes indicando locais e horários mais críticos.

A Brigada Militar vê o mapa como auxilio ao trabalho da corporação. O comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM), major Francisco Vieira, conta que a ideia surgiu em uma conversa com um grupo de alunas da Faculdade de Direito que o procurou.

— Foi uma ideia conjunta das estudantes. Da reunião, saíram várias ideias para eu planejar o meu policiamento. Eu faço o planejamento em cima das demandas — avalia, positivamente, o comandante.

Na Unb, o mapa foi lançado há cerca de um ano e meio e, agora, está desativado para reformulação. Um dos coordenadores-gerais do DCE Honestino Guimarães, Caio Oliveira define como satisfatório o resultado do trabalho.

— A partir do mapa, a gente começou a apresentar à prefeitura do campus dados exatos de onde vieram os maiores problemas. Foi gerado um relatório com o número de ocorrências e os locais — relata Oliveira, acrescentando que o número de crimes diminuiu após mudança na ação das autoridades.

Antes do mapa, a página no Facebook

O grupo de alunas ao qual o major se refere criou, há mais de um mês, uma página no Facebook reunindo casos de assaltos e outros crimes sofridos por universitários. A iniciativa das jovens se somou a um abaixo-assinado com cerca de mil assinaturas para demonstrar clamor público.

Na página Ocorrências — Campus Centro UFRGS, vítimas passaram a enviar relatos, que são repassados à BM por WhatsApp. O resultado da parceria foi a intensificação do policiamento na região e o aumento no número de prisões, conforme a 3ª Companhia do 9º BPM. A ideia é que essas informações integrem o mapa também.

A Coordenadoria de Segurança da UFRGS vê com bons olhos a iniciativa, mas ressalta que ela não substitui o registro nos órgãos oficiais. No portal do aluno e do servidor, também há um espaço para que os casos sejam informados.

Mesmo que haja um mapeamento paralelo às estatísticas da Secretaria da Segurança Pública (SSP), as vítimas de assalto e outros crimes devem registrar ocorrência policial. A medida é importante para formular estratégias de prevenção, investigação e repressão ao crime por parte dos órgãos de segurança.


*Zero Hora

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

UNIVERSITÁRIO CRIARÃO MAPA DA VIOLÊNCIA NO ENTORNO DA UFRGS

DIÁRIO GAÚCHO 04/09/2014 | 18h34

Levantamento será feito com base em relatos de alunos vítimas de crimes



Iniciativa deve começar pelo Campus CentroFoto: Félix Zucco / Agencia RBS


Eduardo Rosa



A preocupação com crimes no entorno da UFRGS motivou a elaboração de um levantamento de ocorrências cujas vítimas são alunos. O Diretório Central de Estudantes (DCE) trabalha na criação de um mapa compilando relatos de violência nos campi Centro e do Vale e suas imediações. A ideia é que sirva não apenas como alerta, mas embase ações preventivas.

— Os dados serão levados à Coordenadoria de Segurança da UFRGS e à Brigada Militar. Estamos fazendo o estudo da plataforma — afirma Vítor Neves da Fontoura, diretor jurídico do DCE, citando como exemplo uma iniciativa semelhante da Universidade de Brasília (UnB).

O mapa deve começar pelo Campus Centro, onde um grupo de alunas da Faculdade de Direito criou uma página no Facebook, há cerca de um mês, reunindo casos de assaltos e outros crimes sofridos por universitários, que devem servir como base. A iniciativa das jovens surgiu após contato com o 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM), responsável pela região, e se somou a um abaixo-assinado com cerca de mil assinaturas para demonstrar clamor público. Na página Ocorrências — Campus Centro UFRGS, as vítimas enviam relatos, que são repassados à Brigada Militar por WhatsApp.

— As pessoas nos mandam por mensagem privada. Recebemos cerca de quatro por dia. Também publicamos alertas — conta Lara Amaro, uma das acadêmicas de Direito que administram a página.


O resultado da parceria foi a intensificação do policiamento na região e o aumento no número de prisões, conforme o comandante da 3ª Companhia do 9º BPM, major Julio Cesar de Ávila Peres.

— Conversamos com os estudantes e vimos os pontos prioritários de policiamento. Eles nos passam informações que facilitam o trabalho — afirma o oficial.

O coordenador de Segurança da UFRGS, Daniel Pereira, salienta:

— A iniciativa é válida, demonstra a indignação das pessoas. Mas seria importante que elas registrassem ocorrência através dos órgãos oficiais, que é o que gera demanda. No portal do aluno e do servidor, disponibilizamos um espaço para fazer registro dos episódios. A universidade tem interesse em saber o que está acontecendo.

O levantamento feito por alunos não chega a ser uma ação inédita na UFRGS. No ano passado, estudantes eram convidados a responder na internet questões como de qual crime foram vítimas, o horário e se foi registrada ocorrência.

— Como comentavam bastante nas redes sociais assaltos e tentativas perto da Engenharia, resolvemos criar uma planilha de respostas, com um levantamento estatístico, para que fossem tomadas as medidas cabíveis — conta William Dutra, diretor financeiro do Centro de Estudantes Universitários de Engenharia (Ceue).

O mapa em estudo pelo DCE ainda não tem previsão de ser lançado.

Promotor de Justiça ressalta importância do registro policial

Mesmo que haja um mapeamento paralelo às estatísticas oficiais, as vítimas de assalto e outros crimes devem registrar ocorrência policial. O promotor de Justiça João Pedro de Freitas Xavier, coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal do Ministério Público, explica que os dados são fundamentais para formulação de estratégias de prevenção, investigação e repressão ao crime.

— Existe uma cifra negra de casos não registrados. É importante que a população atingida pela criminalidade procure as autoridades e que o B.O. tenha a maior fidelidade possível, juntando o máximo de informações, como local exato da ocorrência, horário, possíveis testemunhas, características do suspeito etc. Com isso, é possível a identificação e correção de fragilidades, aperfeiçoando-se a persecução penal, viabilizando, ainda, o encaminhamento de outras medidas simples, como melhoria na iluminação pública e poda de árvores — ressalta o promotor. — A impunidade começa no momento que nós, vítimas ou testemunhas, nos omitimos — acrescenta.


Universidade de Brasília (UnB) conta com mapa sobre segurança


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

ESTUDANTES SE QUEIXAM DA FALTA DE SEGURANÇA EM CAMPUS DA UFRGS



ZERO HORA 03/09/2014 | 06h06

Roubos em universidade. Estudantes se queixam de falta de segurança no Campus do Vale, na zona leste de Porto Alegre. Presidente do DCE da UFRGS afirma que recebe reclamações quase diárias de roubos a alunos, enquanto o coordenador de segurança da UFRGS relata ter registro de apenas três casos de assaltos no campus neste ano



por José Luís Costa



Estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) reclamam de insegurança no Campus do Vale, na zona leste de Porto Alegre. Casos de assaltos naquela região são recorrentes, e o mais recente relato, que gerou manifestações de alerta em redes sociais, refere-se a um roubo coletivo de alunos que estavam em uma fila de ônibus em plena tarde de sol.

O bandido, armado com um revólver, teria atacado cinco jovens e levado celulares de todos, segundo versão de uma vítima.

– Ele só queria o celular – afirma um estudante que pediu para ter o nome preservado.

Conforme o jovem, o assalto ocorreu por volta das 13h, em um momento que o ladrão teria se aproveitado da ausência de um vigilante no terminal de ônibus – a área do Campus do Vale é território federal e guarnecida por segurança privada, contratada pela UFRGS. O assaltante teria um comparsa com uma lágrima tatuada no rosto – característica de uma quadrilha de Viamão, cuja marca significaria um homicídio que o sujeito teria cometido.

Lucas Herbert Jones, presidente do Diretório Central de Estudantes da UFRGS, afirma receber queixa quase diariamente de roubos a estudantes.

– A sensação de insegurança é grande. Os estudantes estão à mercê dos assaltantes. O foco é a segurança patrimonial e não as pessoas – reclama Jones, que afirma estar cobrando providências da universidade.

Canais na internet

Para mapear com mais exatidão crimes sofridos por estudantes, professores e servidores da UFRGS, foram criados dois canais de comunicação pela internet, no qual as vítimas relatam o ocorrido para posterior cobrança das forças de segurança.

Os canais são Ocorrências – Campus Centro UFRGS (www.facebook.com/ufrgs.seguro) e outro, Segurança UFRGS Comunidade (www.facebook.com/ocorrenciasufrgs).

Pedido de mais policiais foi encaminhado à BM

A 15ª Delegacia da Polícia Civil, responsável por investigar crimes naquela região, não dispõe de estatística específica de roubos no campus.

O coordenador de Segurança da UFRGS, Daniel Pereira, afirma ter registro de somente três casos de assaltos no Campus do Vale em 2014, sendo o último na segunda-feira, com duas vítimas. Pereira acrescenta que a troca de segurança privada, ocorrida recentemente, não tem influência nos índices de crimes.

Pereira lembra que os vigilantes trabalham armados, protegendo tanto o patrimônio quanto a comunidade universitária. O coordenador de segurança afirma que, quando é preciso, recorre à Brigada Militar, o que ainda não teria ocorrido neste ano.

– A UFRGS sempre pensa em segurança máxima, mas não estamos imunes 100%. O índice de problemas aqui é mínimo – garante Pereira.

O coordenador diz que a situação é mais grave no entorno do Campus Centro (próximo à Avenida Osvaldo Aranha) e no Campus Saúde (arredores da Rua Ramiro Barcelos) onde, em 2014, houve registro de 18 assaltos a estudantes. Um ofício foi encaminhado à Brigada Militar pedindo mais policiamento na região.

– Recebi o documento (segunda-feira) e de imediato determinei ações ostensivas e de inteligência para reprimir os roubos – assegura o major Francisco Vieira, comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar.